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Encontro Vicarial de Pastoral Social, em Sacavém
“A caridade só por si já é evangelização”
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O Patriarca de Lisboa entende que a encíclica ‘Deus Caritas Est’, do Papa Bento XVI, devia ser retomada em todos os grupos e instituições católicas que fazem ação sociocaritativa. No Encontro Vicarial de Pastoral Social, em Sacavém, D. Manuel Clemente falou das características da caridade cristã e pediu confiança em Deus para ajudar as famílias em dificuldades.

 

O Patriarca de Lisboa desafiou todos os cristãos que praticam a caridade a ler ou reler a primeira encíclica do Papa Bento XVI, de 2005, intitulada ‘Deus Caritas Est’ (‘Deus é Amor’). “A encíclica ‘Deus Caritas Est’ devia ser retomada por toda a gente que faz ação social e ação sociocaritativa! Deixo-vos já este desafio, até porque este ano pastoral, no nosso Patriarcado de Lisboa, temos como tema ‘A fé atua pela caridade’. O que é isto da caridade? Como é que havemos de sensibilizar os outros para a caridade? O que nos deve distinguir quando fazemos ação social e caritativa para ser evangelização? Tudo isto está muito bem respondido, com todas as letras e muito claro, na ‘Deus Caritas Est’”, salientou D. Manuel Clemente, durante o Encontro Vicarial de Pastoral Social, que decorreu em Sacavém, no passado dia 8 de novembro, no âmbito da Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém. Para o Patriarca de Lisboa, a carta encíclica do agora Papa Emérito é um “ótimo programa” para qualquer grupo ou instituição católica que pratique a caridade. “A encíclica tem uma primeira parte, digamos assim, mais de doutrina – mas muito clara – e depois tem uma segunda parte de aplicação prática, onde fala das instituições sociocaritativas da Igreja, ao que é que devem obedecer, que princípios devem ter… Está lá tudo e devo-vos dizer que é um programa ótimo!”, observou.

 

As características da caridade cristã

Neste encontro com os agentes pastorais da ação sociocaritativa das nove paróquias da vigararia, D. Manuel Clemente sublinhou o que distingue e o que caracteriza a caridade cristã. “Na encíclica, o Papa Bento XVI, para responder a esta questão, parte da parábola do Bom Samaritano e diz: ‘O que é típico da ação social cristã é aquilo que o Bom Samaritano fez!’. Por isso, a primeira característica da caridade cristã, segundo Bento XVI, é ser imediata, ou seja, é fazer aquilo que as pessoas precisam agora! Se a pessoa tem fome agora, é preciso dar de comer; se a pessoa tem frio, é preciso dar-lhe roupa; se a pessoa precisa que tratem dela porque está doente, é preciso tratá-la. Isto, para nós, deve ser um ponto assente e muito forte”. Socorrendo-se, ainda, da carta encíclica, o Patriarca de Lisboa entende que a segunda característica da caridade cristã é “ser independente”, porque “a ação caritativa não se deve a uma ideologia”. D. Manuel Clemente apontou também que a caridade cristã “é gratuita”. “É gratuita não só porque não vai na mira do lucro, mas porque vale por si. O Papa Bento XVI chega a dizer: ‘A caridade só por si já é Evangelho’. Ou seja, já é evangelização. Ela nem é feita, diz o Papa, por proselitismo. A caridade vale por si! A caridade, de si, já é evangelização, já é Boa Nova! Haver um amor destes no mundo, que é imediato, que é independente e que é gratuito, já é Evangelho!”, assegurou. O Patriarca de Lisboa convidou, por isso, os grupos e instituições caritativas da Igreja a “fazerem um exame de consciência” e a questionarem-se: “Aquilo que fazemos é isto? É uma resposta imediata, independente e gratuita, que vale por si?”.

 

Confiança em Deus

A crise económica e financeira tem feito com que muitas pessoas procurem ajuda junto da Igreja. Neste encontro sobre Pastoral Social, D. Manuel Clemente foi questionado sobre como é que uma paróquia com pouco recursos, e sem apoios institucionais, pode enfrentar as dificuldades crescentes de tantas famílias carenciadas. O Patriarca de Lisboa entende que os cristãos devem ter confiança em Deus e deu como exemplo as Irmãs do Cottolengo, na Ameixoeira, e as Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em Chelas. “Estas religiosas têm como ponto de honra nunca guardar nada, nem nunca pensar hoje no amanhã. Dá que pensar! Levam à letra aquela frase de Jesus: ‘Não vos preocupeis com os que haveis de vestir, nem com o que haveis de comer’. A nós, parece-nos excessivo e eu não estou a dizer para toda a gente fazer já isto, gastar tudo hoje e não pensar no amanhã, mas se calhar devia dizer, porque é o que vem no Evangelho!”. D. Manuel Clemente deu ainda como exemplo São Francisco de Assis. “Nós gostamos muito de ler as histórias de São Francisco de Assis e foi isso que ele viveu! Sendo filho de pai rico, até as roupas deixou nas mãos do pai para não ter nada a não ser a confiança em Deus. Mas o que é certo é que resulta! Porque o São Francisco de Assis foi no século XIII, mas as Missionárias da Caridade, ali em Chelas, e as Irmãs do Cottolengo, ali na Ameixoeira, é hoje! É ir lá e ver, portanto não digam que é impossível. Aliás, se calhar há muita coisa que não acontece, porque não acontece o Evangelho tal e qual! Temos que ‘entrar’ a sério nesta lógica do Evangelho e felizmente que o Papa Francisco já está a fazer muita coisa neste sentido”, observou.

 

Caridade é fundamental na paróquia

Na sua intervenção, o Patriarca de Lisboa realçou ainda que as ações sociocaritativas da paróquia devem ser vividas por todos os cristãos. “As instituições sociocaritativas da Igreja – chamem-se conferências, chamem-se centros sociais paroquiais, chamem-se grupos – são fundamentais nas comunidades cristãs e não como um anexo da comunidade cristã. Não é possível pensar: ‘Temos aqui a nossa paróquia, as nossas catequeses, as nossas liturgias e depois há a Conferência de São Vicente de Paulo ou depois há o centro social paroquial, que só dá umas dores de cabeça ao padre e aos colaboradores’. Não, não! As instituições e as ações sociocaritativas da paróquia são fundamentais e devem ser vividas por todos os cristãos, de forma a criar nas nossas comunidades, e entre nós, cristãos, uma outra maneira de entender a vida, realmente solidária, mais modesta, mais desprendida”.

 

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A Pastoral Social na Vigararia de Sacavém

 

Todas as nove paróquias (Apelação, Bobadela, Camarate, Catujal, Prior Velho, Sacavém, Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Unhos) da Vigararia de Sacavém têm, pelo menos, um pequeno grupo de caridade para atender às carências das populações. A informação foi revelada ao Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e a D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa que também marcou presença no Encontro Vicarial de Pastoral Social onde cada paróquia desta vigararia apresentou a realidade sociocaritativa na sua comunidade.

 

Prior Velho: tem um grupo de ação social, formado em março de 2012, que tem três voluntários e que faz atendimento individual de reencaminhamento para a rede social da freguesia, organiza atividades comunitárias para reforçar as redes de apoio social e presta apoio escolar gratuito a crianças.

 

Camarate: tem um grupo sociocaritativo, com oito voluntários, que apoia mais de 500 pessoas em bens alimentares, visita doentes e idosos. O centro social paroquial acolhe 243 crianças dos 4 meses aos 6 anos, tem a Equipa de Rendimento Social de Inserção (RSI), com 101 famílias, o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC), um serviço de roupa e acompanha as famílias. O projeto ‘Despertar’ auxilia crianças do 1º e 2º ciclo.

 

Apelação: o grupo sociocaritativo ‘Acolhe e partilha’ foi criado há cerca de um ano e meio, tem sete pessoas e recolhe no primeiro Domingo de cada mês os alimentos para distribuir. Tem 53 famílias inscritas e apoia neste momento 27. Ajuda também a pagar contas da água, luz e medicamentos.

 

Catujal e Unhos: estas duas paróquias da mesma freguesia procuram apoiar os idosos, os isolados, os doentes e outros. Tem um centro social, com centro de convívio, um balneário que acolhe pessoas sem-abrigo e uma vez por mês a ‘Campanha do quilo’ angaria alimentos não perecíveis. Têm também o grupo de jovens da JMV - Juventude Mariana Vicentina, que faz diversas campanhas, um grupo de dez voluntários que procura estar atento a todas as carências e o grupo de deficientes/especiais, que apoia as famílias destas pessoas. Nos bairros de Unhos, diversos voluntários sinalizam necessidades.

 

Bobadela: o grupo da pastoral da caridade, constituído em janeiro do ano passado, tem o ‘Espaço solidário’ que faz a recolha de bens não perecíveis nas Eucaristias do primeiro fim-de-semana do mês e os distribui pelas famílias. Tem uma parceria com uma vendedora do mercado local, para distribuir produtos frescos. O centro social paroquial da Bobadela tem 76 crianças na creche, 50 utentes no centro de dia, 35 idosos no centro de convívio e presta apoio domiciliário a 95 pessoas. Tem também o gabinete de apoio às famílias, que ajuda 60 famílias, e acompanha 126 famílias beneficiárias do RSI.

 

São João da Talha: a Conferência Vicentina existe desde 1984, tem 21 vicentinos e visita idosos e doentes, em casa ou em lares, limpa as casas dos idosos, acompanha doentes aos hospitais para consultas e tratamentos e distribui os bens do Banco Alimentar. Recolhe pão, bolos e fruta no comércio local, para depois distribuir. Ajuda a pagar medicamentos, rendas, água, luz e gás. Atualmente apoia 250 famílias, num total de 1200 pessoas.

 

Santa Iria de Azóia: o grupo começou em 1997, com sete famílias, hoje apoia 287 famílias, o que representa 762 pessoas. Solicitam ajuda a empresas locais, no primeiro fim-de-semana de cada mês fazem um peditório extra para a ação social. Recebe produtos do programa PCAAC, distribui roupas e ajuda a pagar medicamentos e rendas. Os jovens da JAP – Juventude Agostiniana Portuguesa e as crianças da catequese também colaboram neste grupo caritativo.

 

Sacavém: a ação social da paróquia está praticamente concentrada no centro social paroquial, com berçário (10 bebés), creches (30 crianças), jardim-de-infância/pré-escolar (55 crianças), centro de dia (18 idosos), apoio domiciliário (33 utentes). O centro tem um gabinete de apoio à família, com 82 utentes, e conta com o apoio de voluntários da paróquia que colaboram na distribuição de bens do Banco Alimentar e do PCAAC, e apoia mais de 100 famílias inscritas no RSI. A paróquia tem também alguns organismos que fazem ação caritativa e visita aos doentes, e organiza o ‘Domingo do quilo’.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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