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Isilda Pegado
Caminhada pela Vida

1 – A “Caminhada pela Vida” nasceu no âmbito das campanhas do referendo do aborto de 1998 e 2007. Em 2012, retomámos a iniciativa e, desde então, todos os anos, saímos à rua, numa tarde de sábado para, publicamente, afirmar o valor da Vida Humana, de todas as vidas humanas.

Não tem sido uma decisão fácil ou consensual. Porque há uma certa relutância em “sair à rua”, usar o espaço público para uma questão tão séria como é a defesa da Vida Humana, ou ainda porque não há tradição de o fazer, etc., etc. Os argumentos podem ser muitos, sendo o mais radical o “não gosto”…

2 – É certo que este é um momento, é um gesto simples, onde se encontram muitas pessoas (dezenas de milhar) que partilham desta preocupação – assistimos à destruição da Civilização baseada no Amor e na Fraternidade – e não se conformam. Só este encontro de pessoas, de amigos, de famílias, por um ideal, já vale a pena.

3 – Muitas vezes pensamos que estamos sozinhos. O mundo apresenta a sociedade do utilitarismo, do mais capaz, do mais esperto, como “o modelo”. De uma forma mais ou menos disfarçada, caminhamos para uma sociedade eugénica. A vida, é apenas para alguns. Quem não preenche aqueles parâmetros ou é eliminado (aborto) ou é escondido e esquecido (idosos, deficientes, etc.). Há uma mentalidade que se espalha e cujos limites desconhecemos. Na Holanda discute-se já, se o facto de atingir os 75 anos não é suficiente para pedir a eutanásia. Isto é, a partir dos 75 anos as pessoas são descartáveis.

4 – Porém, olhamos as pessoas concretas que têm problemas físicos ou mentais, que estão com debilidades concretas, por via da idade, e verificamos que são amadas e queridas. Que mesmo os cuidadores recebem recompensas imensas. Só num mundo de Amor é possível a Felicidade. O inverso é a violência e a morte que pairam.

5 – A Caminhada deste ano será no dia 4 de novembro às 15 horas. Sai do Chiado e segue até São Bento.

Outras cidades do País (Porto, Aveiro, Coimbra) também se estão a organizar para também ali se levar a cabo a Caminhada pela Vida.

6 – Num tempo em que a larga maioria da Comunicação Social está refém de ideologias fracturantes, há que encontrar formas de comunicar publicamente os valores que nos orientam. Ficar calado, não expressar publicamente a nossa opinião, é pactuar com as referidas ideologias.

7 – Como tem referido o Papa Francisco, a Ideologia é sempre uma construção mental que omite a realidade, que se forma a partir de um relativismo onde a verdade é afastada e negada. Há um dever cívico de defesa do Homem. Também nas palavras do Papa – “há uma ecologia humana”.

8 – O Poder facilmente tem a tentação de “moldar” a pessoa em função das tais ideias pré-concebidas e relativistas.

Quando se volta a ouvir falar da eutanásia, da qualificação das pessoas em função das suas capacidades ou da falta delas, quando a dignidade de uma vida depende de um relatório médico ou ainda quando caminhamos todos para esse “dever” de acabar com o “peso que somos para aqueles que nos estão mais próximos”, não podemos calar.

Por isso, no Sábado, dia 4 de novembro próximo pelas 15 horas sairemos pelas ruas de Lisboa, desde o Chiado até São Bento, faça chuva ou haja Sol (de São Martinho), para afirmar esta verdade inalienável – toda a vida humana tem Dignidade.

Daqui até lá, temos, cada um, de levar esta mensagem aos que nos rodeiam. A todos aqueles que sabem o que representa esta ideologia da morte, do individualismo e da solidão. Apelamos às estruturas organizadas para que estejam presentes neste evento com audácia, com criatividade e entrega.

Construir um mundo mais feliz depende de cada um de nós. De muitas circunstâncias o fazemos. Mas agora, há uma Caminhada que espera por nós.