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P. Manuel Barbosa, scj
Missão, sempre e para todos

Ao escrever estas notas, reparo que faltam ainda três meses e meio para o término da celebração do Ano da Vida Consagrada, a 2 de fevereiro de 2016, e quase dois meses para o início do Jubileu extraordinário da Misericórdia, no próximo 8 de dezembro. É óbvio que várias mensagens já partilhadas pelo Papa Francisco para acontecimentos eclesiais do próximo ano incidam sobre a misericórdia. Mas a que nos dirigiu para este Dia Mundial das Missões, a 18 de outubro, incide na forte ligação entre vida consagrada e missão.

Embora já bem divulgada, e certamente lida e meditada, vale a pena extrair algumas frases desta incisiva mensagem do Santo Padre, como lenitivo renovador para uma Igreja que é missão e está em missão: «a dimensão missionária, que pertence à própria natureza da Igreja, é intrínseca também a cada forma de vida consagrada»; «quem segue Cristo não pode deixar de tornar-se missionário»; «a missão é uma paixão por Jesus Cristo e uma paixão pelas pessoas»; «é urgente repropor o ideal da missão com o seu centro em Jesus Cristo e a sua exigência na doação total de si mesmo ao anúncio do Evangelho»; «a paixão do missionário é o Evangelho, que é fonte de alegria, liberdade e salvação para cada homem»; «nisto não se pode transigir, quem acolhe, pela graça de Deus, a missão, é chamado a viver da missão»; «a missão dos servidores da Palavra – bispos, sacerdotes, religiosos e leigos – é colocar a todos, sem excluir ninguém, em relação pessoal com Cristo».

Nas suas provocações tão fundamentadas, o Papa faz uma referência particular aos leigos e aos jovens: «os consagrados são chamados a promover, no serviço da missão, a presença dos fiéis leigos»; «jovens, não deixeis que vos roubem o sonho duma verdadeira missão, dum seguimento de Jesus que implique o dom total de si mesmo».

Mesmo incidindo na tal ligação entre vida consagrada e missão, o Papa diz-nos, com toda a clareza e atualidade, que a missão é para sempre e para todos. Ninguém pode ficar arredio da missão, que acontece desde o «ide» de Jesus até ao «vinde, Senhor» em encontro final na glória da Trindade.

Levados por estes dinamismos, que são para todos os discípulos missionários sem exceção, e pelo «sonho missionário de chegar a toda a gente», que o Patriarcado de Lisboa acolheu como lema inspirador do processo sinodal, várias centenas de leigos, sacerdotes, consagrados e consagradas juntaram-se no Seminário de Alfragide, em Dia Mundial das Missões. Foi uma tarde autenticamente missionária, com a partilha de vários testemunhos de presenças carismáticas em missão no Bairro do Zambujal (Missionários e Missionárias da Consolata), no Bairro 6 de Maio (Missionárias Dominicanas do Rosário) e na Casa de Saúde da Idanha (Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus). Houve ainda oportunidade para uma entrevista, conduzida pelo Paulo Rocha da Ecclesia, a D. José Ornelas Carvalho, Bispo eleito para Setúbal. Depois de acenar ao seu desejo missionário de sempre, D. José Ornelas exprimiu toda a sua disponibilidade para ser missionário em Setúbal, como lhe pediu expressa e pessoalmente o Papa Francisco, em vez de partir para a missão dehoniana em Angola para onde estava destinado (por feliz coincidência, no Domingo em que recebeis estas notas, D. José Ornelas é ordenado bispo). O dia terminou à volta da mesa do banquete da Eucaristia e da Palavra, sob a presidência de D. José Ornelas, e da mesa da refeição fraterna, em alegre convívio de irmãos e irmãos.

Esta iniciativa, programada pela Vigararia da Amadora no âmbito do Ano que ainda celebramos sob o lema da vida consagrada, acabou por se alargar a todos os consagrados e comunidades religiosas da diocese. Tudo em sintonia com a caminhada sinodal que, nos últimos meses do seu andamento, terá a essencial intenção da misericórdia, a dar todo o sentido aos discípulos missionários em missão sempre, e para todos.