Entrevistas |
Padre Albino dos Anjos, dos Missionários da Boa Nova, diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa
“Melhores e mais santos missionários”
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O diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa revela “o sonho” de poder proporcionar aos jovens, aos candidatos ao sacerdócio e aos presbíteros da diocese uma “verdadeira experiência de imersão em campos missionários ‘ad gentes’”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, por ocasião do Mês Missionário Extraordinário, o padre Albino dos Anjos deixa propostas para a vivência deste mês e anuncia, para janeiro próximo, a realização, em Mafra, de um Fórum Diocesano das Missões.

 

O Papa Francisco convocou, para este mês de outubro, um Mês Missionário Extraordinário, com o tema ‘Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo’. O que o Papa pretende com esta iniciativa?

Foi uma feliz coincidência do Papa Francisco em aproveitar o centenário da ‘Maximum illud’, de Bento XV, como luz do constante do alvorecer da missão e como provocação a rezar e reflectir a missão neste novos tempos. O Papa Francisco, na sua intuição muito singular, desde o início do Pontificado quis dar um novo ardor, um novo entusiasmo, uma renovação nos processos e fundamentalmente, conduzindo-nos para as periferias, que afinal são a centralidade da missão. O mês de outubro é um tempo abençoado em que mãos, pés e bolsa se unem em momentos de consciencialização, de formação e de oração, naquilo que é a coluna nevrálgica da Igreja – a razão primária e original de ser da Igreja. Esta é a experiência mais radical de todos os tempos e para todos os tempos da Igreja: anunciar Cristo. Este é o grande desafio, desta tomada de consciência de que realmente todos somos missionários pelo nosso batismo. Daí esta relação umbilical entre Baptismo e Missão ou, talvez, entre Missão e Baptismo.

 

Acredita que entre os leigos, em especial os das paróquias do Patriarcado de Lisboa, há essa consciência de que a missão é exigência do batismo?

Há já experiências significativas que nos dão alento dessa esperança de um dia seremos mais e, quem sabe todos, nessa consciência. Contudo, e com objetividade, ainda há muita indiferença e desconhecimento dessa identidade inseparável. Ainda se vê na pastoral esse desfasamento entre estas duas realidades, entre o batismo e a vocação que nasce daí. Sermos Igreja para anunciarmos Cristo ainda não desceu ao coração de muitos, e, também o digo, acerca de muitas estruturas. A mensagem do Papa é muito expressiva nessa leitura: ou abraçamos a missão com o coração, ou a Igreja esfumaça-se diante dos nossos olhos

 

De que forma as paróquias podem viver este Mês Missionário Extraordinário?

Há vários níveis em que as paróquias podem ter vida e ganhar dinâmicas muito interessantes relativamente à questão de avivar esta consciência missionária, porque tudo isto passa pela oração. Sem oração não há missão. Olhemos para o exemplo e padroeira das missões, Santa Teresinha. Deve haver um clima de oração em que esta intenção missionária esteja em todos os atos litúrgicos, em todos os momentos devocionais da própria paróquia, desde as celebrações da Eucaristia, à celebração do terço, às meditações, à ‘lectio divina’… tudo aí pode ter uma leitura e uma chave missionária. O guião missionário preparado pelas OMP e ANIMAG é um bom recurso. Por outro lado, há um ponto que considero sempre importante que é penetrar, em todo o percurso de catequese – através de vídeos, de testemunhos missionários, de artigos ou de outro tipo de experiência formativa –, para que os nossos catequizandos possam ter uma maior sensibilidade e um despertar para uma dimensão que, muitas vezes, parece distante e só reservada a alguns. Eles também são missionários, no grupo de catequese, no grupo de amigos, na escola. Há também uma dimensão que, não sendo a mais importante, tem a ver com a dimensão mais solidária, mais altruísta, de caridade e partilha, em que as paróquias podem colaborar monetariamente, não só no Dia Mundial das Missões – dado que é um dia de ofertório consignado –, mas também de outras formas, com missionários da diocese, da paróquia ou eventualmente ligados a algum instituto, e que possam oferecer aquilo a que nós podemos chamar também uma pequena renúncia, sinal de partilha, de compromisso e comprometimento da parte da paróquia. Um gesto muito simples era conhecermos quantos missionários trabalham fora da nossa paróquia e diocese.

 

Na sequência desta convocação do Papa, os Bispos portugueses, na nota pastoral ‘Todos, Tudo e Sempre em Missão’, convocaram um ano missionário que vai encerrar com uma peregrinação nacional a Fátima, a 20 de outubro. Qual a importância desta ação?

Quando os senhores Bispos convocaram Portugal para este ano missionário, há por trás um outro conjunto de realidades que não são de menor importância. Não só o regressar à Carta pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, de 2010, sobre a dimensão missionária da Igreja em Portugal; depois a expectativa da Jornada Mundial da Juventude, em 2022, nos faz caminhar para outros espaços e com outras linguagens, e neste sentido, com ouvidos atentos às palavras  da Exortação Apostólica ‘Christus vivit’, do Papa, que veio na sequência do Sínodo dos jovens… tudo isto – e, no caso da Diocese de Lisboa, deste sonho missionário de chegar a todos, consequência do Sínodo Diocesano –, trouxe para a vontade de todos,  de tudo e de sempre vivermos a missão com alegria. Todos devemos estar envolvidos, tudo deve ser feito em chave missionária e sempre com sangue novo da missão, porque será a missão que nos renovará. É um grande desafio, uma grande provocação, que vai ter dia bonito e simbólico no 20 de outubro, em Fátima, aos pés de Nossa Senhora. Todas as dioceses, nesta peregrinação, são convidadas a tomarem consciência e olharem para Maria como a discípula missionária, onde nos podemos inspirar e aprender a discernir os caminhos da missão, para sermos melhores e mais santos missionários.

 

Há cerca de dois anos foi nomeado diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa. Como se encontra a animação missionária na diocese?

O departamento tem tido uma existência contínua, embora o seu trabalho tenha tido bastantes intermitências, porque as equipas vão mudando e nem sempre tem sido possível ter um trabalho contínuo. Nos primeiros meses, foi um pouco difícil até conseguirmos perceber o que é o nosso Patriarcado (desconhecia por completo a realidade eclesial – acho que só conhecia o senhor Patriarca) e compreender os planos pastorais da diocese e daquilo que estava a ser feito e se esperava deste sector. Hoje, temos uma equipa, alguns trabalhos já estão a ser executados, em colaboração com as paróquias, nomeadamente da cidade. Temos vários projetos entre mãos, concretamente um Fórum Diocesano das Missões, que prevemos realizar no próximo ano, no dia 19 de janeiro, em Mafra, onde vamos tentar, com dinâmicas novas, trazer a realidade missionária e espelhá-la de uma maneira mais viva e mais dinâmica. Neste sentido, vamos trabalhando, em ligação com os vigários, tentando fazer um trabalho de coordenação. Efetivamente, há muita coisa que é feita, em termos missionários, na diocese, com uma dimensão muito interessante. É verdade que muitas vezes não é conhecida por todos, mas que vai marcando as comunidades, as paróquias e as vigararias. Não podemos dizer que o Patriarcado de Lisboa não está a ter esta sensibilidade e consciência missionária. O Sínodo é prova disso! Mas é evidente que podemos todos em conjunto fazer muito mais. Está a ter, mais a nível local, mais a nível de vigararias, mas agora é necessário dar uma panorâmica geral para que todos se sintam provocados no sentido positivo, para todos termos uma atitude mais missionária.

 

Há o desejo de criar relação com as paróquias, propondo, por exemplo, semanas missionárias?

Existe, em coordenação também com os ANIMAG, que tem também este trabalho da realização de semanas missionárias nas paróquias. Contudo, o secretariado não tem tanto a função de ser um grande organizador de semanas missionárias. Nesta primeira fase não queremos ser tanto mais um a fazer coisas… Queremos ser, para já, um fórum onde se dá eco, onde se coordena, onde se reflete a questão missionária. Neste sentido, associamo-nos a paróquias e institutos missionários que têm essas iniciativas, mas num ou noutro caso vamos ter algum protagonismo. Por exemplo, no dia 18 de outubro teremos uma vigília missionária, na Igreja de São Domingos, na Baixa, para todo o Patriarcado. Temos uma equipa bastante grande, que trabalha comigo, com a presença também do senhor D. Daniel Henriques [Bispo Auxiliar de Lisboa], que nos ajuda neste sector, e temos muitas ideias, mas vamos vendo como as coisas vão evoluindo.

 

Esteve 11 anos em Moçambique. Qual a razão que leva muitos leigos, sobretudo jovens, a partir em missão ‘ad gentes’?

Esse é também um dos projetos que temos para o secretariado. Não sei se será no próximo ano, mas vamos tentar propor a jovens do nosso Patriarcado uma experiência de férias missionárias, nessa missão ‘ad gentes’. São João Paulo II, na ‘Redemptoris Missio’, o Papa Bento XVI, em várias intervenções, e o próprio Papa Francisco, na ‘Evangelii Gaudium’, apresentam sempre como modelo de missão a missão ‘ad gentes’, como modelos da missão que não se esgotou neste mundo globalizado. No meu caso concreto, estive 11 anos em Moçambique, na Diocese de Pemba, que não sendo uma diocese muito nova também não tinha muitos anos, tinha pouco mais de 50, e notava-se claramente que as comunidades, em termos de estruturas e ministérios, ainda estão numa fase muito incipiente. E a diocese tinha pouco clero local – e esse é um dos nossos objetivos, para quem é missionário ‘ad gentes’: formar o clero local – e, simultaneamente as dificuldades do ponto de vista de recursos económicos fragilizam muitos processos. Isto significa que quanto mais nós nos abrirmos em termos de Igreja, e este é o meu pensamento em termos do Patriarcado de Lisboa, quanto mais a diocese se abrir a este tipo de experiências missionárias de missão ‘ad gentes’, mais e melhor será o retorno eclesial, fazendo com que as nossas comunidades se tornem mais vivas, o que não significa necessariamente um maior número de crentes. Muitas vezes, queremos renovar as comunidades, mas estamos a renovar muito na base de uma linha estrutural. A meu ver, não será tanto por aí, pela renovação das estruturas, mas na renovação de processos e do próprio espírito. Neste sentido, estes jovens, estas famílias, estes leigos, estes sacerdotes, estas consagradas que vão, por X tempo, e depois voltam e trazem experiências diferentes são um grande enriquecimento de todas as nossas comunidades locais. Aquilo que sinto, e que vou vendo, é que as comunidades mais vivas são aquelas que estão mais abertas a todo este tipo de experiências. Comunidades com mais dificuldades, envelhecidas, vão-se fechando porque não foram capazes de se abrir a outro tipo de experiências. A missão ‘ad gentes’ ajuda bastante a diocese a crescer, a ter uma visão mais católica da Igreja. A meu ver, seria importante – e isso também é um sonho do nosso secretariado –  ter uma paróquia ou um padre do presbitério de Lisboa num campo de missão. Mas não se preocupem, é só sonho!

 

Missão – Patriarcado de Lisboa

http://missao.patriarcado-lisboa.pt

 

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Perfil

Sacerdote da Sociedade Missionária Portuguesa (Missionários da Boa Nova), o padre Albino dos Anjos, de 49 anos, é diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa desde dezembro de 2017. Nascido em Avanca, concelho de Estarreja, Diocese de Aveiro, foi ordenado em 1996 e esteve depois 11 anos em Moçambique, trabalhando na área da educação e da Cáritas Diocesana, até 2007, ano em que foi nomeado superior geral do Instituto da Sociedade Missionária da Boa Nova, passando também a residir em Lisboa. Em 2014, foi nomeado ecónomo geral dos Missionários da Boa Nova. “O nosso carisma é a missão ‘ad gentes’ em situações de primeiro anúncio e formação das estruturas eclesiais de ministérios e de lideranças das comunidades. A nossa gramática é partir, sempre uma linha ‘ad gentes’”, aponta o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

O padre Albino dos Anjos colabora também em algumas paróquias de Lisboa, nomeadamente São Francisco de Assis e Santa Engrácia, numa colaboração mais contínua – tal como vai acontecer, a partir deste mês de outubro, na Basílica da Estrela em alguns momentos –, e colabora também, de forma pontual, nas paróquias de Arroios e Anjos. É ainda capelão da Irmandade de Nossa Senhora do Resgate das Almas e Senhor Jesus dos Perdidos, e celebra numa capela da Paróquia de Alcântara.

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