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Oração
Para além da tolerância está a paz
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Na tarde daquele Domingo, 8 de Junho, nos jardins do Vaticano, aconteceu algo de extraordinário e que estabelece um marco na missão (por vezes quase impossível) da construção da paz: pela primeira vez o Presidente de Israel e o Presidente da Palestina se reuniram no Vaticano para, com o Papa Francisco, rezarem pela paz.

 

A Humanidade a caminho

Foi mais um passo numa caminhada de esperança, propulsionada pelos ventos renovadores do Vaticano II, estes por sua vez já presentes na vivência das Igrejas, mas agora oficialmente (ainda que timidamente) assumidos como um caminho de Deus. Não esqueço o entusiasmo com que seguimos o encontro de Paulo VI com o Patriarca Atenágoras em 1964; até a força cromática das fotos da Paris Match, a que tive acesso, se mantém viva até hoje; mais forte no entanto foi o dissipar-se da perplexidade provocada pelo distanciamento entre seguidores do mesmo Senhor, de costas viradas, quando não de dedos em riste e condenadores. Os ventos continuaram a soprar como nos Encontros de Assis. Do diálogo entre irmãos cristãos, foi-se caminhando para o diálogo entre as religiões. Partindo do estar lado a lado nas estradas da vida e com o desejo de superar os obstáculos, esse tornou-se o ponto de partida para a reflexão à volta da pessoa e das semelhanças nos laços que “religam” o homem ao seu sentido último; ponto de partida para a abertura das mentes a uma visão que na diferença encontra não um obstáculo mas sim uma oportunidade de enriquecimento.

 

Superar a ignorância e o medo

O medo lança raízes sobretudo na ignorância. A confiança é o fruto de uma caminhada na humanização; é a pedra de toque para superar barreiras entre etnias; será a pedra de toque para o diálogo inter-religioso. É bem conhecido o pensamento de H. Kung relativo à situação religiosa no mundo e o seu leitmotiv: “Não há paz mundial sem paz religiosa”. E ainda: “Não há paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não há diálogo entre as religiões sem pesquisa sobre o fundamento das religiões”.

São os gestos de cada dia, vividos em fraternidade, que abrem as portas ao diálogo e à descoberta desse mundo novo que não põe em risco a fé do crente, antes o ajudam a descobrir a beleza da sua fé e da dos outros n’Aquele que dá sentido ao seu viver. Ignorância e a falta de abertura eis o caldo adequado para ir criando fundamentalistas e adeptos de guerras santas.

Por que não inserir nos nossos hábitos gestos reveladores de profundidade religiosa e que nos levam a manifestar amizade aos irmãos de outras religiões por altura das suas festas mais significativas ? Uma mensagem de felicitações a um irmão ou a uma comunidade muçulmana durante o Ramadão, ou a partilha de algum alimento para a única refeição proporcionada aos crentes no fim da oração da noite, serão gestos que lançam pontes e derrubam barreiras. E já os encontramos por aqui e por ali. Recordemos o “jeito” da Família religiosa de Carlos de Foucauld ou os Monges de Tibhirine. Pessoalmente vivi uma peregrinação pela paz na chamada Terra Santa, com iniciativas que, durante toda a semana, envolveram conjuntamente judeus, cristãos e muçulmanos sob a palavra de ordem “peace, shalon, salam-aleikum”.

 

Derrubar os muros

O gesto do Papa para com Mahmoud Abbas e Shimon Peres não foi para mais uma cimeira de paz. Foi um convite para rezar pela paz, feito por quem considera que ela é um dom tão precioso que só Deus lhe pode dar a força transformadora que derruba barreiras e constrói pontes. As barreiras físicas separando pessoas constituem uma agressão à inteligência humana. Foi a sensação com que fiquei quando, no fim dos anos 80, atravessei o Muro de Berlim; a mesma que há uns anos reavivei quando viajava de Telavive para Jerusalém e vi novos muros da vergonha: “um dilema que ninguém sabe como resolver” explicava-nos a guia. Há momentos em que só Deus nos pode valer. Quando o cristão e o judeu rezam “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores” (Salmo 127) não será o mesmo rezado pelo muçulmano ao recitar “Quem submeter o seu rosto a Deus e praticar o bem agarrou um suporte seguro, porque em Deus está a importância de todas as coisas” (Al-Corão 31:23)?

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