Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Viver em estilo sinodal

Escrevo estas notas de Roma, onde me encontro a representar a Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) no nosso Capítulo Geral. Somos 77 participantes oriundos dos 42 países onde está presente a Congregação. Aproveito este acontecimento para salientar uma vez mais a essencial dimensão sinodal da Igreja e da vida consagrada. Nunca é demais apelar a este dinamismo fundamental que o Concílio Ecuménico Vaticano II veio reforçar.

A Igreja é sinodal: um princípio que deveria estar sempre em prática. Nesse permanente processo de auscultação, discernimento e decisão que envolve a vida de todos os seus membros e instituições, a Igreja realiza de vez em quando assembleias sinodais: os sínodos dos bispos a nível universal e continental; os sínodos diocesanos a nível local. Mas importa reiterar que esses momentos nunca são atos isolados, mas inserem-se no permanente dinamismo sinodal da Igreja, são ponto de partida e de chegada, daí a importância da preparação e da receção das decisões sinodais, assumidas pelo Papa ou pelos Bispos tendo em conta as propostas dos participantes nessas assembleias. O facto de estas serem consultivas e não deliberativas não lhes retira relevância, dada a envolvência de todos os membros e organismos eclesiais neste processo permanente.

A máxima realização da sinodalidade da Igreja é o Concílio, cujas orientações, por ser deliberativo, são decisivas para toda a Igreja. Como sabemos, o último Concílio, Vaticano II, durou quatro anos e terminou há 53 anos. Há quem anseie por um novo Concílio. Na minha modesta opinião, ainda há muito a reavivar e a aplicar do que o Espírito Santo soprou nessa assembleia conciliar. O dinamismo sinodal exige que se continue a assumir o que foi decidido no Concílio Vaticano II, que Paulo VI, que felizmente será canonizado em outubro próximo pelo Papa Francisco, levou a bom termo quer na conclusão do Concílio após a morte de São João XXIII quer na sua decisiva receção.

As decisões dogmáticas e pastorais do Concílio assim como as propostas das várias assembleias dos sínodos dos bispos sintonizam com o dinamismo sinodal da Igreja, contrariando alguns desejos de fundamentalismos que bebem de saudosismos “pré-conciliares” ou mesmo anti-conciliares.

Dois exemplos atuais concretizam a realidade sinodal da Igreja: a próxima assembleia dos bispos sobre a fé, os jovens e o discernimento vocacional, em fase de intensa preparação, e o sínodo da nossa diocese de Lisboa, em fase de criativa receção.

O mesmo ritmo sinodal da Igreja acontece nos institutos religiosos, a nível local nas comunidades, regiões e províncias e, a nível universal, nos capítulos gerais. São expressão da sinodalidade constante de todos os institutos. Trago hoje à liça esta dimensão sinodal, pois nestes tempos de verão realizam-se variadas assembleias e Capítulos em grande parte das congregações e institutos religiosos. Longe de serem tempos de descanso, são tempos de auscultação, participação, discernimento e decisão para a sua vida quotidiana.

Apenas como exemplo, refiro o que exprimiu o meu Superior Geral logo no início dos trabalhos no dia 14: «Convido os capitulares a deixarem-se surpreender por Deus, inspirando-se em tantos homens e mulheres de que fala abundantemente a Bíblia. O Capítulo é um momento de encontro e de comunhão. Mas ele é antes de mais um acontecimento eclesial que exige que seja vivido em estilo sinodal, percorrendo um método que ajude a escutar o Espírito e a assumir decisões com confiança, franqueza e coragem».

Vem a propósito a importância de recuperar sempre o início da conclusão da primeira assembleia ou concílio da Igreja em Jerusalém: «o Espírito Santo e nós decidimos…». É sempre o Espírito Santo que tem a primazia daquilo que assumimos sinodalmente na Igreja, onde se encontra também a forma de vida consagrada. A nós cabe-nos apenas, diante das realidades que nos envolvem, discernir quais os sinais dos tempos ou dos ventos, que afinal só podem ser os sinais do Espírito.