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P. Manuel Barbosa, scj
Armadilhas e atitudes no processo sinodal

1. Estamos em plena fase diocesana do processo sinodal, que vai até ao verão de 2022. Importa recordar que é um tempo de auscultação, de escuta entre nós e escuta do Espírito, quer nos âmbitos organizados da Igreja, quer nos âmbitos que estão mais afastados ou esquecidos; uma auscultação que deve acontecer também junto das outras confissões cristãs e religiões, bem como dos cidadãos com quem convivemos ou que devemos procurar, encontrar e escutar. Nos longos documentos já divulgados pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, particularmente o Documento Preparatório e o Vademecum, há dois pontos de orientação que gostaria de realçar: as armadilhas evitáveis e as atitudes necessárias de um processo sinodal.

2. Começo por referir as 9 ARMADILHAS ou TENTAÇÕES que devemos evitar, para que o processo sinodal seja vital e fecundo: a tentação de querermos ser o guia de nós mesmos, num mero exercício estratégico corporativo, em vez de nos deixarmos guiar por Deus, num processo espiritual conduzido pelo Espírito Santo; a tentação de nos concentrarmos em nós próprios e nas nossas preocupações imediatas, em vez de abrirmos, olharmos e vermos as pessoas e as situações numa perspetiva missionária local e de longo alcance; a tentação de ver apenas problemas, dificuldades e complicações, em vez de “apreciar os lugares onde o Espírito Santo já está a gerar vida e ver como podemos deixar que Deus trabalhe mais plenamente”; a tentação de nos concentrarmos apenas nas estruturas em si mesmas, em vez de assumirmos a “conversão e a renovação das estruturas que só serão possíveis através da conversão e renovação permanentes de todos os membros do Corpo de Cristo”; a tentação de um olhar que não ultrapassa os limites visíveis da Igreja, em vez de dialogarmos também com “pessoas do mundo da economia e da ciência, da política e da cultura, das artes e do desporto, dos meios de comunicação e das iniciativas sociais”, sem esquecer a ecologia, a paz, as questões da vida, as migrações e as outras tradições de fé e confissões cristãs; a tentação de perder de vista os objetivos do processo sinodal, especialmente “o objetivo de discernir a forma como Deus nos chama a caminhar juntos”; a tentação do conflito e da divisão, em vez de escutarmos o “Espírito Santo que nos leva mais profundamente à comunhão com Deus e uns com os outros”; a tentação de tratar o Sínodo como uma espécie de parlamento ou “batalha política” com vencedores e derrotados, em vez de procurar a unidade e a comunhão da Igreja; a tentação de escutar apenas aqueles que já estão empenhados nas atividades da Igreja, em vez de envolver todo o Povo de Deus.

3. Elenco agora as ATITUDES que permitem escuta e diálogo genuínos: ser sinodal com tempo para a partilha na liberdade, verdade e caridade; fazer corresponder a humildade de escutar com a coragem de falar; dialogar em perspetiva de novidade; abrir-se à conversão e à mudança; praticar o exercício eclesial do discernimento; ser sinais de uma Igreja que escuta e caminha de forma autêntica; deixar para trás preconceitos e estereótipos; vencer o flagelo do clericalismo; curar o vírus da autossuficiência; derrotar as ideologias; dar origem à esperança; sonhar e “gastar tempo com o futuro”, em perspetiva inovadora, sendo inclusivo, com mente aberta, ouvindo todos e cada um no “caminhar juntos”, sendo corresponsáveis e praticando o diálogo ecuménico e inter-religioso.

4. Nesta coincidência com o processo sinodal, começamos hoje o Advento, tempo propício para cuidar de nós e uns dos outros em oração e esperança, tempo para a conversão pessoal e comunitária. Penso que as referidas armadilhas, tentações e atitudes podem contribuir para escutarmos com mais atenção e verdade aquilo que o Espírito nos pede para a renovação das nossas vidas, famílias e comunidades. Não desperdicemos a oportunidade!