Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Cristãos em extinção
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Em fevereiro deste ano, ao acompanhar um grupo de peregrinos à Terra Santa, na nossa passagem por Belém, na Palestina, testemunhava-nos a guia local que o número de cristãos católicos é cada vez mais reduzido, com uma forte tendência para a sua extinção. Do mesmo modo, apelava-nos para que nunca deixássemos de visitar os lugares santos e pedia-nos que publicitássemos aqueles lugares para que se pudesse continuar a garantir a presença de cristãos naquele território. Para além de todas as contingências e contendas político-religiosas que duram há muito tempo, o fenómeno da emigração, também consequência das causas anteriores, afeta fortemente aquele lugar. No entanto, há outros lugares onde a extinção de cristãos corre o risco de acontecer, sob o nosso olhar, embora atento, impotente.

Esta semana foi dado a conhecer o relatório anual da Fundação AIS alertando para o facto de o cristianismo estar a desaparecer em vastas regiões do Médio Oriente. Este assunto, que abordamos nesta edição do Jornal VOZ DA VERDADE, de forma mais desenvolvida, suscita algumas preocupações e reflexões a que não devemos, de modo nenhum, ser alheios.

Se por um lado a comunicação social nos vai mostrando as perseguições a determinadas populações, a destruição de património cultural e histórico de valor incalculável para a humanidade, vidas terminadas de modo cruel, sofrimentos infinitos no meio de tanta guerra e intolerância, por outro vamos começando a perceber que o martírio é também deste século e alimenta-se pela imagem e propaganda espontânea em que facilmente caímos.

Testemunhos de diversas situações de perseguição foram relatados esta semana, em Lisboa, por quem, frequentemente, vive estes dramas. Histórias de como se sobrevive a ataques terroristas, de quem se sente cansado da guerra, de quem assiste ao êxodo de deslocados e refugiados, e de quem se empenha num trabalho pela reconciliação e vive feridas muito profundas.

São histórias da vida real, onde as ameaças se fazem sentir e passam por despercebidas na opinião pública porque simplesmente são homens e mulheres, com nome, com vidas próprias, muitos anónimos, mas com uma referência e identificação comum: são cristãos.

A partir do estudo que a AIS apresentou, esta organização dependente da Santa Sé estima que dentro de cinco anos a religião cristã estará eventualmente erradicada de algumas regiões do Médio Oriente, consequência de uma “limpeza étnica motivada pela religião”.

Desde o seu início que as comunidades cristãs foram sendo sujeitas a perseguições e, mesmo assim, expandiram-se mundo fora, levando a fé mais longe. A vida cristã e tudo o que ela implica incomoda e, talvez por isso, se torne inconveniente perante este mundo cada vez mais afastado de Deus. Na passada terça-feira, 13 de outubro, o Cardeal Giovanni Battista Re recordava, em Fátima, que “hoje a fé está posta a dura prova”, salientado que “estilos de vida e correntes de pensamento põem-na em dúvida ou até a minam pelas raízes”. Do mesmo modo alertava que “a maior desgraça que nos pode acontecer é a perda de fé”. Acreditamos que diante de situações tão dramáticas, pela fé, Cristo, o grande sinal da Cruz, está presente, e continuará a libertar quem se sente prisioneiro. E a fé viverá.

 

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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