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P. Duarte da Cunha
Chamados a ser santos

No dia 5 de Outubro, o serviço diocesano da Pastoral da Família organizou um congresso teológico-pastoral sobre o amor e a santidade nos jovens e nas famílias, procurando ligar o Encontro Mundial das Famílias que tinha acontecido em Roma e em todo o mundo no mês de Junho à Jornada Mundial da Juventude que acontecerá daqui a pouco entre nós!

Partilho umas notas finais síntese do que foi testemunhado sobre a santidade.

 

1. Este foi um congresso teológico-pastoral. Sim é verdade que ouvimos sobretudo testemunhos. Mas a vida daqueles que ouvem e põem em prática a Palavra de Deus é a melhor forma de comunicar e aprofundar a fé, isto é, de fazer teologia.

2. A santidade tem que ver com toda a vida e com todas as fases da vida. É algo que nenhum cristão pode alguma vez dizer que não lhe diz respeito. Cada um, por isso, percebe que o seu “eu” é chamado aqui e agora e sempre a ser santo.

3. O santo é uma pessoa humana que vive intensamente o real (como ouvimos o pai do Andrea Mandelli dizer do seu filho), isto é, é alguém que com a ajuda da Graça de Deus realiza bem a sua humanidade com paixão e com esperança. O santo é um homem a sério empenhado na vida que lhe toca viver.

4. A santidade é algo de específico dos cristãos, porque faz parte da nossa fé experimentar que Deus, apesar de ser transcendente, está presente e pode ser encontrado. Um Deus ausente que se limitasse a dar ordens morais a partir de uma morada distante não geraria santos, mas apenas poderia conseguir ter pessoas cumpridoras das suas ordens por medo ou interesse.

5. O Santo sabe, por experiência, que Deus é real. Não é um sonho ou um simples pensamento, Deus é Alguém concreto. Mas o santo sabe mais, sabe que com a Encarnação, Deus feito homem pode ser encontrado, escutado, abraçado. O santo encontra Jesus e torna-se Seu amigo. Nesta amizade o santo descobre que Jesus é mais do que um simples amigo, é o Redentor e o Senhor que dá vida.

6. O Santo sabe que pode encontrar Jesus hoje porque reconhece que a Igreja é o prolongamento do Mistério da Encarnação. Ele ama e segue a Igreja. Por isso procura com frequência os sacramentos. Vive-os como lugares privilegiados para o encontro com Deus. Vimos o exemplo do Carlo Acutis e o seu amor pela Eucaristia, e vimos como a Missa, a Confissão, a Unção dos doentes são comuns na vida dos santos, quer dos canonizados quer dos vivem ao nosso lado.

7. O santo é alguém que já aqui vive à maneira de Deus, ou seja, ama radicalmente. Esse amor começa por ser uma comoção que reconhece o outro como um bem e como alguém que precisa de ser ajudado, mas transforma-se em serviço, ou seja em sacrifício, isto é, dom de si ao outro.

8. Para se ser santo temos de dar o nosso contributo – o nosso sim – mas o que torna a santidade possível é a Graça de Deus.

9. O Santo nunca deixa de ser frágil. Frágil na saúde, e até frágil na vida moral. Mas não desiste de se levantar. Ele faz a experiência concreta da misericórdia de Deus que o agarra e salva. Santidade é confiança nessa misericórdia e experiência do perdão de Deus. Um santo não se julga impecável, mas sabe-se abraçado pela misericórdia divina que perdoa e restaura aquele que se arrepende.

10. O santo percebe que a sua vida é enviada aos outros para testemunhar a fé. Aquele que vive de Deus quer que Deus seja amado e conhecido por todos, por isso, recordando o que São João Paulo II dizia no início deste milénio, a vocação à santidade coincide com a vocação à missão. A vida do santo é ela mesma o testemunho que desperta noutros o desejo de Deus e que oferece a ocasião para O encontrar.

11. O santo pode ser muito criativo e empreendedor, mas o que o define é ser alguém que responde. É a pessoa que obedece, no sentido forte deste termo: escuta e põe em prática a Palavra de Deus. É isso que faz o santo: responder a Deus. O santo está diante de Deus a perguntar ao Senhor: que queres de Mim?

12. A santidade não é um sonho irrealizável. Ela é possível. Deus é real e a Sua Graça eficaz. Podemos dizer que é um ideal e que queremos ser sempre mais santos, mas não precisamos de esperar nada para começar já a ser santos.

 

P. Duarte da Cunha