Missão |
Humberto Aires Alves Ribeiro, Grupo Missionário Ondjoyetu
“Devemos saber ser felizes onde quer que estejamos”
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Humberto Aires Alves Ribeiro nasceu a 24 de Novembro de 1995, no Hospital de Leiria. Vive em Santa Catarina da Serra onde trabalha na empresa dos seus pais. É licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Tecnologia e Gestão desde 2016. Em janeiro de 2016 partiu em missão por seis meses para Angola com o Grupo Missionário Ondjoyetu.

 

Frequentou o ensino básico na Escola Básica Integrada de Santa Catarina da Serra e o ensino secundário no Colégio de São Miguel. Diz que sempre foi “Cristão Católico”, embora a sua prática tenha “variado ao longo dos anos, consoante o meu percurso. Só agora na preparação para partir em missão é que posso dizer que reafirmei a minha fé.” Em 2016, fez parte da organização das festas de S. Sebastião que lhe permitiram “reencontrar com amigos e comigo mesmo. Descobri uma nova personalidade em mim. O facto de começar o meu exercício laboral nesse mesmo ano fez também crescer em mim autoconfiança, o que julgo que me fazia falta antes.” Em 2017, os incêndios de Pedrógão Grande marcaram-no bastante. “Eu tinha vontade de sair, de partir e de ajudar o próximo. Assim foi, cerca de 15 dias após a catástrofe que parti com a Cáritas até ao terreno. Ajudámos uma família que tinha perdido muitos bens materiais e que ficou muito grata pelo nosso trabalho. Nem meio ano, depois aconteceram novamente incêndios, mas desta vez na Vieira de Leiria, localidade para onde caminhei repetidos fins-de-semana logo após os acontecimentos. Utilizando as redes sociais, propus publicamente a quem tivesse disposto a juntar-se à causa e com isto o grupo de ajuda foi aumentando. Penso que foi nesta altura que se deu o clique e depois de me ter sido passada a desinquietação pelo padre Vítor Mira, comecei a aproximar-me do Grupo Missionário Ondjoyetu”, partilha.

 

A importância da formação antes da partida

Após participar em algumas reuniões do Grupo Missionário Ondjoyetu, começou a frequentar o plano de formação promovido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação e diz que a mesma “contribui muito para o sucesso dos missionários. Após a primeira formação no Telhal, orientada pelo orador Juan Ambrosio, surgem muitas questões e o discernimento começa a ser necessário. Foi por isso que acabei por participar nos ‘Convívios Fraternos’ nesse mesmo ano. A nossa formação continua ainda antes de partir com o acompanhamento dos membros do Grupo Missionário Ondjoyetu que nos dão a conhecer por uma ‘janela estreita’ a realidade da missão no Gungo. Na verdade, penso que sem formação e sem passar pelo discernimento que nos propõem nas formações o nosso espírito missionário fica incompleto. As formações fazem parte da nossa construção enquanto leigos missionários.” Entre as formações e a data de partida diz que lhe apareceu um “contratempo”: “Apareceu-me uma Ritinha (namorada) na vida… E agora? Já não vou em missão? CLARO QUE SIM! E tive sorte por ela me apoiar sempre! Já me conhecera com esta vontade no coração e com essa vontade ela aceitou que eu permanecesse”, partilha.

 

“A nossa vida são instantes”

A 30 de Janeiro de 2019 embarca finalmente rumo a Luanda e partilha, na primeira pessoa: “Lá já me esperavam o padre David e a mana Sílvia (voluntária que partiu em Setembro do ano passado). Penso que encarei a partida como um começar do zero, isto é, num sitio completamente diferente com condições de vida completamente diferentes onde só a língua é comum, limitei-me a “imitar” ou a seguir os exemplos que via do padre e da mana Sílvia (afinal eles já lá estavam há tempo suficiente para se sentirem à vontade). Seguimos então até ao Sumbe (a 330km de distância), onde se localiza a casa de passagem da equipa missionária. É nessa mesma casa, inserida na cidade do Sumbe, capital do Kuanza-Sul, que fazemos a nossa logística. Comprar comida, tratar de assuntos administrativos e outras papeladas e fazemos manutenção aos nossos carros, para depois subir até ao Gungo, local onde tudo realmente acontece. Fazemos 80km em estrada e depois vamos ao encontro do povo do Gungo, esquecido pelo Governo Angolano, furando 50km por uma picada muito degradada. O Gungo tem as dimensões da Diocese Leiria-Fátima e é acompanhado neste momento apenas pela equipa missionária da Ondjoyetu, da qual é parte o padre David enquanto pároco. É uma área com cerca de 70 bairros separados e onde os miúdos vibram com a passagem da equipa missionária. São muito poucos os carros que sobem a picada e para os miúdos é sempre uma algazarra. ‘Tchauéééé’ é a palavra que entoamos cada vez que se cruzamos por eles à qual eles respondem da mesma forma. Bom relativamente à minha experiência por lá… Foi muito enriquecedora. Aprendi imensas coisas de mecânica, de construção, da fé… Sei lá, até deu para aprender a dizer algumas palavras de dialeto, que é sempre bom. Apesar de o povo falar português fluente, comunicam entre si muitas vezes com o dialeto que aprenderam com a sua família e gostam que nós, à sua semelhança, comuniquemos com eles utilizando-o. Grande parte do tempo que estive em missão entreguei-me à construção de uma capela (presente na imagem), onde colaborei com a equipa de trabalhos, constituída por residentes daquelas áreas, que infelizmente acabou por não se concluir, mas como por lá ouvi dizer: ‘A obra de Deus é lenta’. Foi família para mim! Os membros da equipa de trabalhos, os residentes do bairro do Uquende, onde está em construção a capela, foram como irmãos para mim. Depois de me sentir mais à vontade depois de dois meses de estadia, qualquer coisa era motivo de gargalhada com eles. Criei laços que guardarei para sempre! Gostaria até de voltar para visitar aquela que foi a minha família durante mais de meio ano. O povo do Gungo é humilde. São pessoas como nós, com as mesmas ou até mais capacidades e infelizmente não tiveram as mesmas oportunidades que nós na Europa. Tinha previsto fazer missão durante seis meses, mas acabei por “dar umas quebras”, permanecendo um mês a mais que o previsto e nesse mesmo último mês contei com a presença da minha namorada Rita, do meu pai e do amigo Vítor que acabaram por perceber um bocadinho a realidade onde eu estava inserido, o que foi muito positivo. Na despedida fui surpreendido com uma carta, com um cabrito e com galinhas que o povo ofereceu em gesto de gratidão. Quando desci pela última vez o povo seguiu o carro a cantar e pular, ainda nem dava para acreditar que estava a regressar. Agora que já regressei, venho tranquilo, com a sensação que nunca tinha saído de cá e que nunca de lá saí. A nossa vida são instantes e devemos saber ser felizes onde quer que estejamos.”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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