Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Renascer das cinzas
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Chegámos das férias. Sim, isso mesmo, férias. Aquele tempo de descanso anual, repartido ou não, no qual, os que podem, procuram repor ou retemperar energias para retomar um novo ano de trabalho com maior vigor. Férias que também os padres fazem e precisam mesmo de fazer. Se houver quem pense que os padres não precisam de férias, desengane-se porque não podemos dar o que não temos. Por isso, também os padres gostam de vestir uns calções e pisar a areia, ou dar uns mergulhos, passear, conviver, ler, respirar o ar renovador, sentir a tranquilidade de um campo ou a mística de qualquer lugar onde se proporcione, também, o encontro espiritual com Deus. Porque as férias também são tempo de encontro com Deus. 

Mas, como dizia... chegámos das férias. Chegámos, mas apreensivos porque este tempo foi marcado por muita tensão no ar. A tragédia dos incêndios. O susto de quem viu o fogo à sua porta, o desespero de quem perdeu os seus bens, a sua vida construída ao longo de anos e agora tem de recomeçar de novo. Quase todos os anos é assim, mas este ano tudo pareceu tão diferente e tão pior. As justificações deverão ser dadas ou atribuídas por quem de direito. 

Eu, porém, não consigo imaginar o que é a dor de quem passa por esses momentos e não saberei dizer o que sente quem vê o fogo devorador à sua frente. Mas ao passar no meio das cinzas, ainda fumegantes, sei o que senti. Um sentimento de impotência, mas a certeza dada pela esperança, de que é sempre possível renascer das cinzas. A natureza ajuda-se a ela própria e o homem precisa de encontrar os meios para essa reconstrução.

Contudo, dou por mim a questionar: o que temos vindo a construir ou desconstruir, ao longo dos anos, para que se manifeste esta atitude criminosa de quem resolve ou pensa resolver os seus problemas pelo fogo? Serão muitas vidas desesperadas, desequilibradas, abandonadas, que procuram compensações emocionais ou outras? Haverá ordenamentos e cuidados preventivos que são necessários e sobre os quais a própria Conferência Episcopal já se manifestou, numa nota recente. Porém, acredito que haverá outros problemas, a montante, que precisam de ser resolvidos numa sociedade que, cada vez mais, vive numa atitude egoísta, em lógica economicista, onde se acentuam corrupções pela procura de um lucro, rejeitando valores fundamentais, contrariando a própria natureza. Conforme se vai percebendo, o que hoje mais interessa é o bem-estar pessoal, a afirmação de uma personalidade, de uma cultura, de um modo de vida, esquecendo, no entanto, o que é e o que traz a verdadeira Vida. O fogo queima, destrói, mata, mas também purifica. Por isso, acredito que no meio das ‘cinzas’ em que vamos vivendo é possível renascer. Assim o homem queira!

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

 p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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