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P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Pais, sejam egoístas!

Todos os pais sabem que a sua felicidade passa pelo bem dos seus filhos. Por isso, não são poucos os que se esforçam por lhes proporcionar, às vezes com grandes sacrifícios, uma excelente educação, como garantia de um futuro promissor.

É muita a azáfama dos pais no princípio de mais um ano lectivo, sobretudo por causa dos filhos que vão, pela primeira vez, à escola. Em relação aos mais velhos, há a preocupação de que o ensino lhes proporcione o acesso aos cursos que pretendem, quando chegar a altura de dar o grande salto para a universidade.

Na panóplia das múltiplas actividades – desde o inglês ao judo, passando pela música e o ballet – muitas vezes não há espaço, materialmente falando, para a formação cristã. Por isso, alguns pais são tentados – não é exagero dizê-lo! – a dispensar os filhos da catequese, com a desculpa de que já estão excessivamente sobrecarregados: o inglês é necessário para o futuro, a matemática também, o desporto é saudável e o ballet é bonito, mas a catequese – pensam – não é importante… 

É a estes pais que faço o apelo: sejam egoístas! Disse-o, pela primeira vez, numa multitudinária reunião para pais de uma populosa paróquia do Minho, que tinha quase cem catequistas e perto de mil crianças inscritas na catequese paroquial.

Nas minhas andanças pastorais, uso um pequeno carro, que me serve também para ouvir, enquanto guio, as principais notícias do dia. Numa ocasião, o locutor de serviço referiu-se a um drama recorrente: o das pessoas de idade abandonadas, pela família, nas urgências dos hospitais, sobretudo nas férias. Naquele caso, uma senhora tinha passado algum tempo no hospital, sem que ninguém a fosse buscar, ou por ela se interessasse. A própria, pelo seu avançado estado de senilidade, já não era capaz de se identificar, nem de indicar a sua morada, ou dar qualquer referência. A muito custo, foi possível identificar uma sua filha, a quem pediu que a fosse buscar, pois já lhe tinha sido dada alta há vários dias. Quando se apresentou no hospital para esse efeito, o médico do serviço quis chamar-lhe a atenção pela sua culpável negligência, mas ela desculpou-se, dizendo:

- Sabe, Senhor Doutor, o problema da minha mãe é que não tem família!

Se é incrível que alguém possa pensar uma coisa destas, mais inacreditável é que o possa afirmar: que sentido faz alguém dizer que a própria mãe não tem família?! Seguramente, entendia que a sua família eram apenas as pessoas com quem vivia em casa, mas não é preciso ser cristão para perceber que a própria mãe não é, em caso nenhum, um ser estranho, porque é, mais do que ninguém, família, a nossa família!

Não sei se a dita filha da tal mãe-sem-família tinha andado no ballet, no inglês, na natação ou no judo. Mas uma coisa posso afirmar com toda a certeza: não tinha andado na catequese, pois ignorava completamente o quarto mandamento da Lei de Deus, que obriga a honrar pai e mãe.

Percebe-se agora o convite aos pais, para darem prioridade, na formação dos filhos, à catequese paroquial? Se assistirem a essas aulas semanais, talvez amanhã não sejam recordistas mundiais, mas decerto serão filhos que sabem que o seu principal e mais grato dever é acompanhar os seus pais até ao fim, proporcionando-lhes todos os cuidados de que carecem e merecem. Sabê-lo-ão porque assim ensina a Lei de Deus, que é o que se explica na catequese.

O inglês, a matemática ou o português são mais importantes para entrar na universidade mas, para entrar no Céu, a formação cristã, nomeadamente através da catequese, é fundamental. E, na vida, o mais importante não é o êxito, nem a fama, nem a riqueza, mas aprender a viver sabendo amar e sendo amado, ou seja, feliz. Porque Deus é amor, é na catequese que se aprende a amar a Deus amando o próximo, sobretudo a própria família.

Uma família cristã é uma família onde cabem todos e todos são amados em Cristo Nosso Senhor. Os pais ‘egoístas’ sabem-no e, por isso, investem sobretudo na formação cristã dos filhos, que é a melhor garantia para a felicidade deles, e dos pais também.