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Hermínio Rico, sj
Aprender a esperar

O Advento vem já aí. É o tempo de exercitar a espera enquanto pedagogia para nos situarmos bem na esperança e ordenar o viver dos nossos desejos, sem sofreguidões nem letargos. É, no fundo, oportunidade para aprender a viver o tempo, especialmente na relação do presente com o futuro. Nós, portugueses, como povo temos muito a ver com o Advento. Infelizmente, mais pelo lado das lições não aprendidas ou mal aprendidas.

Advento enquanto preparação para a vida do Messias remete-nos imediatamente para o nosso próprio complexo messiânico. O não desistir de sonhar, de acreditar numa solução que há-de aparecer mesmo que não se consiga agora ver como, isso dá-nos esperança e capacidade de resistência na adversidade. Mas o sebastianismo tornou-se muitas vezes temeridade, adiando a acção inevitável para lá do recuperável. A nossa espera messiânica acaba por ser mais preguiça e desorganização do que esperança.

Nunca aprendemos bem a gerir o presente em função dum futuro sustentável e mais próspero. Temos muita capacidade de sacrifício quando este se impõe, mas muito pouca inteligência para voluntariamente cuidarmos do futuro no presente quando as circunstâncias são propícias e exigiriam até pequeno esforço. Sistematicamente, preferimos pequenas vantagens imediatas e efémeras, mesmo à custa de pôr em causa grandes e perduráveis proveitos futuros. Os expedientes são um modo de vida. De facto, não acreditamos num sistema que remunere o esforço e a criatividade. Projectamos a visão de um mundo à nossa imagem: desorganizado, pouco fiável, onde os resultados são mais aleatórios do que merecidos, mais de sorte do que de justiça; mundo onde mais facilmente triunfa o esperto e habilidoso que o inteligente, determinado e perseverante.

Há muitos séculos que esbanjamos regularmente enormes oportunidades. Riqueza adventícia caiu-nos nas mãos várias vezes e toda se esvaiu rapidamente sem criar estruturas e deixar desenvolvimento que nos permitisse continuar a criar mais riqueza no futuro. Quando ricos, só vemos consumo e não pensamos em investimento. Uma vez pobres, resta apenas o indispensável para consumir e não conseguimos investir.

Aposta na educação e na formação nunca foi o nosso forte. Preferimos sempre começar o mais cedo possível a ganhar pouco mesmo ficando a ganhar pouco sempre. Planeamento e organização raramente nos mobilizam. Sentimo-lo como perda de tempo e rapidamente nos aborrece, fazendo-nos aceitar qualquer atalho que nos liberte da maçada de pensar o futuro e nos devolva o tempo para viver o presente. Esta atitude fez-nos desenvolver o proverbial, e invejado por outros, desenrascanço. No entanto, leva também a muita improvisação, muito desperdício e à falta de bases sólidas, duráveis e sustentáveis em muitas áreas da nossa vida comum. O improviso como estilo de vida não nos deixa sair do provisório e precário.

Mais recentemente, descobrimos uma maneira ainda mais sofisticada de viver o presente à custa do futuro. Deslumbrámo-nos com as possibilidades do crédito, com a ideia de custos diferidos. À habitual pouca capacidade de ir preparando para as gerações vindouras um futuro melhor, acrescentámos agora subterfúgios para viver à custa delas, sobrecarregando-as com os pagamentos, adiados por nós, dos consumos que usufruímos já.

Precisamos mesmo de aprender do Advento a relação do presente com o futuro!