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Editorial: Oração
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Um dos pontos centrais da espiritualidade quaresmal proposto desde sempre pela Igreja é a oração, juntamente com a caridade e o jejum.
Mais do que a criatura que na dependência total se dirige ao seu Criador (é a “oração espontânea” do homem que respira, das aves que voando abrem as asas e desenham a cruz no horizonte), a oração cristã é a atitude do Filho – do Filho único que é Cristo – que, na sua ousadia de Filho, grita nos nossos corações, por meio do Espírito, esta simples invocação: “Pai”. E nela diz tudo: agradece, louva, pede…
É por isso também que a oração cristã é, em primeiro lugar, a liturgia: o Senhor não ensinou os seus discípulos a dizerem “meu Pai” mas sempre “Pai nosso”, mesmo quando estivessem no silêncio do seu quarto. É daí, da oração litúrgica, em particular da Eucaristia dominical, que surge, umas vezes espontânea mas, necessariamente, também procurada e cultivada, a oração pessoal, aquele “tratar de amizade” (como gostava Santa Teresa de Jesus de definir a oração), e que não pode deixar de ser uma atitude habitual, quotidiana e constante, sob pena de a nossa condição cristã se ir enfraquecendo: sem cultivarmos os laços de amizade, como é que eles se podem manter?
É certo que estas realidades íntimas que têm lugar no coração do crente e que dizem respeito à sua relação com Deus, não são mensuráveis. Mas não andarei muito longe da verdade se disser que hoje os cristãos rezam pouco e mal. Talvez numa aflição, talvez quando se “sentem” dispostos a isso, talvez nalgum momento mais intenso da Missa…
Talvez por isso tenham também deixado de olhar para Deus como um Alguém, para O tratarem antes como uma “coisa”: uma “energia”, uma “luz”, mas nunca como um “Tu” com que se está e a quem se dirige a palavra, com tanta mais frequência quanto aprendemos o quanto é bom estar com Ele.
Ensinar a rezar é uma das principais tarefas dos sacerdotes, dos pais, dos avós, dos catequistas. É uma das principais tarefas da evangelização. Falta-nos tempo para esse ensino – dizemos, desculpando-nos. Mas falta-nos mesmo tempo, ou achamos que a oração, no fim de contas, não é assim tão essencial? No fundo, no fundo, não estaremos ainda a ser devedores daquela concepção que, desprezando a oração como uma inútil perda de tempo, achava que mais importante fazer muitas coisas, transformar o mundo… - mas à imagem de quem? À nossa imagem ou à imagem de Cristo? E sem a oração, onde é que aprendemos essa imagem?
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