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Padre Maccalli veio a Fátima agradecer a sua libertação e deixou um apelo
“Não esqueçam a Irmã Glória!”
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Poucas pessoas podem imaginar o sofrimento por que está a passar a Irmã Glória Narvaez Argoti, uma religiosa colombiana em cativeiro há mais de quatro anos na região do Mali, mais do dobro que o Pe. Gigi, como é conhecido Pier Luigi Maccalli, que também foi raptado e tal como ela viveu um longo tormento no deserto africano. O Pe. Maccalli veio a Fátima e contou-nos a sua história… 

Esteve em cativeiro dois anos e oito meses. Tem uma figura frágil, um sorriso tímido e bondoso. É italiano, é padre e esteve em Fátima no primeiro domingo de Agosto. Foi uma peregrinação discreta. Veio agradecer a Nossa Senhora a sua libertação em Outubro do ano passado. O Pe. Pier Luigi Maccalli foi raptado por jihadistas em Bomoanga, no Mali, onde vivia, onde estava em missão ao serviço dos mais pobres da comunidade. Passou dois anos e oito meses em cativeiro. Foi um tempo duro onde tudo esteve à prova. Até a sua fé. O momento mais difícil por que passou nessa eternidade, nesses longos 32 meses em que esteve às mãos de um grupo terrorista, foi quando o amarraram a uma árvore depois de uma turbulenta viagem de moto pelo Burkina Faso. Foi de tal forma perturbador que o Pe. Maccalli não se esqueceu mais da data: 5 de Outubro de 2018. O padre recorda agora as suas próprias lágrimas e o instante em que chegou a gritar a Deus, zangado, perguntando por que tinha sido abandonado. “Recordo-me da data: 5 de Outubro de 2018, depois de ter sido levado de mota, através de todo o Burkina Faso. Naquele dia, chegámos a uma caverna e ali me algemaram a uma árvore. Foi um momento muito desconfortável. Chorei. Gritei a Deus: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste.”

 

O terço feito de pano

Das memórias de cativeiro, o Pe. Gigi nunca esquece as orações solitárias em pleno deserto, o Terço que improvisou com um pedaço de pano e que ainda traz consigo no bolso das calças. “Sim, fiz um Terço com um pano que me cobria a cabeça do sol, e todos os dias rezava a Nossa Senhora Desatadora dos Nós confiando-lhe este grande nó e pedindo-lhe que intercedesse pela minha libertação, pela minha família, pela minha comunidade e pela paz no mundo. O Terço foi sempre a minha companhia durante todo este tempo de prisão. Muitas vezes digo que Maria e o Espírito Santo me sustentaram nesse momento difícil em que experimentei a noite escura e senti o silêncio de Deus. Mas, ao mesmo tempo, a oração dava-me força em cada dia.”

 

Símbolo do Ocidente

Durante todo o tempo de cativeiro, o Pe. Gigi questionou-se, muitas vezes, sobre a razão de tudo o que lhe estava a acontecer. Afinal, nunca tinha feito mal a ninguém, nem ofendido, pelo contrário… estava em África numa entrega total e gratuita aos outros, especialmente os mais pobres e necessitados. A própria casa onde vivia, em Bomoanga, era um sinal dessa franqueza total, de quem estava sempre de braços abertos para os outros. “Não havia polícia, ninguém estava de guarda à missão, não existia sequer um cão de guarda. Era [é] uma missão aberta a todos, bem ao nosso estilo de missionação: estar no meio das gentes, junto das pessoas e com elas”, disse na entrevista à Fundação AIS. Por isso, só encontra uma explicação: levaram-no por ser, de alguma forma, um símbolo do Ocidente. “Creio que não repararam se eu era sacerdote, não me conheciam pelo meu nome, não sabiam quem era, o que fazia ou porque estava ali. Simplesmente viram um indivíduo branco e, para eles, isso era já um emblema do Ocidente. Penso que procuravam um símbolo para alimentar a sua guerra e a sua necessidade de serem reconhecidos a nível internacional.”

 

“É religiosa e está só…”

Foram longos dois anos e oito meses de privação da liberdade. Na verdade, apesar de ter experimentado uma dolorosa solidão, o Pe. Pier Luigi nunca esteve talvez tão próximo de Deus. A entrevista que concedeu à Fundação AIS em Famões, no Patriarcado de Lisboa, em casa de Alexandra Almeida, uma missionária portuguesa, ajuda a perceber como é ingrato, tantas vezes, o papel dos sacerdotes, das irmãs em missão. Ingrato e duro. O Pe. Pier Luigi sabe, talvez melhor do que ninguém, o que significa estar em cativeiro às mãos de terroristas, o medo e a insegurança que isso deve causar. Desde que esteve refém dos jihadistas, o Pe. Gigi reza todos os dias à Mãe de Deus implorando a libertação de todos os padres e religiosas que caíram nas malhas do extremismo religioso em África. É o caso da Irmã Glória Narvaez Argoti. “Todos os dias rezo por esta Irmã e mulher que, de há quatro anos e meio para cá, ainda está nas mãos dos seus raptores. Eu sofri dois anos de prisão e foi longo. Ela tem mais do dobro de tempo de prova, é uma mulher, uma religiosa e está só. Creio que necessita de muitas orações. Peço a todos para rezarem todos os dias por ela e pelos outros prisioneiros, para que aconteça depressa a sua libertação.” Glória Argoti é uma religiosa colombiana raptada há mais de quatro anos no Mali. Ela merece todas as nossas orações, todo o nosso carinho. Ela merece tudo o que pudermos fazer pela sua libertação. O Pe. Pier Luigi Maccalli pediu-nos isso.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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