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P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Uma bandeira e uma arma

Todos os dias somos confrontados com cenas de incrível violência. Umas vezes, são terríveis atentados terroristas, que colhem as suas vítimas entre os transeuntes de uma qualquer cidade, ou os passageiros de algum transporte público. Outras vezes, são assassinos que, armados até aos dentes, disparam contra tudo e todos, reservando-se para si próprios a última bala. Também há as vítimas silenciosas dos regimes que espezinham os direitos humanos, em nome de alguma ideologia ou, apenas, de um qualquer tirano, como na Coreia do Norte e na Venezuela, na China e na Síria.

Também na Europa, não obstante a aparência civilizada e pacífica das nossas sociedades pós-modernas, há dramas escondidos por detrás de uma imagem de sofisticado bem-estar: famílias desunidas, crianças mortas antes de nascer, filhos ignorados pelos pais, irmãos desavindos, velhos abandonados em lares da terceira idade, reduzidos a meros utentes de uma instituição social, sem outro nome do que um número qualquer, eles que foram e são filhos, irmãos, esposos, pais e avós!

Ante este cenário que, por doloroso, não é exagerado, nem pessimista, há duas hipóteses: fingir que está tudo bem; ou fazer da indignação uma bandeira e do protesto uma arma. Muitas vezes se usou e abusou do conformismo dos católicos, tão entretidos nas suas devoções que quase se esqueceram de que os seus direitos cívicos são também graves deveres de intervenção social e política. É verdade que, por força das convicções cristãs, não se podem usar para o bem os mesmos métodos e armas de que os outros se servem para o mal, mas os cristãos têm uma bandeira, a da fé; uma causa, a da justiça social; e uma arma: o Santo Rosário!

Sim, o terço de Nossa Senhora é uma arma poderosa. Não é uma devoção piegas, mas um hino de combate. Os frades que arremeteram contra a heresia dos cátaros, usaram com êxito esta arma. A armada cristã que, em 1571, se opôs, em Lepanto, às forças otomanas que então ameaçavam a liberdade europeia, venceu mais pela força do rosário do que pelo êxito dos seus canhões. Foi por isso que o Papa São Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário no dia 7 de Outubro, memorável aniversário dessa batalha naval.

Quando, em 1917, Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos, em Portugal combatia-se ferozmente a Igreja: todos os bispos diocesanos tinham sido desterrados das suas dioceses, os jesuítas de novo expulsos de Portugal, abolidos os feriados religiosos, a educação cristã e a imprensa católica proibidas, etc. Nossa Senhora não veio à Cova da Iria apenas para dar consolo aos pastorinhos, nem para lhes propor uma cómoda resignação, mas para dar-lhes uma arma para a restauração da liberdade cristã, tanto em Portugal como na distante Rússia, no outro extremo do continente europeu, então prestes a mergulhar na terrível ditadura comunista.

Em todas e cada uma das seis consecutivas aparições mensais da Senhora mais brilhante do que o Sol, se repete a mesma petição pela reza diária do terço. Na última, a celestial interlocutora dá-se a conhecer como Nossa Senhora do Rosário e insiste, por vez derradeira, na urgente necessidade dessa reza para alcançar a paz nas famílias, na Igreja e no mundo inteiro: “Quero-te dizer (…) que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas”. Não é, certamente, uma obrigação, mas que terrível insensatez e grave irresponsabilidade seria não aceder a este tão maternal e insistente pedido, condição para que, como prometido na aparição de 13 de Julho, em Portugal se conserve “sempre o dogma da fé”!

Todos, miúdos e graúdos, podem e devem rezar diariamente o terço; devem-no fazer, se possível, em família, na certeza de que, como disse S. João Paulo II, uma família que reza unida, permanece unida. Rezemos pois, todos os dias, o Santo Rosário, na certeza de que é essa a arma que o Céu escolheu para vencer o mal do mundo e fazer, por fim, triunfar, junto ao Sagrado Coração de Jesus, o Imaculado Coração de Maria!