Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
A educação dos ‘deseducados’
<<
1/
>>
Imagem

Com muita frequência, enquanto padre, falando às crianças de Deus como nosso Pai, recorro ao paralelismo entre o amor do pai biológico e o de Deus. Queremos fazer entender aos mais novos que assim como o nosso pai nos ama, nos abraça, cuida de nós, nos protege, acaricia, e dá a vida no dia a dia por nós, também Deus é um Pai que está presente na nossa vida, que nos manifesta o seu grande amor, a ponto de nos enviar o seu Filho Jesus que, na Cruz, se entrega e dá a vida por nós, sabendo que podemos confiar sempre n’Ele.

Mas confesso que, frequentemente, me sinto inibido em usar estas imagens ou comparações. A estrutura familiar, hoje em dia, está em crise e vai sofrendo grandes alterações. Por isso, falar a crianças usando a imagem do pai biológico pode ser, inadvertidamente, ocasião de algum momento de sofrimento ou tristeza para aqueles que não têm o pai próximo, que veem o pai ser violento em casa, de quem sabem ter sido rejeitados ou até maltratados. No entanto, Deus, que é verdadeiramente Pai, é Aquele que nos faz sentir a segurança que não encontramos em outro lugar. É Aquele que está presente em todos os momentos, mesmo que não sejamos capazes de o perceber. “É como aquelas mães a quem basta um olhar para perceber tudo sobre os filhos: se estão contentes ou tristes, se são sinceros ou escondem alguma coisa...”, observava esta semana o Papa Francisco, na audiência-geral de quarta-feira.

Mas o problema da família hoje, da violência, de tantas situações marginais, na sociedade, passa por uma questão de formação e educação de base. O modo como aprendemos a olhar para o outro, sem a intenção de o usar, mas de amar com verdade, humildade, reconhecendo as imperfeições de cada um e as próprias limitações, deveria fazer-nos aproximar mais uns dos outros. A atitude da soberba, do poder, do domínio sobre o outro, revela a fraqueza e a insegurança que tantas vezes se pode sentir. Deus Pai não se apresenta como dominador, mas como Aquele que serve.

Há, no entanto, atitudes que podem surgir por imitação, por estímulos exteriores, por reação ao que já se viveu. Assusta-me ver notícias que revelam que adolescentes pesquisam, em grande número, e observam na rede digital, informações e vídeos sobre automutilação, violência e suicídio. Se hoje os dados sobre a violência doméstica já são muito preocupantes no nosso país, daqui a uns anos, o estado da situação poderá ser muito mais grave. O que fazer? Acredito que se deva investir mais numa formação presencial, acompanhando, de perto, aquele que se educa. A educação deixada às plataformas digitais leva a riscos difíceis de controlar. Mas a educação precisa, também, da correção oportuna, porque ensinar a liberdade não significa deixar fazer tudo o que se quer. A educação deveria começar em casa, com o exemplo, e não deixar para os outros a educação dos ‘deseducados’.

 

Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES