Domingo |
À procura da Palavra
Um coração com olhos
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DOMINGO XXVI COMUM Ano C

“Um pobre, chamado Lázaro,

jazia junto do seu portão, coberto de chagas.”

Lc 16, 20

 

A educadora tinha convidado os meninos e meninas da sua sala a desenharem, ao seu gosto, um coração. Umas das mais pequenitas, embrenhou-se na tarefa e foi das últimas a acabar. Apareceram corações muito diferentes e qual deles o mais ricamente decorado, alguns até com brilhantes e missangas. Por fim, a tal pequenita mostrou também o seu desenho: era um coração simples, grande e vermelho, mas com olhos, pés, mãos e uma boca sorridente! E ela explicou: “Tem olhos para ver os outros e tudo, mãos para estender e abraçar, pés para ir ao encontro de todos, e um sorriso porque assim é que é feliz!”


O drama de quem é rico é não ver o pobre. Ou ver e nada fazer. Na única parábola contada por Jesus em que um personagem tem nome, somos todos alertados para a cegueira que a riqueza provoca. Não é feito um juízo sobre o comportamento moral do rico ou do Lázaro: não se conhecem boas ou más acções de um ou do outro. O abismo após a vida é idêntico ao desta: quem podia fazer alguma coisa nada fez. Terá pensado: que adianta ajudar um se são tantos? Como se pode resolver o problema da pobreza? Cimeiras, reuniões planetárias, assembleias faustosas e vistosas continuam a realizar-se no nosso tempo, a produzir declarações admiráveis que pouco se cumprem. A pobreza é dos outros, pouco interessa que esteja à nossa porta ou lá longe onde não nos afeta. Irónica a pretensão do rico da parábola que, mesmo na mansão dos mortos, ainda tenta pôr Lázaro ao seu serviço! É o paradigma: Rico que continua a pensar só nos ricos e a usar os pobres!


É preciso dizê-lo: haver ricos e pobres é contra o projecto de Deus. Os bens da criação e o desenvolvimento humano não podem ser só para alguns. Santo Ambrósio, comentando esta parábola, dizia: “Quando dás alguma coisa ao pobre, não lhe dás o que é teu, restituis-lhe apenas o que já é seu, porque a terra e os bens deste mundo são de todos, não dos ricos.” Um progresso económico, técnico e cultural que não beneficia todos os níveis da sociedade cava abismos de desumanidade. É preciso mudar o “coração de rico” que trazemos connosco. Agarrado a tudo o que julgamos que é nosso e obcecado por aquilo que ainda que ainda nos falta possuir! E por isso tantas vezes infeliz: cego à realidade de quem sofre, sem pés para sair ao seu encontro, sem mãos para partilhar e sem sorriso que nos ilumine o rosto!


Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias” é o programa deste ano na nossa Diocese de Lisboa. São periferias e pessoas com nome. Não vamos inventar “a solução” mas conhecer, melhorar e estimular “as soluções”; não vamos “fazer para” mas “criar com”; não vamos só “dar” mas valorizar o quanto precisamos de todos. À maneira de S. Vicente de Paulo, celebrado por estes dias, fundador dos Padres Lazaristas (hoje, Vicentinos) e que dizia: “A caridade é inventiva até ao infinito”. Como Jesus Cristo faz e ensina a fazer. E que tal começar por abrir os olhos do coração?

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