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Convento de Santo António de Varatojo
Ver em tudo as impressões digitais de Deus
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É a casa onde os jovens que sentem a inquietação de São Francisco de Assis iniciam a formação franciscana. O Convento de Santo António de Varatojo, em Torres Vedras, tem desde o início do ano pastoral nove noviços e abriu as portas ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Na Ordem dos Frades Menores (OFM), vulgarmente conhecidos por Franciscanos, o noviciado tem a duração de um ano e decorre no Convento de Santo António de Varatojo. “Ao passarem 365 dias connosco, ou seja, um ano canónico, os noviços fazem a primeira Profissão”. Frei José Maciel da Costa e Silva, de 76 anos, é ainda o superior da fraternidade de Varatojo, mas no dia de São Francisco de Assis, a 4 de outubro próximo, será substituído por frei José Morais, antigo pároco de Ponte de Rol e São Pedro da Cadeira. Ao receber neste convento o Jornal VOZ DA VERDADE, frei Maciel explica que a primeira Profissão, ou Profissão de votos temporários, é feita no final deste período de um ano, sendo renovada anualmente. “Após um ano de formação aqui no convento, os noviços fazem a primeira Profissão, que vai sendo renovada, durante x anos – que não é igual para todos –, até à Profissão solene”. Foi o que aconteceu no passado dia 7 de setembro. Em solene Eucaristia celebrada na igreja do convento, os cinco neo-professos que terminaram o ano de noviciado na Ordem Franciscana – dois de Moçambique, outros dois de Timor-Leste e um de Portugal – fizeram a Profissão de votos temporários. Agora, vão prosseguir os estudos, mas já longe do convento…

 

Nove novos noviços

Se a cada ano uns saem do convento, outros entram para iniciar o noviciado, ou seja, o chamado período de iniciação à vida religiosa. A 6 de setembro último, o Convento de Varatojo viveu um dia de festa com a tomada de hábito dos noviços. “Entraram este ano para o noviciado nove noviços! São dois portugueses, três moçambicanos e quatro timorenses”, conta o superior.

Ao longo deste ano de formação, a proposta contempla duas vertentes: a vida da comunidade, com os frades já professos, uma vez que os noviços se integram totalmente na vida da comunidade, sobretudo na vida de oração; e a formação específica, em aulas que são dadas no convento, com um mestre e um vice-mestre, que são os encarregados da formação franciscana. “O trabalho de formação é coadjuvado pela comunidade. As nossas comunidades são formadoras também! Todos somos formadores e eles vão crescendo, como uma família, à medida da vida da comunidade”.

Anualmente, ao longo do tempo de formação na OFM, os votos temporários vão sendo renovados até à Profissão solene, ou seja, os votos perpétuos. “Somente a partir daí, por parte da Ordem, a formação está completa e o candidato pode seguir para os graus eclesiásticos. Por isso, só depois da Profissão solene é que se dão ordens ao presbiterado”, esclarece o superior da comunidade do Convento de Varatojo.

Os cinco neo-professos que agora deixam o Varatojo vão prosseguir a sua formação em diferentes destinos. “Vão continuar os estudos até ao fim da carreira de cada um, porque podem ir para o sacerdócio, mas também podem não ir. Podem ser candidatos a irmãos, simplesmente, não clérigos”, conta frei Maciel, que é natural da freguesia de Carvoeiro, Viana do Castelo, tomou o hábito dos Irmãos Menores em 1952, fez a sua primeira Profissão no ano seguinte, a Profissão solene em 1958 e foi ordenado sacerdote em 1960.

 

Um convento ligado aos descobrimentos e que foi seminário

O Convento de Santo António de Varatojo, em Torres Vedras, é um convento do século XV, que foi inaugurado em 1475, por D. Afonso V. “O rei, que era muito cristão e muito devoto, fez um voto a Santo António, pedindo-lhe que o ajudasse nas campanhas africanas: Alcácer Ceguer, Arzila e Tânger foram conquistadas no tempo dele. Assim iniciámos as nossas viagens para mares nunca dantes navegados. D. Afonso V vinha ao convento bastas vezes, para se retirar, para descansar e para rezar com os frades”, conta frei Maciel.

Em 1680, o convento foi transformado em seminário. Contudo, era um seminário ‘especial’, uma vez que não formava sacerdotes, mas formava os sacerdotes. “O Convento de Varatojo foi transformado em seminário e visava a formação de sacerdotes para se dedicarem às missões populares. Era um seminário para pregadores entre cristãos, porque a Ordem Franciscana notabilizou-se na evangelização em dois sectores que ainda hoje mantém: a evangelização ad gentes e a evangelização entre cristãos, que eram as chamadas missões populares”. Segundo conta frei Maciel, esta ‘transformação’ do convento em seminário foi realizada por frei António das Chagas. “É por isso que esta casa se chegou a chamar Seminário de Varatojo”, acrescenta, referindo que “tudo isto terminou em 1834 com a expulsão das ordens religiosas”. Uns anos mais tarde, o seminário “foi reativado”, mas com a chegada da República, em 1910, “os frades foram expulsos novamente”. O regresso ao Varatojo aconteceu menos de duas décadas depois. “Os frades voltaram para o Varatojo creio que em 1928 e ainda cá estamos!”, brinca.

O convento, tal como ele está hoje, foi construído em várias fases. “Na primeira fase, o convento tinha somente a igreja, uma ala de residência dos frades e um claustro. Já no século XVI, em 1531, um terramoto deitou a igreja abaixo, tendo sido depois reconstruída. Entretanto, foram construídas outras alas do convento, a última das quais em 1928”. Da igreja primitiva, segundo este frade, “resta apenas o pórtico de entrada, que é gótico”. Há também “um arco manuelino”, mas o estilo que prevalece na igreja “é o barroco”.

 

Oração e acolhimento

A comunidade dos franciscanos presente no Convento de Varatojo é constituída atualmente por seis frades sacerdotes e quatro irmãos leigos. “Somos uma comunidade de dez, mais os nove noviços!”, aponta o superior desta fraternidade. Nesta comunidade franciscana, a oração e a pastoral têm um papel fundamental. “A nossa vida é feita de oração e de atividades de pastoral, como receber as pessoas. Fazemos assistência diária às pessoas, aqui no convento, que vêm pedir direção espiritual ou a confissão”, refere frei Maciel, que esteve em Moçambique ao longo de 43 anos, entre 1965 e 2008, e se dedicou ao ensino e às paróquias.

No Convento de Santo António de Varatojo há, diariamente, a celebração da Eucaristia aberta aos fiéis. “Temos todos os dias Missa às 8 horas da manhã. Há gente que vem cá antes de ir para o serviço! No sábado há Missa vespertina, que muda de horário conforme a época do ano: no Verão a celebração é às 21 horas e no tempo de Inverno, que vai começar brevemente, é às 18h30. Ao Domingo, a Eucaristia é às 10 horas”.

É sobretudo aos Domingos que a atividade pastoral dos frades franciscanos é feita nas paróquias vizinhas. “Ajudamos as paróquias de Ponte de Rol e São Pedro da Cadeira, que estão confiadas à Ordem Franciscana, e vamos também às comunidades pertencentes às paróquias de Atouguia da Baleia e Lourinhã, bem como a duas comunidades daqui da paróquia de São Pedro”, observa o superior desta comunidade do Convento de Varatojo. “É um trabalho agradável, que nos permite contactar com o povo. Sentimo-nos realizados, mesmo quando as forças começam a fugir…”, acrescenta.

 

Um irmão que se sentiu irmão de todos os homens

A Ordem dos Frades Menores, também conhecida por Ordem de São Francisco, Ordem dos Franciscanos ou Ordem Franciscana, é a ordem religiosa fundada por São Francisco de Assis. “Viver o Evangelho no meio do povo” é, segundo frei Maciel, o carisma desta Ordem. “Como dizia o pai São Francisco, mostrem que são cristãos, estão sujeitos a todos, e vivam no espírito de simplicidade e de alegria o Evangelho”. Frei Maciel sublinha que os franciscanos “não têm especialidade em nenhuma atividade pastoral”. “Tudo nós podemos fazer, porque o Evangelho é para todas as dimensões da vida humana”, garante.

Para este franciscano, São Francisco de Assis “foi um crente que colocou em primeiro lugar a fé em Deus”. “Foi um irmão que se sentiu irmão de todos os homens e viveu a fraternidade até ao fundo. Foi um poeta cristão que olhou para o mundo e se alegrou com o mundo que Deus criou”, frisa. “São Francisco encontrou o Pai, Deus, em Jesus Cristo, e sentiu então em si a paternidade de Deus e a fraternidade de Jesus Cristo. Ele procurou viver isto, aplicá-lo e ver nas coisas todas, nas pessoas, as impressões digitais de Deus”, prossegue este frade.

 

A inquietação do Papa Francisco

Em março desde ano, aquando da eleição do novo Papa, o cardeal argentino Bergoglio foi eleito sucessor de Pedro e escolheu como nome Francisco. Um nome que é também um programa de pontificado. “Nós somos franciscanos e aparece um ‘Papa franciscano’! Foi uma inquietação para nós, sobretudo na forma como estamos a viver o nosso carisma. Um Papa toma o nome de Francisco exatamente em homenagem ao nosso fundador. Foi algo que causou um grande impacto dentro de nós! Que testemunho é que nós damos de São Francisco, quando até um Papa, que é jesuíta, adota o nome de Francisco em honra deste santo, nosso fundador”.

Neste meio ano de pontificado, frei Maciel considera que o Papa Francisco “tem inquietado pela clareza, pela frontalidade com que afronta certos problemas e pela simplicidade de gestos”. “Ele continua a ser uma pessoa normal, que se dirige a todas as pessoas com a simplicidade de um pastor de aldeia”, considera.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos DPB e fraternidade do Convento de Varatojo
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