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31.03.2013

Especiais |

Pobreza

A Igreja est� com aqueles que sofrem

As primeiras palavras do Papa Francisco manifestando um olhar de maior proximidade para com os mais desfavorecidos e os pobres trouxeram alguns desafios para a pr�pria Igreja. Na semana em que se celebra a Ressurrei��o de Cristo, que se fez pobre com os pobres, o Jornal VOZ DA VERDADE foi ouvir testemunhos de institui��es da Igreja que se sentiram interpeladas pelo Papa.

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Ainda antes de ser anunciado publicamente o nome do novo Papa, eleito na quarta-feira, 13 de mar�o, j� o escolhido de entre os cardeais tinha feito uma op��o. Francisco seria o seu nome, recordando o santo dos mais pobres, Francisco de Assis. A op��o surgiria depois de lhe ter sido soprado ao ouvido pelo Cardeal Hummes ‘N�o te esque�as dos mais pobres’, contou o pr�prio Papa na audi�ncia com os jornalistas. Por esta op��o, surgiriam as primeiras palavras do Papa Francisco indicando, desde logo, uma preocupa��o que tem sido manifestada diretamente nos seus discursos e nos seus pr�prios gestos.

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O problema maior da humanidade

“O Papa Francisco pegou naquilo que � hoje o problema maior da humanidade e da crise mundial que estamos a viver”, referiu ao Jornal VOZ DA VERDADE o respons�vel da Pastoral Social no Patriarcado de Lisboa, c�nego Francisco Crespo. Para este sacerdote, � importante recordar que os crist�os e a Igreja devem dar “testemunho de uma Igreja que � pobre ao servi�o dos pobres”. “A� est� a ess�ncia do pr�prio Evangelho”, alerta salientando que “Jesus veio para ser servido, n�o para servir. Veio para ir ao encontro dos mais carenciados e mais necessitados”. Neste sentido, sublinha o c�nego Crespo, “isto n�o pode ser uma palavra v�, vazia, sobretudo numa altura concreta que estamos a viver como a da P�scoa, mas tem que se traduzir no verdadeiro sentido do lava-p�s, de irmos ao encontro daqueles que a esta hora e neste momento precisam do nosso testemunho como crist�os”.

Segundo o c�nego Crespo, o mundo inteiro est� virado para a resolu��o do problema da crise mundial “procurando emprego, bens materiais, desenvolvimento material”. Por�m, destaca o respons�vel pela Pastoral Social na Diocese de Lisboa, “talvez esteja a ir por caminhos errados daquele que deve ser procurado no testemunho do Evangelho”. “O Evangelho, para n�s crist�os e Igreja, n�o � simplesmente angariar ou ter mais dinheiro porque se calhar at� j� existe o dinheiro suficiente, se ele for devidamente distribu�do por aqueles que necessitam. Mas o que � necess�rio e fundamental � fazer aquilo que Jesus disse quando fez a multiplica��o dos p�es: ‘Dai-lhe v�s mesmos de comer’. Cristo que deu de comer, mandou-nos dar de comer”, apontou. Nesta linha, este sacerdote, que � p�roco no Bairro da Serafina, considera que o Papa Francisco com a sua forma de agir tem tocado em aspectos essenciais. “O Papa est� a fazer este apelo com o seu testemunho e a sua palavra nas poucas interven��es que tem tido. Estas t�m sido no sentido verdadeiro de atacar diretamente esta realidade”, frisou.

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Desafios � mudan�a na Igreja de Lisboa

Olhando para o interior da Igreja e de modo particular para a Diocese de Lisboa, o c�nego Crespo tamb�m sente que este apelo � muito direto e pede atitudes de mudan�a. “Penso que a nossa Igreja, e a nossa Igreja de Lisboa, de modo particular, precisa de se converter a esta a��o concreta de nos virarmos para os pobres, para os carenciados e fazermos o que estiver ao nosso alcance para resolvermos esse problema. N�o vale a pena fazermos muitas boas teorias sobre a pobreza, muito c�lculos... temos de come�ar n�s pr�prios a dar testemunho da realidade concreta no nosso pequeno mundo onde vivemos. Cada um na sua pr�pria comunidade”, sublinha. �

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Coopera��o e jun��o de esfor�os

Neste sentido, o c�nego Crespo apela � coopera��o e jun��o de esfor�os, embora reconhecendo que h� dificuldades. “Se cada um resolver os seus problemas na sua par�quia, o problema est� resolvido. Se n�o o conseguir, vamo-nos juntar e dar as m�os uns aos outros e procurar que aquele que tem mais distribua para aquele que n�o tem. Parece uma coisa simples, mas � uma coisa dif�cil porque trata-se de uma quest�o de convers�o”.

Segundo este respons�vel, esta convers�o tamb�m passa pelos pr�prios padres. “Se calhar, a maior parte das pessoas e n�s padres somos os primeiros a n�o dar este testemunho. At� agora temos estado um bocadinho adormecidos para o sentido social. Enquanto pens�vamos que o social era simplesmente o ter equipamentos sociais, falta a realidade concreta de n�s pr�prios irmos ao encontro dos nossos pr�prios paroquianos, e ajudarmo-los a resolver o seu problema, na medida das nossas possibilidades”, reconhece.

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Despertar consci�ncias

Diante deste panorama, o rec�m eleito Sucessor de Pedro tem despertado consci�ncias. “Nestas interven��es, o Papa Francisco tem chamado a aten��o para uma Igreja que precisa de se converter, de se virar para ela pr�pria, e nos interpela e pergunta at� que ponto estamos a dar este testemunho?” Neste sentido, para o c�nego Francisco Crespo, os exemplos j� dados pelo Papa marcam uma atitude que leva a um exame de consci�ncia da pr�pria Igreja. “Quando ele sai do Papam�vel e vai ao encontro do parapl�gico e n�o tem medo de o abra�ar e dar um beijo; quando sai ao encontro da pris�o de jovens delinquentes, isto leva a que a Igreja se questione sobre o modo como est� a celebrar e agir. Porque a realidade dos pobres est� l� fora. Fora do espa�o f�sico da Igreja”, acentua o c�nego Crespo, refor�ando a ideia de que “o Papa vai l� fora dar testemunho concreto”, e de que “a Igreja est� l� dentro mas tamb�m est� com aqueles que sofrem”.

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C�ritas desafiada a p�r-se a caminho

No Patriarcado de Lisboa, tamb�m a C�ritas Diocesana desenvolve a sua miss�o junto dos mais desfavorecidos. Reconhecendo que “as pessoas est�o a atravessar situa��es muito dif�ceis”, esta preocupa��o do Papa pela pobreza e pelos mais pobres tornou-se, para o presidente da C�ritas Diocesana, Jos� Frias Gomes, “uma palavra fundamental”. “� uma palavra fundamental no sentido de nos virar para a miss�o, de nos pormos a caminho com mais intensidade e vigor, de nos pormos a caminho e irmos ao encontro daqueles que necessitam do nosso apoio”, destaca.

Para este respons�vel, “o Papa quis reavivar as propostas que a Igreja sempre fez, de alguma forma, e deve fazer permanentemente”. O que traz consigo um impacto. “Isto tem um impacto ao n�vel da maior disponibilidade para o servi�o e para apoiar tudo o que tem a ver com o ajudar aqueles que neste momento passam por situa��es dif�ceis. Ele de alguma maneira quis dar um enf�se extraordin�rio aquilo que � essencial na Igreja, que � o cuidarmos uns dos outros. Isto na linha das enc�clicas do Papa Bento XVI, mas aqui de uma forma vigorosa, muito fraterna, muito pr�xima, muito despojada. � a atitude que deve pautar no procedimento de um crist�o para com os seus irm�os, sejam eles crentes ou n�o crentes. � dar a m�o a quem necessita”, acrescenta o presidente da C�ritas de Lisboa.

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Na ajuda ao outro, encontrar a pr�pria convers�o

Apesar de este “ir ao encontro” trazer mudan�as aos que mais precisam, Frias Gomes considera que h� outras transforma��es que acontecem e que levam a novos estilos de vida. “Neste caminho de encontro tamb�m encontramos a nossa pr�pria convers�o. Essa nossa convers�o tem a ver com uma redescoberta ou uma mais intensa op��o por estilos de vida mais simples, mais despojados, olhando mais para o essencial. A maneira de olhar para a vida ajudar-nos-� a olhar para tudo aquilo que � necess�rio fazer pelos nossos irm�os. Isto � uma convers�o”, garante.

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Comunidade Vida e Paz surpreendida

Para o presidente da Comunidade Vida e Paz, institui��o que todos os dias vai ao encontro dos sem-abrigo, as primeiras palavras utilizadas pelo Papa Francisco foram surpreendentes. “Foi uma surpresa muito alegre e muito positiva o facto de duas das primeira palavras do Papa Francisco terem sido ‘fraternidade’ e ‘confian�a’”, observou ao Jornal VOZ DA VERDADE. “A terceira palavra foi o virar-se para os mais pobres dos pobres e creio que isso vai ter um impacto muito positivo, porque vai colocar-nos desafios grandes”, salienta Henrique Joaquim.

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Reencontrar a esperan�a

Para este respons�vel, estes desafios t�m a ver com “a aus�ncia de recursos porque as necessidades s�o crescentes”. E por outro lado com um centrar da miss�o quando h� muito trabalho. “Nesse muito trabalho, arriscamo-nos a perder um bocadinho o sentido daquilo que fazemos e da maneira como fazemos, no cuidado ao outro que � o mais desfavorecido”, refere o presidente da Comunidade Vida e Paz.

Segundo este respons�vel, a forma e o modo como o Papa Francisco abordou esta tem�tica trouxeram uma nova esperan�a. “A forma como o disse, o sorriso com que disse, a delicadeza do Papa, reencheu-me de esperan�a dizendo que estamos no caminho certo. Se calhar � o testemunho que o mundo hoje precisa”, observou Henrique Joaquim.

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Olhar pascal de esperan�a

Nos dias de hoje e perante a atual situa��o econ�mica e social que se vive no pa�s, h� dificuldades que se manifestam � a��o da Comunidade Vida e Paz. “A pior coisa que estamos a viver, falando da a��o social organizada, s�o as incertezas governativas e as incertezas das estruturas. Por isso � muito dif�cil viver aqui um princ�pio da Doutrina Social da Igreja que � o da subsidiariedade. Porque t�o depressa as estruturas que nos s�o superiores est�o a fazer aquilo que as organiza��es j� fazem, como t�o depressa nos deixam entregues a n�s pr�prios. � muito dif�cil conciliar isto”, lamenta Henrique Joaquim, lembrando, ainda, que “estamos numa sociedade com dificuldade de recursos”. �No entanto, o presidente da Comunidade Vida e Paz, deixa um olhar pascal de esperan�a: “Apesar de tudo gostava de deixar uma palavra de esperan�a porque tem havido, e eu tenho sentido na pr�tica, a partilha. As pessoas demonstram solidariedade e generosidade e acho que esta crise h�-de fazer-nos mais fraternos”.

texto por Nuno Ros�rio Fernandes; fotos AgenSIR e arquivo