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Editorial: A vontade de ser português
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Portugal não existe como nação independente por ter limites geográficos que o distingam claramente de Espanha; não existe como nação independente por ser um povo com características físicas claramente diferentes dos demais europeus; muito menos existe como nação independente por causa da riqueza do seu solo.
A nossa independência tem apenas uma razão de ser: a vontade do povo português. Foi esta vontade que determinou as suas fronteiras; foi esta vontade que galgou os oceanos e construiu um império; foi esta vontade que nos fez ultrapassar tantas e tantas crises em que o país parecia mergulhado e sem solução para o futuro.
Hoje, a nossa existência parece, uma vez mais, posta em causa. De pouco importa fazer aqui de juiz, procurar culpados e atribuir culpas, por muito que a indignação nos convide a gritar e a explodir no acesso de quem acorda de um engano em que mergulhou profundamente. Se quem nos governou não teve a qualidade que a maioria esperava, o facto é que tinha a legitimidade do sufrágio democrático. E, confessemos, mesmo que não lhe tivéssemos dado o nosso voto, economicamente todos gostámos de fingir, por um pouco que fosse, que tudo estava resolvido, que já fazíamos parte do clube dos grandes do mundo e podíamos, finalmente, repousar. Agora, somos confrontados com a triste realidade, e devemos pagar a loucura dos anos passados, em que fizemos orelhas moucas a tantas vozes que nos procuravam conduzir à razão.
A questão é que, confrontados com a realidade do que somos, culpados ou não, uma vez mais a história coloca à prova a fibra do ser português. E essa – aquela vontade que nos faz ser o país europeu com as mais antigas fronteiras – não pode agora permanecer adormecida, e muito menos dar-se ao luxo de cruzar os braços e ir para as ruas na esperança de que a solução dos problemas se encontre ao virar da esquina, e – muito menos – num qualquer homem providencial; ou, menos ainda, que o resto da Europa venha constantemente em nosso socorro, estender-nos desinteressadamente a mão amiga. Neste momento, podemos apenas contar connosco próprios: com o nosso querer, com o nosso saber, com a nossa vontade de ser e de construir Portugal. E isso, não nos irão retirar. A vontade de ser português não desapareceu no meio de um sonho de pretensa “modernidade”; de um “deixa andar que outros pagarão”; numa revolta violenta contra o “mundo injusto”. A vontade de ser português continua a existir, bem profunda e viva – ela é a alma deste povo que há já muitos séculos, teimosamente e contra o desejo de muitos, persiste em existir.
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