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P. Manuel Barbosa, scj
Eutanásia e Ano Missionário

De tantos acontecimentos ocorridos nestes dias finais de maio destaco, em primeiro lugar, o recente encontro inter-religioso Religiões-Saúde, que culminou com a assinatura de uma Declaração comum das várias confissões religiosas «Cuidar até ao fim com compaixão», e que pode ser considerado um momento histórico na defesa da vida humana contra a eutanásia ou morte assistida e todas as formas que não respeitam a dignidade humana.

Três afirmações marcam esta Declaração: a dignidade daquele que sofre; por uma sociedade misericordiosa e compassiva; a exigência inadiável dos cuidados paliativos. Transcrevo o incisivo parágrafo final da Declaração: «Nós, comunidades religiosas presentes em Portugal, acreditamos que a vida humana é inviolável até à morte natural e perfilhamos um modelo compassivo de sociedade e, por estas razões, em nome da humanidade e do futuro da comunidade humana, causa da religião, nos sentimos chamados a intervir no presente debate sobre a morte assistida, manifestando a nossa oposição à sua legalização em qualquer das suas formas, seja o suicídio assistido, seja a eutanásia».

A Declaração foi assinada pelos mais altos representantes das comunidades religiosas presentes em Portugal: Aliança Evangélica Portuguesa, Comunidade Hindu de Portugal, Comunidade Islâmica de Lisboa, Igreja Católica, Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, União Budista Portuguesa, União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia. O Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, assinou pela Igreja Católica.

Oxalá que esta e tantas outras iniciativas da sociedade civil e das confissões religiosas concorram para uma tomada de consciência da defesa intransigente da vida humana por parte de todos os cidadãos e dos governantes e legisladores. Os processos legislativos em curso a favor da legalização da eutanásia são atentados à inviolabilidade da vida humana que deve ser sempre e totalmente defendida.

Um segundo destaque vai para o Ano Missionário em todas as nossas Dioceses, anunciado pelos nossos Bispos em Nota Pastoral divulgada na Solenidade do Pentecostes, que vai decorrer de outubro de 2018 a outubro de 2019. Este último mês coincide com o Mês Missionário Extraordinário declarado pelo Papa Francisco para toda a Igreja, para assinalar o centenário da Carta Apostólica Maximum Illud do Papa Bento XV. Como afirmava o comunicado da última Assembleia dos Bispos, com esta decisão pretende-se que «a dimensão missionária esteja subjacente às iniciativas pastorais diocesanas e nacionais ao longo do Ano Missionário, que será vivido no encontro com Jesus Cristo na Igreja, na liturgia, no testemunho dos santos e mártires da missão, na formação bíblica, catequética, espiritual e teológica, e na caridade missionária». Uma missão total que deve envolver Todos, Tudo e Sempre!

Esta iniciativa será certamente um forte incentivo no processo de receção sinodal na Diocese de Lisboa. Em particular o que é dito na Nota Pastoral citando a recente Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a Santidade Gaudete et Exsultate: «Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária».

Em último mas significativo realce, gostaria de expressar a grande alegria pela escolha de D. António Marto como Cardeal, sinal de uma comunhão mais intensa da Igreja em Portugal, e em particular de Fátima na sua mensagem eminentemente evangélica, com o Bispo de Roma e a Igreja Universal. Com ele será também Cardeal o padre claretiano espanhol Aquilino Bocos Merino, que muito tem apoiado os institutos religiosos em Portugal.

Que estes e tantos outros acontecimentos quotidianamente vividos nas nossas famílias e comunidades contribuam para uma Igreja mais santa e missionária, sob o terno olhar e a preciosa intercessão da Mãe de Deus e nossa Mãe!