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P. Duarte da Cunha
Não esquecer os cristãos na Terra Santa

A Terra Santa para os cristãos é o lugar por excelência de peregrinação. Se é verdade que toda a criação tem a marca do Criador e que toda a realidade nos fala de Deus, no entanto a fé cristã é mais do que isso porque no centro está a Pessoa de Jesus. Portanto se é experiência profunda de todos os homens, mais ou menos conscientes disso, que a vida tem dentro de si um enorme desejo de encontrar Deus, não podemos deixar de reconhecer que o lugar onde viveu Jesus nos interessa. Na verdade aqueles 33 anos da vida de Jesus são o centro de toda a história. Jesus é Deus, que entra humanamente na vida dos homens para ser bem conhecido, para nos indicar o caminho da vida verdadeira e nos salvar tornando-nos capazes de O seguir. Poder ir aos lugares onde Jesus nasceu, viveu, pregou, fez milagres, morreu e ressuscitou faz-nos estremecer,  porque tocamos o que Ele tocou e percebemos melhor que os Evangelhos são mesmo história verdadeira e que Jesus não é um mito ou uma fábula. Fortalece a nossa certeza de que Ele está vivo e presente.

Contudo a Terra Santa não é só um destino de peregrinações, é também a casa de muitos cristãos. Alguns descendem dos primeiros cristãos em linha directa. A grande maioria destes cristãos é palestiniana e fala árabe, mas também há os que são de origem hebraica e vários imigrantes. É por isso que desejar a paz para a Terra Santa não é algo que tem em vista apenas os nossos interesses de possíveis peregrinos, mas sobretudo, tem que ver com o facto de que, sentindo-se membros de uma família, os cristãos preocupam-se com os seus irmãos.

Desde o dia 8 ao dia 12 de Janeiro, reuniu-se em Jerusalém um grupo de bispos europeus e americanos, naquela que é já uma tradição anual. O objectivo número um desta visita da "Holy Land Coordination" é encontrar os cristãos, os bispos, os padres e religiosas, mas também leigos, ou seja, as comunidades católicas de modo especial, para lhes confirmar que não estão esquecidos. Há uma série de problemas que afligem os cristãos na Terra Santa, e todos eles vão ter à questão da paz. Uma paz que não é só o silêncio das armas ou das pedras, mas que deve ser o tratamento justo e igual entre todos os cidadãos, independentemente de serem desta ou daquela origem, desta ou daquela religião. Esta paz parece ser desejada por todos, mas nunca acontecerá se não houver dialogo entre todas as partes. Uma paz que para vingar e enraizar deve ir buscar a luz e as forças para lá dos acordos políticos e mesmo para lá das forças humanas. Rezar pela paz não uma coisa abstracta, é ir à fonte! Os cristãos sabem que Cristo é a nossa paz e por isso sabem que a paz vencerá no fim, mas suplicam ao Senhor que se apresse. 

Percebe-se bem que também aqui, como sempre, há um contributo e um esforço humano imprescindível, ou seja, é preciso um empenho sério de todos no diálogo e no respeito pelo outro. Só há diálogo se houver disponibilidade para conhecer e ouvir o outro, e se houver desejo de encontrar uma solução que possa passar por renúncias de ambas as partes. Os cristãos sendo na sua maioria palestinianos sofrem a sorte deste povo, mas em certo sentido, pela fé que têm, têm a missão de serem como uma ponte capaz de unir os que estão desavindos e capaz de apontar para o bem da paz como algo que está acima da simples vitória de um dos grupos. Não os move o desejo de vencer o outro mas de encontrar uma solução que permita a convivência pacífica de todos. Não é a simples estratégia de negociação, por mais importantemente que esta seja, mas o amor sincero e as relações humanas reconciliadas e desejosas de construir juntas uma sociedade justa que poderão dar esperança. E para que tal aconteça é fundamental a abertura a Deus e a vivência profunda da fé. Vê-se isso muito bem no modo como os bispos, apesar de tantas dificuldades e até tensões internas entre os cristãos de diversas confissões, se empenham por ajudar ao diálogo certos de serem sustentados por Deus. Claro que a prioridade é defenderem os cristãos, e exigir que sejam garantidos os seus direitos fundamentais, ou seja, o direito de serem cidadãos iguais aos outros. Mas também promovem o bem de todos abrindo as suas escolas, os seus hospitais, os seus lares a todos e tentando estreitar laços de amizade com todos. Com a presença e com as acções, os cristãos pretendem mostrar a sua fé e onde houver injustiça ou ódio tentam levar o fermento do amor! E isso faz a diferença. Não posso deixar de ver neste empenho um claro sinal do que é a força da fé cristã e da eficácia da paz interior que ela traz. Na realidade se sabemos que Deus está por nós, se sabemos que Ele é misericórdia, não podemos deixar de ter esperança e por isso não nos tornamos uns cínicos que mantém conversações sem se empenharem no diálogo, mas amigos que não desistem.

Como cristãos de Portugal também temos algumas coisas a fazer que não seja a de ser apenas espectador. Antes de mais rezar, manter presentes na nossa oração os cristãos que sofrem perseguição, em segundo lugar estar a par do que se passa indo além do que possa ser propaganda de um ou outro lado do conflito, em terceiro lugar participar em peregrinações e tentar visitar os cristãos, as paróquias ou famílias católicas locais, em terceiro lugar, quem puder, poderá sustentar projectos de ajuda concreta aos católicos na Terra Santa.