Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Entrar na Vida
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Nesta próxima quarta-feira, dia 2 de novembro, a Igreja celebra Todos os Fiéis Defuntos. Este é um dia não de luto ou de tristeza, porque recordamos os que já partiram, mas é um dia em que somos convidados a estabelecer uma maior e mais íntima comunhão com aqueles que nos precederam. É dia, sobretudo, de esperança porque sabemos e acreditamos que em Cristo ressurgiremos para uma vida nova.

Celebrar Todos os Fiéis Defuntos é, por isso, oportunidade para a oração e, nesse sentido, os cristãos são convidados a rezar por todos aqueles que já partiram, fazendo-o, de forma especial, pela celebração da Eucaristia. Correspondendo a uma antiga tradição, para além das celebrações nas igrejas, é celebrada Eucaristia, também, nos cemitérios.

De origem grega, a palavra cemitério significa ‘dormitório’, ‘lugar de repouso’. Aí dormem aqueles que já viveram a sua vida terrena, que não morreram mas, como dizia, na hora da partida, Santa Teresinha do Menino Jesus, “entram na vida”. O cemitério é, por isso, um lugar sagrado e não deve ser desprezado, pelo contrário, deve ser sempre cuidado e respeitado, por todos.

Na passada terça-feira, a Santa Sé, através da Congregação para a Doutrina da Fé, publicou a instrução ‘Ad resurgendum cum Christo’ (‘Para Ressuscitar com Cristo’) a propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas da cremação. Este documento, breve, é muito claro acerca de uma temática que precisava, de facto, ser esclarecida e tem por objectivo “repor as razões doutrinais e pastorais da preferência a dar à sepultura dos corpos e, ao mesmo tempo, dar normas sobre o que diz respeito à conservação das cinzas no caso da cremação”.

Assim, é recomendado pela Igreja que “os corpos dos defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado”. E explica: “Ao lembrar a morte, sepultura e ressurreição do Senhor, mistério à luz do qual se manifesta o sentido cristão da morte, a inumação é, antes de mais, a forma mais idónea para exprimir a fé e a esperança na ressurreição corporal”. Deste modo, “a Igreja, que como Mãe acompanhou o cristão durante a sua peregrinação terrena, oferece ao Pai, em Cristo, o filho da sua graça e entrega à terra os restos mortais na esperança de que ressuscitará para a glória”.

Concretizando: “Enterrando os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne, e deseja colocar em relevo a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa da qual o corpo condivide a história.”

Sobre a cremação, o documento da Santa Sé esclarece que “a Igreja continua a preferir a sepultura dos corpos” e que a cremação não é proibida, “a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”. As cinzas do defunto “devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica”.

Porquê? Porque “a conservação das cinzas num lugar sagrado pode contribuir para que não se corra o risco de afastar os defuntos da oração e da recordação dos parentes e da comunidade cristã. Por outro lado, deste modo, se evita a possibilidade de esquecimento ou falta de respeito que podem acontecer, sobretudo depois de passar a primeira geração, ou então cair em práticas inconvenientes ou supersticiosas”, explica o documento, assinado pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Gerhard Müller.

Assim, a Santa Sé esclarece, também, que a conservação das cinzas em casa “não é consentida”, “não podem ser divididas entre os vários núcleos familiares” e “deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de conservação das mesmas”. Do mesmo modo, e “para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista”, não é permitida “a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar”.

“Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objectos, tendo presente que para tal modo de proceder não podem ser adoptadas razões de ordem higiénica, social ou económica a motivar a escolha da cremação”.

 

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

 

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