Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
12 sinais da Igreja sinodal

Temos nos ouvidos, nos olhos e no coração as belíssimas imagens da JMJ Lisboa 2023 e as intensas mensagens que o Papa Francisco nos deixou. Estas provocações podem contribuir para assumirmos a renovação das nossas vidas e comunidades cristãs e missionárias em vista de uma Igreja verdadeiramente sinodal.

Esses ecos da JMJ, que importa revisitar, podem ser entrelaçados com os 12 sinais característicos de uma Igreja sinodal, que são apontados no documento de trabalho para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (de 4 a 29 de outubro próximo). Elenco apenas o enunciado dessas características de uma Igreja sinodal:

  • Uma Igreja sinodal que se funda no reconhecimento da dignidade comum derivada do Batismo, que torna todos os que o recebem filhos e filhas de Deus, membros da família de Deus e irmãos e irmãs em Cristo, habitados pelo único Espírito e enviados para cumprir uma missão comum.
  • Uma Igreja que também seja cada vez mais sinodal nas suas instituições, estruturas e procedimentos.
  • Uma Igreja que escuta, na escuta do Espírito e na escuta uns dos outros.
  • Uma Igreja que deseja ser humilde e sabe que deve pedir perdão e que tem muito a aprender.
  • Uma Igreja do encontro e do diálogo.
  • Uma Igreja que não tem medo da variedade que comporta, mas a valoriza sem forçá-la à uniformidade, uma Igreja que promove a passagem do “eu” para o “nós”.
  • Uma Igreja aberta e acolhedora, atraente e concreta, uma Igreja em saída e que abraça a todos.
  • Uma Igreja que confronta, honesta e destemidamente, o chamamento para uma compreensão mais profunda da relação entre o amor e a verdade.
  • Uma Igreja capaz de administrar as tensões sem ser esmagada por elas.
  • Uma Igreja que tenta e promove o caminhar juntos em contacto com a saudável inquietação da incompletude, que enfrenta as questões com escuta e atenção, sem pressa de oferecer soluções imediatas.
  • Uma Igreja que se nutre incessantemente na fonte do mistério que celebra na liturgia, em particular na Eucaristia.
  • Uma Igreja do discernimento, na riqueza de significados que esse termo assume dentro das diferentes tradições espirituais, no compromisso e na esperança de nos tornarmos uma Igreja cada vez mais capaz de tomar decisões proféticas que sejam fruto da orientação do Espírito.

Entrelaçar estes sinais com as mensagens do Papa Francisco durante a JMJ Lisboa 2023 no início de agosto contribui certamente para renovar o que somos e fazemos como Igreja. Transcrevo apenas algumas dessas interpelações proclamadas nos vários encontros que acontecerem:

  • “Que a Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Todos, cada um com a sua vida às costas, com os seus pecados, assim como é diante de Deus, como é diante da vida... Todos. Todos. Não levantemos alfândegas na Igreja. Todos.”
  • “Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamamento. Fomos chamados, porquê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados. É belo!”
  • “Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós: os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus!”
  • “A Capelinha [das Aparições em Fátima] onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja: acolhedora, sem portas. A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar.”
  • “A alegria é missionária, a alegria não é para ficar numa pessoa, mas para levar alguma coisa.”

Vale a pena revisitar o que se viveu e anunciou na JMJ em íntima ligação com o documento de trabalho da próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. Não desperdicemos a ocasião!

 

P. Manuel Barbosa, scj
foto por JMJ Lisboa 2023