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P. Manuel Barbosa, scj
Vamos sonhar juntos

1. «Vamos sonhar juntos. O caminho para um futuro melhor». É o título do mais recente escrito do Papa Francisco, composto de três partes: tempo de ver, tempo de escolher e tempo de agir. Uma intensa meditação para este gravíssimo tempo de pandemia.

Perante crise tão extrema, o sonho só pode ser infinito; um sonho diurno, ativo, de quem procura concretizar, e não um sonho diurno, passivo, de quem se fica pelo imaginário; sonhar juntos, como povo, e não sonhar individualmente, cada um encerrado no seu mundo de indiferença aos outros; sonhar com confiança e esperança, nunca em desespero e derrotismo, por mais difícil que seja a situação.

Fico-me por algumas referências do prólogo do livro, que assim começa: «Vejo este momento como a hora da verdade. Faz-me lembrar o que Jesus disse a Pedro: “Satanás quer joeirar-vos como o trigo” (Lc 22,31). Entrar em crise significa ser joeirado. É um momento em que tanto os nossos parâmetros como as nossas formas de pensar são sacudidos e as nossas prioridades e os nossos estilos de vida são postos em questão. Cruzamos um limiar, seja por decisão própria, seja por necessidade, porque há crises, como a que estamos a atravessar, que não podemos evitar».

Vamos sair desta crise e, nesse caso, de que modo? Melhores ou piores, mas nunca iguais. Há que sonhar e concretizar um mundo novo, seguindo em frente, olhando a situação concreta e vencendo a tentação do recuo. A parábola do Bom Samaritano é sempre forte provocação para tomar opções. Face ao homem ferido e golpeado pelos ladrões, o levita e o sacerdote escolhem a retirada funcional, recuando aos seus estilos de vida em nada significativos: «tratam de preservar o seu lugar – o seu papel, o seu status quo – diante de uma crise que os põe à prova». Uma crise exige que todo o nosso ser, corpo e coração estejam presentes, sem qualquer recuo, tal como fez o Samaritano: «detém-se, aproxima-se, age, entra no mundo do homem ferido, coloca-se na situação, no sofrimento do outro, e assim cria um futuro novo».

Termino estas alusões ainda com palavras do Papa: «Este é o momento para sonhar grande, para repensar as nossas prioridades – o que valorizamos, o que queremos, o que buscamos –, para nos comprometermos com as pequenas coisas e para transformar em realidade o que sonhamos. O que ouço neste momento é semelhante ao que Isaías ouviu Deus dizer: “Vinde agora, entendamo-nos… Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra; se recusardes, se vos revoltardes, sereis devorados pela espada”. Atrevamo-nos a sonhar».

 

2. O mesmo lema do sonhar juntos como caminho para um futuro melhor pode inspirar a Semana do Consagrado que estamos a viver de 26 de janeiro a 2 de fevereiro; um sonho de felicidade e fidelidade, de fraternidade e doação.

Não faltam crises e abandonos entre os membros da vida consagrada. Também os consagrados e consagradas são fortemente atingidos pela grave pandemia: inúmeros mortos e confinados, sobretudo os mais idosos, muitas comunidades religiosas completamente isoladas ou diminuídas. Ao mesmo tempo, continua imensa a dedicação e doação dos consagrados a quem mais precisa de conforto e proximidade, sobretudo nas periferias humanas e existenciais, onde felizmente marcam presença ativa.

Todos estamos no mesmo barco, nas tempestades críticas e nos sonhos concretizáveis. Assim nos indicam os responsáveis da Santa Sé para a Vida Consagrada: «“Sonhemos como uma só humanidade, como viajantes feitos da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos acolhe a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a sua voz, mas todos irmãos!” (Fratelli tutti 8). Então, no horizonte deste sonho entregue às nossas mãos, à nossa paixão, à nossa perseverança, o próximo dia 2 de fevereiro será, também neste ano, uma bela festa para louvar e agradecer ao Senhor pelo dom da nossa vocação e missão!»

Sonhemos juntos, com olhar solidário e coração fraterno! É o único caminho para um futuro melhor!