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A. Pereira Caldas
Terrorismo e bom senso

“Estrada da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade”.

Estas são palavras do Papa, proferidas poucas horas depois dos trágicos ataques terroristas, em Paris, que deixaram um rasto de dor e de incredibilidade no mundo. E foram as palavras certas. Francisco disse aquilo que tem de ser dito nestes momentos em que homens, levados por razões que nenhuma razão saída da consciência humana pode justificar, se transformam em mensageiros da morte indiscriminada de inocentes. E a quente, perante a tragédia nua e crua, instala-se um perigoso espírito, ou até desejo, de vingança, que tolda o sentido da realidade, manipula a vontade e destrói valores e direitos – abrindo essa “estrada da violência e do ódio” de que fala o Papa, sem olhar a limites nem consequências. E não é de vingança em vingança ou fazendo da pena de Talião a justiça, que se resolvem os problemas da humanidade, como está também subjacente às palavras de Francisco.

A verdade é que, sendo o terrorismo uma espécie de guerra, não é pela guerra que deve ser combatido sob pena de se correr o risco de criar uma talvez incontrolável espiral de violência de resultados imprevisíveis. E tudo se torna ainda mais complexo e difícil quando o fanatismo religioso constitui o suporte ideológico fundamental da cultura de morte que envolve a actividade operacional dos “jihadistas”. A crença profunda que lhes é inoculada de que a sua luta é uma guerra santa pelo seu Deus e em nome do seu Deus dá-lhes uma enorme força interior que os leva ao sacrifício da própria vida, se a sua missão o exigir.

Quer dizer que para combater o terrorismo é imprescindível, mais do que a luta armada, encontrar os meios de financiamento que o alimentam, o negócio de armas que o sustenta, os países que, encapotadamente, o escondem e lhe dão guarida. É extremamente difícil, porque são muitos e poderosos os interesses económicos e políticos em jogo – e só uma forte conjugação de esforços e de vontades, a nível global, poderá ter algum êxito.

Nada disto é novidade, mas o problema, o maior obstáculo, é passar das palavras aos actos. E para o conseguir, é importante que palavras como as do Papa não se percam pelo caminho.