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P. Duarte da Cunha
Páscoa passagem

Celebramos a Páscoa de Jesus, que é também a nossa Páscoa.

Tudo começou quando Deus escolheu Abraão e através do filho Isaac e do neto Jacob, que teve doze filhos, constituiu um povo no meio dos povos para, por ele, chegar um dia a toda a humanidade. Com este povo, Deus fez uma Aliança, que renovou várias vezes. É esta a característica mais específica do povo de Deus: um povo aliado, ou seja, amigo, de Deus.

Ainda no tempo de Jacob, por causa da necessidade de alimentos, foi necessário ir para o Egipto. Misteriosamente o povo foi salvo por José, um dos filhos de Jacob de quem os outros irmãos, por ciúmes, tinham vendido a uns que passavam no deserto, os quais, por sua vez, o venderam aos egípcios e que, entretanto, se tinha tornado como que o primeiro ministro do Egipto. Este irmão desprezado acabou por ser quem salvou da fome os seus irmãos. Porque perdoou. Jacob e os seus descendentes instalaram-se no Egipto.

Aí, o povo nunca se esqueceu de que a Abraão Deus tinha prometido uma terra! O Egipto tinha começado por ser de ajuda, porém, aos poucos foi-se transformando em prisão e escravatura. Ao fim de quatrocentos anos a situação era muito pesada. Foi então que Deus chamou Moisés e lhe disse: “Eu vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor; conheço os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa.” (Ex 3,7-8)

O processo foi complexo, o Faraó, rei do Egipto, evidentemente não queria que eles se fossem embora, porque precisava de mão de obra, mas Deus estava – como está sempre – do lado do Seu povo e, a certa altura, não foi possível os egípcios impedirem que Israel saísse. Foi aqui que nasceu a Páscoa, a passagem. Deus passou… mas, como todas as passagens de Deus, quando passa muda, faz os seus passarem e ficarem com Ele. Com Moisés e, por meio dele com o povo, renovou a Aliança. Disse como Se chamava: “Eu sou Aquele que sou”, e deu os mandamentos, ao mesmo tempo que assegurou que estaria sempre com eles.

Para saírem do Egipto e chegarem à Terra Prometida, tiveram de passar pelo Mar Vermelho de forma miraculosa e passaram quarenta anos no deserto para experimentarem um processo de conversão. Começa uma nova etapa da história. O povo finalmente instala-se. Mas muitas vezes esquece-se de Deus e da Páscoa e acaba desorientado. Mas Deus envia profetas para os acordar e consegue que alguns chefes, como David, sejam capazes de conduzir o povo na fidelidade a Deus. Aos poucos, vai-se tornando claro que Deus promete um Messias. Um rei, um profeta, um sacerdote! Alguém que seria tudo isso e muito mais!

Ao longo de todo este tempo, Deus estava com o povo. Estava presente. O Tabernáculo, ou tenda, no deserto e o Templo que Salomão construiu em Jerusalém, e que substituiu a Tenda, eram os lugares especiais dessa presença. Umas vezes reconhecida, outras vezes desprezada! Aos poucos foi visível que era necessário um salvador que não libertasse só do Egipto, mas também de tudo o que ele veio a significar, ou seja, do pecado e da morte. Um salvador que realizasse uma Nova Aliança, na qual os corações, a inteligência, isto é, a vida fosse transformada.

Jesus chegou, e ao longo da Sua vida pública deu sinais de quem era! Muitos reconheceram-no como o Messias anunciado! Outros recusaram acreditar! Numa festa da Páscoa judaica, Jesus, como os cordeiros no Templo simbolizavam, foi sacrificado. Morto na Cruz ofereceu-Se ao Pai por toda a humanidade. Aquilo que os sacrifícios e as “passagens” antigamente simbolizavam, agora aconteceu mesmo: a libertação dos homens do pecado. Jesus é verdadeiramente Deus e homem, Ele passou por este mundo abraçando toda a humanidade, mas mais ainda, passou e fez-nos passar da morte à vida. Ele foi o primeiro a passar, para ser o primogénito de uma multidão que haveria de ressuscitar unida a Ele. E, tal como na Páscoa antiga que era sinal desta definitiva, passou e ficou. Passou da morte à vida, mas enviou o Seu Espírito, que é com Ele e com o Pai o Único Deus e que permanece connosco.

Páscoa, passagem que gera transformação, que perdoa e dá vida! Deus passa e salva, o povo passa da escravatura do Egipto ou do pecado e fica livre. Deus passa e fica, permanece, e chama cada um para passar deste mundo para o Seu mundo, para a vida nova. Já aqui na terra acontece esta passagem! Já aqui começa a vida nova, Deus que passa, salva e permanece connosco. O segredo está em aderir de todo o coração a Jesus, de O seguir nesta passagem e de permanecer unido a Ele para passar com Ele da morte à vida, para vencer o pecado e passar à santidade. Uma vez passados, uma vez “pascoados”, acontece o que São Paulo diz ter-lhe acontecido: “já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). E a vida torna-se vida abundante (Jo 10,10)!


P. Duarte da Cunha