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Isilda Pegado
Possuir e dominar a Terra (Gen. 1,28)

1 – O domínio da Terra e a sua posse é talvez o maior desafio feito ao Homem de todos os tempos e latitudes, e eventualmente o primeiro mandamento Bíblico (Gen. 1,28).

Ao Homem é totalmente dada a Natureza que varia de época para época, de dia para dia e de lugar para lugar. A sua diversidade é, ainda hoje e pese embora o vasto conhecimento já existente, um enigma que todo o ser humano que, com honestidade intelectual, se questiona traz dentro de si.

2 – Perante esta grandeza que lhe é exterior e totalmente dada, o homem vive no que podemos chamar, uma contradição – por um lado, uma enorme vontade de agir e de felicidade e por outro lado, as acções concretas que são sempre limitadas e redutoras. Esta vontade humana, despertada pelo Eterno e pelo Infinito, luta contra os limites, para saber mais, dominar mais e ser mais.

Movida por estes dois limites, a acção humana torna-se Ética. Isto é, conforme à felicidade humana se, nesse percurso for respeitada a condição humana, e não for uma aventura na “redefinição”/destruição do Homem e da Humanidade.

3 – Quando hoje assistimos às investidas das engenharias genéticas e sociais, independentemente da questão religiosa (que necessariamente ajuda a colocar o problema) o que está em causa é a condição humana, o homem que queremos, ou não, manter enquanto tal.

De cada vez que a ciência e a técnica avançam significativamente estas questões são colocadas. E, as Sociedades hão-de definir o que pretendem. É nesta preocupação que nasceu a Bioética, as ciências Biomédicas, a Biopolítica, a Ecologia, etc. Onde mais do que aquela vontade individual de que falávamos acima, e que é o motor, há uma reflexão colectiva, em nome da Sociedade, que estabelece orientações para a acção Humana.

4 – Tal reflexão, pese embora, seja participada pela colectividade não pode deixar de ser feita de uma forma fundamentada, muito estudada em todas as suas implicações e, acima de tudo informada nos seus pressupostos e consequências.

Também assim, a honestidade de quem se dedica a estas ciências (novas) terá de reconhecer a sua essência – o Valor e os Valores do Homem que derivam de uma concepção integral da pessoa – física, psíquica e espiritual. E não pode ser instrumento de uma qualquer ideologia sectária ao serviço de este ou aquele projecto de Poder.

5 – A Lei, as leis, reflectem necessariamente essas posições e, em larga medida, orientam o Povo que as segue. Algumas são ditadas por um saber de séculos que se cimentou nas Sociedades, mas outras partem de concepções ideológicas que se pretendem injectar no tecido social. A estas últimas chamamos leis “fracturantes”, “progressistas” ou até “liberais”.

6 – Um projecto político assente nestes pressupostos ideológicos é seguramente um salto no desconhecido, na negação da condição humana (ontologia). Como tantas vezes tem dito o Papa Francisco, “uma mentalidade do útil ou a “cultura do descarte” não serve o Homem”. Não basta citar o Papa por vezes, é necessário escutá-lo em todo o seu saber e dizer.

Para possuir e dominar a Terra (Gen. 1,28) é necessário sujeito (homem) e objecto (Terra).