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Pe. Alexandre Palma
Sínodo: aprender a andar

Nascemos sem saber andar. Até esse gesto, entretanto para nós tão natural, requereu aprendizagem. Como recorrentemente sucede na vida, também isso se aprendeu por tentativa e erro. Porque, para se chegar a caminhar, foi preciso enfrentar um equilíbrio instável e foi mesmo preciso cair. A queda, neste sentido, antecede em nós a capacidade de andar. Esse terá sido um dos momentos mais decisivos da nossa vida. Mesmo que dele não guardemos memória, o que hoje somos não se explica sem esse instante em que, a muito custo e depois de muito tentar, nos erguemos sobre as pernas e, num misto de ousadia e fragilidade, um passo se sucedeu a outro.

A Igreja de Lisboa entra, por estas semanas, numa fase decisiva do seu sínodo diocesano. A Assembleia que se aproxima, não podendo subsumir toda a dinâmica sinodal, será um momento central deste caminho conjunto. Foi (também) em vista dela que se refletiu, desde 2014, acerca da «conversão pastoral e missionária» proposta pelo Papa Francisco na exortação A Alegria do Evangelho. É nela que agora se concentram todas as expectativas a respeito do sínodo diocesano, na esperança que se definam diretrizes concretas para tornar realidade o «sonho missionário» que o inspira e motiva.

Precisamos de aprender a caminhar em conjunto. Observando o que levamos de sínodo, fico com a ideia de que estamos ainda numa fase precoce da difícil aprendizagem de caminhar em comunidade. Estaremos, à imagem dos nossos primeiros anos, a dar passos hesitantes e, como tal, sempre expostos à queda e ao erro. Mas, ainda assim, passos indispensáveis para se chegar a uma vivência eclesial mais coerentemente sinodal, ou seja, que vive a fé e a Igreja como experiência de caminho e de caminho com outros e com o Outro. Não se estranhe, por isso, que para este processo convirjam não apenas perspetivas diferentes como até contrastantes. Que não estejamos todos de acordo em tudo, faz parte do processo sinodal. Que o próprio sínodo seja objeto de dúvidas e críticas, é uma possibilidade aberta pela própria natureza de um processo sinodal. Aprender a conviver, de forma descomplexada, com um diálogo franco com a diferença; aprender a deliberar em conjunto, promovendo a corresponsabilidade de todos na Igreja, eis domínios onde precisamos ainda de aprender a caminhar conjuntamente.

Precisamos de passar de comunidade que organiza um sínodo para sermos comunidade que é em sínodo. A convocação de um sínodo, valendo em si, não se pode esgotar em si. Ele só verdadeiramente se cumpre quando é um passo para uma Igreja mais coerentemente sinodal. Sei bem como muitos esperam deste sínodo diocesano concretizações programáticas e práticas para uma Igreja mais evangelizadora. Muito justamente o fazem. No afã de se encontrarem essas tais respostas práticas, não se desvalorize, contudo, este aspeto eclesialmente mais fundamental. Um estilo eclesial assumidamente sinodal não é um extra opcional de uma «Igreja em saída». É a sua alma e o seu primeiro passo.