Vida Consagrada |
Vida Consagrada
Espiritualidade da Vida Consagrada
<<
1/
>>
Imagem

A espiritualidade religiosa pode ser uma antecipação escatológica de uma realidade ressuscitada. Uma realidade em que toda a Humanidade será o que, desde sempre e no amoroso desígnio divino, está chamada a ser: um sacramento do amor, da verdade, do bem, da liberdade, do serviço.

 

Pois bem, a espiritualidade consagrada, enquanto um acolhido e cuidado dom carismático de Deus, é própria de quem vive, intensamente, com grande liberdade e com a assistência do Espírito Santo, uma diaconia teandrocêntrica em contextos onde decorrem os principais dramas humanos. Colocando-se ao lado daqueles a quem a sociedade estima como sem-valor e remete para as fronteiras da morte – os pobres, os mal-amados e os (quase) escravos –, os religiosos podem contestar os determinismos orgânicos, sociais e de status. Daqui conseguem desimpedir, a todo o género humano e a partir da entrega aos mais feridos dos feridos deste, um possível caminho de mudança que, assente no contacto com uma Presença que refulge numa humanidade desapropriada de si, permitirá acolher a vida e a, sempre gratuita, vida em abundância (cf. Jo 10,10).

Deste modo, tal paradoxal espiritualidade antecipa – numa dinâmica co(m)-transfiguradora, em Cristo Jesus, do tempo, da matéria e do espaço de uma Criação assim repleta da glória de Deus (cf. Hab 2,14; Mt 17,1-9) – um Céu que, para o ser humano, não será senão a mais intensa possível comunhão com Deus e, n’Este, com os demais. E isto, e como vimos detalhadamente, mediante o implementar três dos esteios mais fundamentais de um Reino de Deus que, precisando da presença atual e ativa de Jesus Cristo, só pode ser edificado a partir de um “de dentro”: a pobreza – tão espiritual, quão material –, a castidade – tão celibatária, quão pura – e a obediência – tão dialogada, quão incondicional.

 

Vivendo as três vertentes destes esteios – as de caminho virtuoso; atitude perante a vida; e, por fim e no que faz diferir dos demais cristãos, estado dinâmico na vida –, os consagrados religiosos, pelo re-pneumatizar a nativa energia vital humana, podem centrifugamente canalizar, de um modo mais veemente do que os restantes batizados, tal energia presente nas paixões pelo ter, pelo prazer e pela afirmação. E isto para a implementação do Reino e, naquilo que ultimamente coincide com esta realidade, o bem e a realização dos outros seres humanos. Enquanto registada “imagem de marca” de Jesus Cristo, o religioso está chamado a respirar, espiritualmente e a plenos pulmões, a Deus e a comunicar alegremente esta respiração, que permite a Deus nascer no sujeito humano, aos demais.

Como todo o sacramento, em que a materialidade original se esvai em contacto com os corações divinos e humanos, a vida espiritual religiosa – para não perder o seu equilíbrio, antes ser fecunda e apontar para o seu sentido mais substancial – deve ser vivida, sem arrojos idealistas cheios de bravata e em cada contexto em que está inserida, de uma forma genuinamente inteligível. E isto numa tensão, compartida entre todos os membros da comunidade, entre a proximidade e o afastamento das pessoas – livre, consciente e voluntário – de determinados modos de ser e de expressar. Modos que sejam, por um lado, meramente compreensíveis para quem os vive – dimensão ad intra de tal tensão – e, por outro, totalmente semelhantes aos do Mundo – dimensão ad extra.

Arraigada, como toda a vida cristã, nos sacramentos, na oração e numa vida feita ela própria oração, a vida consagrada comunitário-comum dos consagrados – enquanto convergência cristocêntrica de “sins”, que se opõem às idolatrias desumanizadoras e se aproximam visivelmente de um plano pelo qual Deus cria e sustenta o Universo – está necessariamente marcada pelo que transcorre das três vertentes do primigénio voto de consagração religiosa. Em concreto: a pobreza consagrada em comum leva à partilha de bens materiais e espirituais, postos ao serviço dos pobres a partir de uma mínima seguridade pensada para a generosidade; a castidade consagrada em comum liberta energias e disponibilidades de transparência do, incondicional e universal, amor divino; a obediência consagrada em comum reúne elos e, daí, agrega vontades numa única realidade fraterna de vida e de missão acolhidas para maximizar a fecundidade das atividades.

texto por Alexandre Freire Duarte, professor de Teologia da UCP
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES