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Guilherme d'Oliveira Martins
Bons motivos de esperança

Quando o Papa Francisco se dirigiu a quantos se aglomeraram na Praça de São Pedro e acompanhavam a cerimónia nos meios de comunicação social, numa divulgação sem precedente, fez questão de falar para todos os homens e mulheres de boa vontade numa abrangente palavra de renovação e de esperança – pedindo uma oração. Mais do que uma palavra era indispensável um gesto. A indicação do nome escolhido e a atitude foram dois sinais dignos de nota. As mensagens fundamentais foram para todos sem exceção e basearam-se na modéstia e na entrega. A personalidade do Cardeal Jorge Bergoglio é cativante e a invocação do nome escolhido de Francisco foi significativa. Num tempo de imediatismo e de indiferença, de crise de valores e de perplexidade não pode passar despercebido o facto de escolher a referência de um Santo de proximidade, de pobreza e de amor. S. Francisco de Assis simboliza o desprendimento, a entrega, a compreensão e o diálogo com a natureza. Perante uma crise marcada pelo imediatismo, pela ilusão e pela ânsia dos ganhos fáceis, é importante que haja um apelo aberto a todos no sentido de colocar a dignidade humana no centro das nossas preocupações e prioridades. Estes são aspetos de grande relevância numa circunstância em que o gesto de renúncia de Bento XVI obriga a um esforço redobrado de exigência e de renovação, de exame de consciência e de compromisso, de colegialidade e de partilha. Devo salientar que o testemunho de fé e de razão do anterior Papa deve ser prosseguido e aprofundado. E temos de lembrar o Bom Papa João a abrir de par em par as janelas do Vaticano, para que entrassem o ar puro e os sinais dos tempos. Agora é de novo oportuno ousar. A simplicidade de que o novo Sumo Pontífice deu provas é já um sinal fecundo. Como nos diz a etimologia, precisamos de construir novas pontes. Há muito trabalho a realizar. Exige-se compromisso e partilha de responsabilidades, alegria e esperança, exemplo e experiência, atenção e cuidado. Mais do que todas as surpresas, o que importa é responder aos desafios muito fortes e intensos perante os quais a Igreja Universal se encontra. Precisamos de sinais concretos de paz e de justiça. Os perigos acumulam-se onde menos se esperam. Em lugar da indiferença, devemos ser capazes de ser e agir. Somos todos chamados à atenção e à coragem. Há assim bons motivos de esperança.

Neste primeiro tempo de Pontificado gostaria de salientar cinco elementos que nos permitem começar por aferir um novo espírito que o Papa Francisco assumiu, com inesperadas consequências de excelente recetividade. Em primeiro lugar, a importância de ser alguém que vem de fora da Europa e de isso significar uma nova forma de ver o universalismo não apenas nas palavras, mas na atitude e nos atos. Em segundo lugar, a humildade, referida a cada passo, em lugar da distância ou do formalismo, características de sociedades mais tradicionalistas. Em terceiro lugar, a proximidade das palavras dirigidas ao coração de todos e não apenas dos cristãos, de todas as pessoas de boa vontade. «A paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado da nossa vida». O Papa Francisco tem, assim, apelado à capacidade de nos compreendermos uns aos outros e de darmos respostas concretas às solicitações que nos são feitas pelos irmãos, em lugar da indiferença e da desatenção. Em quarto lugar, uma atitude ecuménica quer no diálogo inter-religioso, quer no respeito da liberdade religiosa, no entendimento de que só haverá paz entre os povos, as nações e os Estados se houver paz entre as religiões. A crise económica e de valores, que hoje vivemos, obriga a cuidar dos riscos que corremos respeitantes à violência, à guerra e à proliferação de poderosos conflitos desregulados. Em quinto lugar, devemos recordar a importância dada pelo novo Papa à dignidade da pessoa humana, em nome da liberdade e da responsabilidade, da igualdade, da não exclusão (vimo-lo no beijo à criança com dificuldades). São exemplos de atenção, de cuidado, de presença! E se vivemos a crise e a provação, se precisamos de sobriedade – eis que o Sumo Pontífice nos diz que a atenção e o cuidado, o exemplo e a experiência são exigências para os cristãos. «Para Deus não somos números; somos importantes, antes somos o que Ele tem de mais importante; apesar de pecadores, somos aquilo que Lhe está mais a peito». É pois tempo de dizer que os cristãos precisam do mundo contemporâneo e o mundo contemporâneo precisa da Boa Nova!