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Guilherme d'Oliveira Martins
O caminho sinodal

O Papa Francisco tem insistido na necessidade de trilhar o caminho sinodal, como uma verdadeira partilha de pensamento e ação. No momento em que há preocupações relativamente à imagem pública da Igreja, importa reforçar a exigência e o sentido de responsabilidade e de cuidado, sem os quais prevalecerá uma visão empobrecedora da realidade que somos chamados a compreender. Nesse sentido, há um percurso que deve ser assumido por todos com humildade e fidelidade ao exemplo deixado por Jesus Cristo, deixando a tentação das justificações inúteis e pondo mãos à obra pelo exemplo e pelo cuidado relativamente aos outros.

 

A palavra sínodo provém do grego, e significa “caminhar juntos” – “Syn” – com; “Hodos” – caminho. Importa, assim, definir uma via de ação, a começar pela definição aberta e inclusiva dos companheiros de viagem. Eis por que de um modo propositadamente simplificado, indicamos um conjunto abreviado de perguntas, que nos ajudarão a não ficarmos indiferentes. «Quando dizemos “a nossa Igreja”, quem é que faz parte dela? Quem nos pede para caminhar juntos? Quem são os companheiros de viagem, mesmo fora do perímetro eclesial?». A escuta é o primeiro passo, exigindo que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos. Como são ouvidos os Leigos, designadamente os jovens e as mulheres? Como se integra a contribuição de Consagradas e Consagrados? Que espaço ocupa a voz das minorias e dos excluídos? Conseguimos identificar preconceitos que impedem a nossa escuta? Estamos atentos à sociedade e à cultura em que vivemos? E como usar da palavra e participar? Como integrar a liberdade, a verdade e a caridade ou cuidado? Como promover a comunicação, sem ambiguidades nem oportunismo? E em relação à sociedade de que fazemos parte? Quando e como conseguimos dizer o que é deveras importante para nós? Como e quem fala em nome da comunidade?

 

 “Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração da Eucaristia. Como promover a participação ativa de todos os Fiéis na liturgia e o exercício da função santificadora? De facto, somos chamados ao Sínodo, como serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a participar. Dado que somos todos discípulos missionários, de que maneira cada um dos cristãos é convocado para exercer a sua missão? Como é que a comunidade apoia os seus membros comprometidos no serviço na sociedade, na responsabilidade social e política, na ciência e no ensino, na promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos? Como os ajuda a viver estes compromissos, numa lógica de missão? Como são integradas as diferentes tradições em matéria de estilo sinodal? Importa ter presente que o diálogo é um caminho de persistência, que inclui silêncios e dificuldades, sendo capaz de recolher a experiência das pessoas e dos povos. Como enfrentamos as divergências, os conflitos, os bloqueamentos?

 

Que experiências de diálogo e de compromisso partilhado promovemos com crentes de outras religiões e com quem não crê? Como é que a Igreja dialoga e aprende com outras instâncias da sociedade: o mundo da política, da economia, da cultura, a sociedade civil, os pobres...? O diálogo entre cristãos de diferentes confissões ocupa um lugar particular neste caminho sinodal. Que frutos colhemos do facto de “caminharmos juntos”? Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável. Quais são as práticas de trabalho em grupo e de corresponsabilidade? Num estilo sinodal, decide-se por partilha de reflexão, com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito. Como promovemos a participação na tomada de decisões, no seio de comunidades hierarquicamente estruturadas? Como articulamos as fases consultiva e deliberativa? De que maneira e com que instrumentos promovemos a transparência e a prestação de contas e o assumir de responsabilidades? A espiritualidade do caminhar juntos obedece ao princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades. Como formamos as pessoas que desempenham funções de responsabilidade no seio da comunidade cristã, ouvindo-se mutuamente e dialogando? Que instrumentos nos ajudam a interpretar as dinâmicas da cultura em que estamos inseridos e o seu impacto no nosso estilo de Igreja?

 

Lembrando-nos da experiência de Giorgio La Pira, importa ter presente que este caminho tem de se basear na fidelidade à dignidade da pessoa humana e na defesa determinada do bem comum!

 

Guilherme d’Oliveira Martins