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XVI Jornada Diocesana da Pastoral da Saúde
“A relação com Deus é a relação com o outro”
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“Chegar mais longe, não apenas quantitativamente mas, sobretudo, qualitativamente” foi o desafio lançado por D. Manuel Clemente, no passado dia 7 de fevereiro, em Lisboa, na XVI Jornada Diocesana da Pastoral da Saúde. Num auditório lotado, o diretor diocesano da Pastoral da Saúde, monsenhor Vítor Feytor Pinto, apelou a uma “renovação das estruturas” desta pastoral.

 

Na sessão de abertura da XVI Jornada Diocesana da Pastoral da Saúde, que decorreu no auditório do Hospital Pulido Valente, o Patriarca de Lisboa considerou que a Igreja tem “que chegar a todos”. “A começar por aqueles que muitas vezes não damos conta e que estão tão perto de nós, na nossa própria casa, família e vizinhos, nas nossas ‘comunidades’”, apelou D. Manuel Clemente.

Fazendo referência a um dos capítulos da Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’, do Papa Francisco, que se encontra a ser trabalhado atualmente, na caminhada sinodal da Diocese de Lisboa – ‘A crise do compromisso comunitário’ –, o Patriarca alertou para os riscos de uma “solidão” que surge por falta de compromisso e que até “pode matar”. “Quando nos excluímos das coisas comuns, a começar pela subsistência e pela organização, em geral, da sociedade e deixamos o outro só, isso não é bom sinal porque a solidão a prazo e até a curto prazo, pode matar. Quando o Papa Francisco lança esta reflexão [Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’] a toda a Igreja, e que, em Lisboa, assumimos como uma caminhada sinodal, é para ver se resolvemos ‘a crise do compromisso comunitário’”, apontou D. Manuel Clemente.

A componente “qualitativa” na saúde, em prol da “quantitativa”, é um fator essencial e “inadiável” para o Patriarca de Lisboa. “Chegar mais longe, numa resposta que seja integral, porque corresponde à totalidade do ser humano: no corpo, na alma e no espírito. Isto é um enorme desafio, mas é importantíssimo e inadiável”, considerou.

 

Resposta integral

No encontro que juntou largas dezenas de agentes pastorais da área da saúde, D. Manuel Clemente destacou a importância da “relação com o outro” que é a “relação com Deus”. “O que é próprio do cristianismo é pôr Deus no mundo – onde aliás, sempre esteve – e reconhecê-l’O aí, como acontece na vida de Jesus, e com Ele aprendemos que acontece na vida de toda a gente. A relação com Deus é a relação com o outro. O ‘chegar a toda a gente’ é o chegarmos mais a Deus, reconhecendo-O onde Ele está. Isto é o grande contributo que a tradição cristã dá à resolução de um problema humano que, só por si, fica isolado, fechado e não se resolve”, apontou o Patriarca de Lisboa, que enalteceu o “enorme contributo” prestado pelos agentes pastorais. É um “reforço anímico e espiritual” que se descobre “no encontro com o outro que está à espera”. “Nos hospitais encontra-se a religião completa, na perspetiva cristã das coisas. Não há nada que seja tão importante para a presença da Igreja no mundo do que descobrir-se a si no radicalismo evangélico da aproximação, da companhia e de uma resposta integral àquilo que também é integral, porque quando falamos em saúde estamos a falar da mesma palavra que também é ‘salvação’”, lembrou o Patriarca de Lisboa.

 

Renovação inadiável

No início da manhã de trabalhos, o diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa, monsenhor Vítor Feytor Pinto, apresentou “a renovação inadiável” indicada pelo Papa Francisco na sua Exortação Apostólica” e confirmada em conversas pessoais que manteve com o Cardeal Óscar Maradiaga, colaborador próximo do Papa Francisco para a reforma da Cúria Romana, e que passou recentemente por Lisboa. “Nas conversas que tive com ele, detetei três notas importantes para esta renovação. Em primeiro, um novo paradigma; em segundo lugar, uma desprivatização da fé; e em terceiro, a necessidade de um compromisso”. Sobre qual o novo “paradigma”, monsenhor Feytor Pinto aponta “a relação com o outro”. “Aquilo que nos identifica como Igreja não é ‘apenas ir à Missa’ mas sim aquilo que Jesus disse: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei e, por isto, vos conhecerão como meus discípulos”. Nesta perspetiva, o Senhor pede-nos duas coisas: realizar a ação de caridade, de amor para com todos e seguir a ação que Jesus realizou: dar a boa nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a vista aos cegos, dar alegria aos que sofrem”, indicou. Sobre a “desprivatização da fé” e a “necessidade de um compromisso”, este sacerdote acrescentou que “desprivatizar a fé” significa “deixar de tornar a fé em algo privado, da vida de cada um, para ser uma intervenção de solidariedade, estando com os outros, no meio da ‘cidade dos homens’. A fé confessa-se na ação social. Este comprometimento muda a nossa maneira de estar na vida da Igreja. Esta é a renovação inadiável”, considerou.

 

Com os outros

No encontro que também reforçou a estreita colaboração da Pastoral da Saúde com a Pastoral Social, monsenhor Vítor Feytor Pinto destacou a importância da “relação com o doente” e apontou alguns caminhos, indicados pelo Papa Francisco, para uma “saída missionária” na área da Saúde. “Em Pastoral da Saúde, a minha preocupação são os outros. Atualmente, o paradigma é a relação, o saber relacionar-me. Por isso, falamos no apoio integral, no apoio humano e espiritual. A nossa preocupação tem que ser a da relação! Tal como diz o Papa, nesta Igreja em saída temos alguns caminhos: Primeiriar – sermos os primeiros a anunciar Jesus Cristo àqueles que estão à espera da felicidade; Envolver – na Pastoral da Saúde não pode haver o ‘toque e foge’, temos que envolver o doente, e, através da prevenção, envolver também quem não está doente; Acompanhar – preocupar-me com o doente, chegando até ao doente, de forma a frutificar; Festejar – depois de frutificar, o sacramento é uma festa. Devemos dar prioridade ao amor. Tenho que estar permanentemente preocupado com os outros”, considerou este sacerdote, que também incentivou à leitura das mensagens do Papa Francisco para a Quaresma e para o Dia Mundial do Doente, salientando que elas oferecem uma “dinâmica de intervenção”. Em primeiro lugar, indo “ao encontro do nosso irmão que precisa de ser apoiado”, dando como exemplo a decisão do Papa em fazer “sair do gabinete” um dos seus colaboradores, e pedindo para procurar “o irmão, sem esperar que ele venha” ter com ele. Monsenhor Feytor Pinto considera que esta atitude “é uma revolução, é uma mudança completa”, e interroga: “Na minha zona paroquial, onde estão os irmãos que precisam de mim?”. A partir da Mensagem para o Dia Mundial do Doente, que a Igreja celebrou no passado dia 11 de fevereiro, este sacerdote destacou a “sublimidade” das palavras do Papa Francisco e reforçou a necessidade de “uma sabedoria do coração”. “O Papa Francisco incute em todos os fiéis uma responsabilidade missionária, no serviço gratuito ao outro”, apontou.

 

Renovação

As orientações dadas pelo Papa na Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’ levam o diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa a apelar a uma “renovação das estruturas desta pastoral, quer nas paróquias, quer nos hospitais”. “Temos que estar permanentemente a renovar-nos neste espírito missionário da Igreja. Isto implica os cuidados a ter com os doentes e com os sãos, porque a Pastoral da Saúde não é apenas para os doentes. A prevenção é muito importante e faz parte do nosso trabalho”, alertou monsenhor Vítor Feytor Pinto, que também destacou a “necessidade de existirem cristãos na Saúde”. “Os profissionais médicos, assistentes sociais, psicólogos, entre outros, têm como missão evangelizadora a própria atividade profissional. Depois, o voluntariado e visitadores, apoiados pelos agentes pastorais que coordenam a ação, para desenvolverem um ação que pode ser extraordinária. E por fim, os sacerdotes e capelães têm uma relação que não é apenas de relação sacramental, mas sacerdotal, profética e caritativa profundas”, considerou. “Cada paróquia e hospital deverá ter a capacidade de organizar a Pastoral da Saúde, conhecer as pessoas doentes ou não doentes mas conhecer também os profissionais que trabalham ao nosso lado e saber escolher os voluntários e visitadores. Depois, a organização da ação, supondo o tipo de prevenção que se pode fazer”, exemplificando a prevenção das ondas de calor e de frio.

 

Comunidade que envia

A XVI Jornada Diocesana da Pastoral da Saúde contou com a intervenção do cónego Luís Manuel, diretor do Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa, que abordou o tema ‘A Eucaristia e o Sagrado Viático’. Para este responsável, o ministério do ministro extraordinário da comunhão pede não só uma “fidelidade ao ministério mas também à comunidade paroquial”. “O ministro não vai visitar os ‘seus’ doentes, mas sim os doentes da comunidade. Eles são membros de uma comunidade que caminha naquele espaço e tempo, e que, fazendo a experiência da limitação, não pôde estar na celebração. Nós somos enviados pela comunidade, para que levando o sacramento do Corpo e Sangue do Senhor, aquele irmão, embora fisicamente ausente da celebração, se una a ela espiritualmente e sacramentalmente pela participação da Eucaristia. Isto ajuda-nos a perceber o que somos e o que fazemos. Não temos mandato próprio, mas fomos mandatados”, considerou este sacerdote.

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