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P. Manuel Barbosa, scj
Economia ao serviço da missão

«Devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata… O dinheiro deve servir e não governar» (EG 53.58). Esta citação do Papa Francisco vem a propósito de um recente documento da Santa Sé dirigido particularmente aos institutos de vida consagrada e às sociedades de vida apostólica, intitulado «Economia ao serviço do carisma e da missão». Inspira-se na primeira Carta de Pedro: «Cada um de vós ponha ao serviço dos outros os dons que recebeu, como bons administradores da multiforme graça de Deus» (4,10).

Na procura da boa administração dos carismas recebidos do Espírito, estas Orientações convidam a prosseguir num caminho de reflexão eclesial sobre os bens e sua gestão, explicitando normas canónicas sobre os bens temporais e sugerindo instrumentos de planificação e programação inerentes à gestão das obras, e a repensar a economia na fidelidade ao carisma. Só assim, no dizer do Santo Padre, podemos ser «também hoje, para a Igreja e para o mundo, vanguardas da atenção a todos os pobres e a todas as formas de miséria, material, moral e espiritual, como superação de qualquer egoísmo na lógica do Evangelho, que ensina a confiar na Providência de Deus».

Os quatro capítulos incidem na memória viva de Cristo pobre, no carisma e missão sob o olhar de Deus, na íntima ligação entre a dimensão económica e a missão, e nalgumas indicações operativas. Mesmo tendo em conta os particulares destinatários do documento, destaco alguns aspectos que a todos deveriam interessar.

A economia deve ter rosto humano, ser uma economia evangélica de partilha e comunhão, assumir dimensão profética e ser instrumento da acção missionária da Igreja. «A fidelidade ao carisma e à missão é o critério fundamental na avaliação das obras, pois a rentabilidade não pode ser o único critério a ter em atenção. O repensamento da economia deve fazer-se através de um discernimento cuidadoso: escuta da Palavra de Deus e da história». Já na Carta dirigida a todos os consagrados por ocasião do Ano da Vida Consagrada, o Papa afirmava: «De vós espero gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração. Espero a racionalização das estruturas, a reutilização das grandes casas em favor de obras mais consoantes às exigências atuais da evangelização e da caridade, a adaptação das obras às novas necessidades».

As obras e estruturas não se identificam com a missão, estão ao seu serviço. «As obras podem mudar, enquanto a missão permanece fiel à intuição carismática inicial, encarnando-se no hoje». Se assim não for, até às obras mais inovadoras e criativas, mesmo dando respostas imediatas e eficazes, pode faltar abertura à profecia e dinamismo evangélico.

Três grandes horizontes da leitura da realidade fundamentam as indicações operativas quanto ao sentido das atividades económicas para servir a missão: uma economia ao serviço do homem, de modo especial os pobres; uma economia como instrumento da ação missionária da Igreja; uma economia evangélica de partilha e comunhão. Horizontes que se concretizam nalguns critérios fundamentais: fidelidade a Deus e ao Evangelho; fidelidade ao carisma; pobreza; respeito da natureza eclesiástica dos bens; sustentabilidade das obras; necessidade de prestar contas.

O documento termina insistindo que os bens e as obras nos foram confiados como dom de Deus para realizar a missão, sempre na tensão para o Reino e ao serviço dos pobres.

Que estas Orientações contribuam para retomar o sentido evangélico, profético e fecundo da economia ao serviço da missão, assumida com responsabilidade, transparência e solidariedade, sem excluir ninguém e em particular os mais pobres. Caso contrário, também na Igreja e na vida consagrada a economia corre o risco de matar o Espírito e o carisma, a partilha, a comunhão e o serviço à missão.