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P. Duarte da Cunha
JMJ: Da Visitação à Transfiguração

A Jornada Mundial da Juventude, que está mesmo a chegar, tem como grande mote o versículo do Evangelho segundo São Lucas em que o narrador, depois de ter contado o diálogo entre Maria e o Anjo – que terminara com o Sim de Maria: “Faça-se em Mim segundo a vossa palavra” – anuncia que “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Partiu para a casa de Isabel, aquela parenta que o anjo Gabriel disse estar também ela à espera de um filho, apesar de todos julgarem que, porque a idade já era avançada, nunca poderia engravidar.

Maria partiu porquê? Partiu para ajudar aquela prima que ela soube estar à espera de um filho e que pensava que deveria precisar de ajuda. Sim, a caridade de Maria moveu-a e fez com que se levantasse e partisse.

Mas creio que também partiu para se encontrar com aquela prima que o anjo disse ter sido, como Ela, alvo de um milagre. Maria deve ter desejado falar com Isabel para aprofundar o que lhe tinha acontecido a Si. Alguém que passa por uma experiência semelhante é a pessoa ideal para ajudar a viver bem o que acontece. E, com efeito, o diálogo de Nossa Senhora com a Sua prima Isabel é sinal de que entre as duas e, antes ainda, entre os seus filhos, gerou-se uma relação profunda completamente centrada em Deus. Jesus ainda estava escondido no seio de Maria, mas já dava nas vistas e fazia o seu primo João, que viria a ser o profeta que havia de preparar o caminho e de O mostrar presente no mundo, exultasse, estando ele também no seio de sua mãe. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu de alegria no ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.” (Lc 1,40)

A JMJ, a partir de tudo o que o Papa já tem dito, tem este objetivo duplo: despertar nos corações dos jovens a caridade e o desejo de também se levantarem e partirem para ajudar outros que precisem, e proporcionar encontros que permitam uma autêntica partilha da alegria suscitada pelo encontro com Jesus. A JMJ, a ver por aquilo que as outras Jornadas foram para muitos jovens, pode tornar-se num acontecimento de Graça que transforma por dentro pessoas e, a partir destas, transforma comunidades inteiras.

O que transforma, porém, não é o evento, mas Aquele que, como à casa de Isabel, chega escondido no coração de cada jovem que, em Lisboa e com o Papa, irá descobrir um ambiente propício para escutar o que Deus tem feito nos outros e partilhar o que tem feito em si. Isabel tinha uma grande notícia a dar, ela que era considerada estéril estava à espera de um filho, mas, precisamente porque recebera um grande dom, era capaz de reconhecer as graças que Deus tinha dado a outros e percebeu logo que a sua jovem prima tinha recebido uma graça ainda maior. Aqueles que, como Isabel, se dão conta dos dons recebidos, estarão disponíveis interiormente para reconhecer todas as surpresas de Deus que certamente a JMJ trará. E Lisboa vai estar cheia destes jovens, de gente tocada pelo encontro com Jesus Cristo.

Que a Missa final da Jornada seja no dia 6 de Agosto, ou seja, na festa da Transfiguração de Jesus, faz-nos ver um percurso providencial! Tudo começa com Jesus esperado, mas ainda não à vista, para terminar com Jesus visível com toda a Sua atratividade. De certo modo, a visita de Maria a Isabel, que faz João Baptista exultar, é o preâmbulo da alegria e do entusiasmo dos Apóstolos no Monte Tabor quando Jesus Se transfigurou e da alegria que todos nós podemos ter numa JMJ ao reconhecer Jesus ressuscitado presente no meio de nós.

Organizar um Jornada em nossa casa, na nossa cidade, tendo presente a Visitação, é um grande desafio que requer, como Maria, muita diligência na caridade e muita vontade de ir ao encontro de todos, ou, neste caso, de acolher todos. Mas o que está anunciado é grandioso: o Rosto de Jesus, que todos os homens de forma consciente ou não desejam ver, vai surgir transfigurado, isto é, revelado de forma clara. Esperamos ver o Rosto de Jesus refletido na alegria séria dos jovens e na unidade dos milhares de jovens, vindos de todo o mundo, com os pastores, com o Papa e com todos os bispos.

Este é o percurso que queremos fazer: da Visitação à Transfiguração, de um Jesus já presente, mas ainda não evidente a todos, até à revelação clara de Jesus como verdadeiro homem e verdadeiro Deus e Salvador de todos!

 

P. Duarte da Cunha