Entrevistas |
60 anos das Equipas de Nossa Senhora em Portugal
“Partir com alegria para as periferias ao encontro das famílias feridas”
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O Casal Responsável Internacional das Equipas de Nossa Senhora (ENS), Maria Berta e José Moura Soares, considera ser “absolutamente necessário” que o Movimento “se preocupe e incentive a formação dos seus casais”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, por ocasião do encontro em Fátima que assinalou os 60 anos de presença das ENS em Portugal, este casal sublinha que “a melhor forma de mostrar o valor do Matrimónio aos jovens é pelo testemunho”.

 

Estão a meio do mandato de seis anos (2012-2018) como Casal Responsável Internacional do Movimento das Equipas de Nossa Senhora. Que missão é esta e o que tem sido possível realizar?

As ENS são um Movimento Internacional com cerca de 12.300 equipas, constituídas por mais de 130.000 membros, espalhadas por mais de 80 países. Cabe à Equipa Responsável Internacional assumir a responsabilidade geral do Movimento, de forma colegial, exercendo este serviço em união estreita com os casais responsáveis das Supra Regiões, tendo em consideração o carácter de internacionalidade do Movimento, com uma grande diversidade de línguas e de culturas.

Os objetivos para as ENS que nos merecem especial atenção, no período de 2012/18, são: aprofundar o sacramento do casamento e a espiritualidade conjugal em todas as suas dimensões; dar uma resposta às necessidades de formação cristã de muitos casais, com a criação de uma plataforma na internet de programas de formação a distância a colocar à disposição de toda a Igreja; preparar os casais para a missão, respondendo ao apelo de uma ‘Igreja em saída’; melhorar a formação, a comunicação e a ligação dentro das ENS; e ir ao encontro das necessidades e das preocupações dos jovens casais.

 

Que propostas as ENS têm para incutir uma maior experiência de vida cristã nos casais?

Em 1939, o padre Henri Caffarel, fundador das Equipas de Nossa Senhora, com quatro casais, teve a intuição de que muito havia a fazer para que a espiritualidade em casal fosse uma realidade, constituindo então a primeira equipa de casais. Casais que necessitavam que a sua fé fosse alimentada permanentemente. Logo a seguir à II Guerra Mundial, em 1947, foi proclamada a Carta das Equipas de Nossa Senhora (CARTA Fundadora), documento que, na altura, era profundamente renovador no que dizia respeito ao sacramento do Matrimónio, como um caminho em casal para a santidade.

A pedagogia do Movimento assenta em três meios de aperfeiçoamento fundamentais: Pontos Concretos de Esforço (em que se destacam, pela sua especificidade, a oração conjugal, o diálogo conjugal e a regra de vida); orientações de vida; vida de equipa (5 a 7 casais e um padre conselheiro espiritual) assente também em três pilares: comunidade reunida em nome de Cristo; entreajuda; testemunho. Todos estes meios de aperfeiçoamento contribuem muito para o crescimento de fé no casal, com consequências evidentes para a vida em família.

 

Em setembro passado, em Roma, durante o Encontro Internacional de Regionais, Fátima foi eleita para acolher o Encontro Internacional das ENS em 2018. Será um momento especial para o Movimento em Portugal, no ano seguinte ao centenário da Aparições…

Sem dúvida que a escolha de Fátima, por larga maioria dos votos dos responsáveis das ENS, vai contribuir muito para o desenvolvimento do Movimento em Portugal, que neste momento já é a terceira Supra Região em número de equipas, contando também para este número as equipas de África Lusófona, que são cerca de 350 e estão integradas na nossa Supra Região. O Encontro Internacional vai realizar-se no mês de julho de 2018, esperando-se uma participação de cerca de 10.000 pessoas, vindas de todo o mundo, o que vai obrigar os casais das ENS de Portugal a um grande esforço na preparação e execução de um Encontro desta natureza e dimensão. Mas com o esforço de todos e a ajuda do Espírito Santo, confiamos que o manto protetor de Nossa Senhora nos ajudará a ‘pôr de pé’ tão grande desafio.

 

Nesse encontro em Roma, tiveram a oportunidade de conversar e conviver com o Papa Francisco. O que mais guardam desse momento?

Os Casais Responsáveis Regionais das ENS de todo o mundo, presentes no Encontro de Roma, tiveram a graça de serem recebidos pelo Santo Padre, que teve palavras elogiosas para o nosso Movimento, frisando a sua importância pela missão que desempenhamos em relação aos casais e famílias. Exortou-nos a partir em missão, tornando-nos próximos das famílias feridas, pedindo-nos que sejamos instrumentos da misericórdia de Cristo e da Igreja. Foi realmente um grande privilégio termos a possibilidade de conviver e conversar um pouco com o Papa Francisco, que demonstrou, mais uma vez, uma grande abertura e ao mesmo tempo preocupação face à situação que se vive no mundo de hoje.

 

O recente Sínodo dos Bispos sobre a família reafirmou o sentido do valor inegável do matrimónio indissolúvel. É cada vez mais um ir contra a corrente, algo que o Movimento também sente na sua missão na sociedade?

Nós somos chamados pelo Senhor para amar mais, principalmente os irmãos mais necessitados e, como nos aconselha o Papa Francisco, devemos partir com alegria para as periferias, ao encontro das famílias feridas, pois essa é a nossa vocação de casais cristãos. Os casais das ENS, pela sua vocação, devem estar preparados para ajudar casais em dificuldade, para o acompanhamento de casais em segunda união, etc.

 

No movimento das ENS, de que forma é mostrado o valor do Matrimónio aos jovens?

A melhor forma de mostrar o valor do Matrimónio aos jovens é pelo testemunho, pois eles, mais do que ninguém, são muito mais sensíveis ao testemunho e às ações do que às palavras. O Movimento tem feito um esforço muito grande em chegar aos jovens, incentivando muitos dos seus casais a trabalharem na pastoral juvenil, nos CPM’s, etc. Por outro lado, tem-se procurado que os jovens casais entrem cedo para o Movimento para poderem ser acompanhados logo no início da sua vida de casados. Para isso, têm sido tomadas em conta as suas necessidades e dificuldades quotidianas, sem se perder o espírito das ENS. A utilização das tecnologias e métodos modernos de difusão e de comunicação têm sido escolhidos e adaptados em função de cada caso específico. É ir um pouco contra a corrente, mas em alguns países os resultados são encorajadores.

 

Na celebração dos 60 anos de presença em Portugal das ENS estiveram presentes em Fátima cerca de 900 casais de todo o país. Que principais desafios se colocam, hoje, a este Movimento de espiritualidade conjugal?

É absolutamente necessário que o Movimento se preocupe e incentive a formação dos seus casais, pilar onde assenta a ponte que temos que atravessar e que nos impõe cada vez mais um compromisso assente na estabilidade do amor. Usar a força do testemunho com a criatividade que o Espírito nos concede – não esquecendo que testemunhar é um dom de Deus –, recriar e adaptar os meios de formação, garantindo a fidelidade ao nosso carisma, para dar resposta aos desafios concretos dos dias de hoje, é o primeiro passo a dar. A espiritualidade conjugal dá-nos a força de sermos casais discípulos missionários: discípulos porque nos sentimos dispostos a enfrentar com ousadia esta aventura, compreendendo a missão como uma vocação; missionários porque devemos partir sem medo para o mundo que nos espera.

As ENS devem caminhar para ser um Movimento de ‘equipas de casais em saída’, acompanhando o itinerário da Igreja. “O sonho missionário de chegar a todos”, como afirma o Papa Francisco na Exortação Apostólica ‘Alegria do Evangelho’ – é este o lema que as Equipas de Nossa Senhora querem viver nos dias de hoje.

 

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Tó e José Moura Soares

Casados há 53 anos, Maria Berta (conhecida nas ENS por Tó) e José Moura Soares são o Casal Responsável Internacional das Equipas de Nossa Senhora. Têm três filhas e três netos e moram em Carcavelos, onde prestaram, “há alguns anos atrás, muitos serviços” na paróquia, “principalmente na pastoral juvenil e familiar”. “Conhecemos e entrámos para o Movimento das ENS em Moçambique, em 1966 – vamos fazer 50 anos no início do próximo ano –, durante uma comissão de serviço do Zé, que é oficial do Exército. Num período muito conturbado e difícil da guerra do Ultramar, com constantes mudanças de domicílio, procurámos sempre, nos curtos períodos que passávamos em Portugal, integrarmo-nos nas ENS, porque sabíamos que nos dava estabilidade e força para prosseguir em casal no caminho do Senhor. Só em 1976, com o fim da guerra colonial, assentámos e fixámo-nos em Carcavelos, onde ajudámos a criar uma das três primeiras equipas (Carcavelos 1) lançadas na linha de Cascais, por iniciativa do saudoso padre Aleixo Cordeiro, pároco de Carcavelos”, recordam ao Jornal VOZ DA VERDADE. “A partir daqui, dissemos sempre ‘Sim’ ao Senhor, quando fomos chamados ao serviço das ENS. Fomos casal piloto, casal responsável de Sector, de Região, da Supra Região de Portugal e, a partir de 2006, membro da Equipa Responsável Internacional e, após 2012, como seu Casal Responsável”, descrevem.

Hoje, não têm dúvidas em afirmar que a entrada para as ENS, quando eram recém-casados, “foi determinante” na vida conjugal e familiar: “Ajudou-nos a crescer como pessoas e principalmente como casal, percebendo que as nossas diferenças eram um dom de Deus para nos tornar mais fortes, complementando-nos”.

  

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Família: “Sujeito imprescindível para a evangelização”

“Os esposos cristãos, casados no Senhor, fazem o que Jesus Cristo faz: amam, com o verdadeiro significado do amor, que é dar a vida, e tudo oferecem a Deus”, lembrou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, que na manhã do passado Domingo, 22 de novembro, Solenidade de Cristo Rei, presidiu à Eucaristia do 60º aniversário do Movimento das Equipas de Nossa Senhora em Portugal. Na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, D. Manuel Clemente convidou os muitos casais presentes a “descentrarem-se de si e a porem-se constantemente nas mãos de Deus”.

O Encontro Nacional das Equipas de Nossa Senhora (www.ens.pt) decorreu no fim-de-semana de 21 e 22 de novembro, em Fátima, com o tema ‘ENS – Caminho de Vida e Missão: 60 anos em Portugal’, e teve a participação de cerca de 900 casais. Após a Eucaristia, no Centro Pastoral Paulo VI o Cardeal-Patriarca refletiu sobre a colaboração das ENS na vida da Igreja, focando três números (2, 11 e 89-90) do Relatório Final do Sínodo dos Bispos sobre a família, para destacar que “as famílias de hoje são enviadas como discípulos missionários”. Nesse sentido, “é necessário que a família se redescubra como sujeito imprescindível para a evangelização”. D. Manuel Clemente desafiou ainda os casais a mostrarem que “é possível o projeto familiar cristão”, lembrou que “a família é uma escola da mais rica humanidade, que constitui o fundamento da sociedade”, e manifestou a importância de “a pastoral ser organizada em chave familiar”. “Toda a comunidade cristã é o lugar da família”, garantiu o Cardeal-Patriarca.

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