Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Comunicar a Verdade
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Na passada quarta-feira, dia 12 de março, fomos confrontados com a notícia da partida para a pátria celeste de D. José Policarpo, Patriarca Emérito de Lisboa, cardeal da Igreja e um bispo que procurou pôr em prática o Concílio Vaticano II apostando, desde cedo, na comunicação.

Conheci D. José Policarpo há muitos anos atrás, ainda nem pensava que viria a ser padre da sua diocese, muito menos seu colaborador neste jornal diocesano. Porém, a primeira história que testemunho da relação com este homem que, num primeiro olhar, me parecia criar distância, demonstra precisamente o seu lado preocupado e próximo, de Pastor e pai atento.

Em meados da década de 90 frequentava eu o curso de Ciências da Comunicação, em Lisboa, quando fui convidado pelo então padre Nuno Brás, na época diretor deste jornal, para com ele colaborar em regime de ‘part-time’. Nessa altura, numa dada semana, foi preciso assumir a total realização do mesmo jornal devido à ausência do seu diretor. Por questões práticas e logísticas vivi, durante essa semana, no Seminário dos Olivais ao ritmo do que era a vida em seminário, estando presente nos tempos de oração, refeições e até momentos de convívio. Por mim passava, várias vezes, o então reitor do Seminário, D. José Policarpo, ao tempo Bispo Auxiliar de Lisboa. Cruzavam-se gestos, olhares e cheguei inclusive a viajar no mesmo carro, também com outros sacerdotes, para acompanhar uma reunião que eu iria tornar notícia. Recordo que, naquela viagem, poucas palavras fui capaz de dizer mas percebi, pelas atitudes e depois por ecos que me fizeram chegar, que D. José Policarpo procurou saber quem eu era, o que fazia, e porque ali estava. Mais ainda, se eu não quereria entrar no Seminário e ser padre! Naquela altura, a sua interpelação não teve efeito, mas depois de muitos anos, e após um longo caminho que Deus quis que eu cumprisse, fui ordenado padre por D. José Policarpo, e a missão que, desde logo, me confiou acabou, também, por vir a ser realizada no mesmo lugar que me fez conhecer esta figura ímpar da nossa Igreja.

Esta é uma simples história testemunhal que esta semana gostava de partilhar e que marcou o início do conhecimento que pude ir adquirindo de D. José Policarpo. Alguns anos mais tarde, já como aluno do Seminário dos Olivais, fui capaz de combater toda a minha timidez e, com outros colegas, começámos a gravar mensagens vídeo do então Cardeal-Patriarca. Mensagens que publicávamos na internet e enviávamos à comunicação social para a respectiva divulgação. Apercebendo-se deste interesse pela comunicação e com o seu apurado sentido de humor, em 29 de novembro de 2009, depois da celebração em que por suas mãos fui ordenado diácono, D. José Policarpo passa por mim e pergunta: “Então, vais publicar a tua ordenação no YouTube?”. Fiquei sem palavras e só consegui rir, com ele.

Esta boa disposição era uma dimensão que talvez não transparecesse muito, à primeira vista, naquele homem com quem tive a graça de poder vir a trabalhar. Se, em finais do anos 90, a Diocese de Lisboa foi a primeira, no país, a ter um site na internet manifestando, assim, uma abertura às novas tecnologias, nestes últimos quatro anos, com D. José Policarpo, iniciámos no Patriarcado um conjunto de iniciativas que sempre contaram com o seu apoio e até mesmo com a sua própria sugestão. Recordo as mensagens vídeo que fomos gravando e, mais recentemente, no Ano da Fé, o programa ‘Acreditar com o Concílio’, uma ideia de sua autoria que levou à gravação de 28 programas, em formato vídeo, semanalmente divulgados nos diversos meios de comunicação do Patriarcado de Lisboa e que ainda hoje estão disponíveis para visualização.

Atualmente, o Departamento da Comunicação do Patriarcado de Lisboa dispõe de meios que permitem realizar transmissões em direto de diversos eventos diocesanos, outra iniciativa pela qual D. José Policarpo manifestava interesse. Por isso mesmo, diante da notícia do seu falecimento, a maior homenagem que sentíamos que, da nossa parte, podia ser prestada era a de poder acompanhar em direto os diversos momentos litúrgicos vividos na Sé Patriarcal, para que o maior número de pessoas pudesse participar, acompanhar e rezar. Nos dois dias, as diversas plataformas de transmissão do Patriarcado registaram cerca de 16 mil acessos, no acompanhamento, em direto, desses diversos momentos. Um facto que nos leva a dar graças a Deus pelos dons que Deus nos oferece e pela abertura que D. José Policarpo demonstrou diante da novidade da tecnologia.

Também neste jornal, esta semana, queremos fazer a nossa sentida homenagem ao Pastor que um dia nos disse que é nossa missão continuar a fazer do Jornal VOZ DA VERDADE, “a voz da Igreja, levando notícias, proclamando a verdade, fazendo comunhão”. Neste sentido, pelo significado deste momento, além de um extenso dossiê que preparámos, publicamos na íntegra a homilia do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, na Missa exequial de D. José da Cruz Policarpo.

Hoje acredito que, lá no Céu, o nosso Pastor contempla a luz resplandecente de Cristo transfigurado e os anjos e santos tocam trombetas pela chegada de um sucessor dos apóstolos para a companhia celeste. Lá no alto, D. José Policarpo olha por nós com o seu olhar paternal e cumpre-se, assim, a Ressurreição do Senhor.

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
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