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Maria Luísa Paiva Boléo
Uma vida dedicada à catequese
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Dá catequese há mais de 56 anos e nas últimas Jornadas Nacionais de Catequistas foi homenageada pela dedicação a esta missão. Maria Luísa Paiva Boléo, da Diocese de Lisboa, considera que a catequese é essencial na formação das crianças e garante ao Jornal VOZ DA VERDADE que o futuro da catequese e da evangelização passa pela catequese familiar, que envolve os pais na transmissão da fé.

 

Tinha somente 14 anos quando começou a dar catequese, a pedido de sua mãe, à irmã mais nova, de apenas 3 anos e meio. “A minha mãe é que nos deu catequese, em casa. Ela morreu quando eu tinha 14 anos e pediu-me para me encarregar da educação cristã da minha irmã mais nova. Recordo-me que pouco depois da morte da minha mãe, peguei no livro que ela utilizava e comecei a fazer o que é um despertar religioso com a minha irmã”, conta Maria Luísa Paiva Boléo ao Jornal VOZ DA VERDADE. De então para cá, nunca mais deixou de dar catequese. Em especial às crianças e adolescentes. Já lá vão mais de 56 anos. No ano seguinte, então com 15 anos, Maria Luísa começa a dar catequese na paróquia de São João de Deus, em Lisboa, a pedido do pároco. “Foi o padre Teodoro que me convidou, e insistiu, a dar catequese. Depois de começar a dar catequese, como gostei muito, continuei de boa vontade”, recorda.

 

Formação

No final da década de 50, quando o Patriarcado de Lisboa apostou nos cursos de catequese, a jovem Maria Luísa, então com 18 anos, começa desde logo, e novamente a convite do seu pároco, a frequentar esta formação. “Participei no segundo ano em que houve cursos regulares na diocese. Eram cursos intensivos, que foram organizados fora da cidade de Lisboa, num local que hoje pertence à Diocese de Santarém. Na altura eu pertencia à paróquia de São João de Deus, e o meu pároco, padre Teodoro, insistiu muito que os catequistas participassem. Eram cursos muito mais desenvolvidos dos que os de agora, porque com a formação da Universidade Católica o Secretariado Diocesano deixou de organizar cursos tão desenvolvidos”, refere Maria Luísa, apontando que “os professores do curso de catequese eram os formadores do Seminário dos Olivais, que formavam os futuros padres”.

Após um ano no chamado ‘Curso Elementar’, esta catequista fez mais dois anos de formação, com o ‘Curso Complementar’, que incluía também estágio. “Assim que acabei o meu estágio, em Julho, no início do ano lectivo seguinte comecei logo a orientar estágios, a nível diocesano. Tinha 21 anos e era algo um pouco anormal, pela minha idade, mas foi um pedido que me foi feito pelo senhor padre Canas, que durante 26 anos foi o responsável pelo Secretariado Diocesano da Catequese”, conta Maria Luísa. Ao mesmo tempo, começa a fazer cursos teóricos aos catequistas.

Anos mais tarde, na década de 60, Maria Luísa Paiva Boléo vai para França estudar Teologia. “Fiz Teologia no Instituto dos Padres Dominicanos em Toulouse. Estávamos no pós-Concílio e um dos meus professores tinha sido perito do Concílio Vaticano II, de maneira que tive professores excepcionais. Foi um enriquecimento enorme”, assegura.

 

África

Com o regresso a Portugal, além de continuar na catequese, Maria Luísa começa a dar aulas de Moral num colégio religioso em Lisboa. Durante quatro anos trabalhou nesta escola e prestava também colaboração ao Secretariado Diocesano da Catequese. Até que é convidada a ir para Angola, onde esteve dois anos: “No primeiro ano, em 72-73, estive em Luanda, a convite da diocese local, apenas a trabalhar em catequese. Depois fui para Serpa Pinto, que actualmente se chama Menongue, e trabalhei directamente com a missão local, dos Padres Redentoristas, a dar aulas de francês e também catequese”. Em terras africanas, a vida de Maria Luísa Paiva Boléo dá uma ‘grande volta’. “Foi em Angola que adoptei a minha primeira filha, algo que nunca me tinha passado pela cabeça! Mas no terreno, vendo a necessidade real, e a situação de muitas crianças abandonadas e muitos filhos da guerra – que são os filhos dos soldados com as mulheres locais – surgiu-me essa ideia”, conta.

No Verão de 1974, após o 25 de Abril, Maria Luísa vem a Portugal de férias e, enquanto cá estava, foi convidada a trabalhar no Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), pelo padre Domingos Pereira, da Diocese de Beja. “Na altura não tinha família em Angola. Já tinha pedido a tutela da minha filha, porque na época não sabia que podia adoptar, e as coisas começavam a complicar-se em Luanda. Portanto, entendi que era mais adequado regressar”, recorda. No SNEC, onde esteve durante seis anos e meio, Maria Luísa Paiva Boléo trabalhou a tempo inteiro. “Foi uma fase muito conturbada, sobretudo no início, porque foi o rescaldo do 25 de Abril, onde houve a tentativa de tomada de poder comunista e a marginalização de muitas estruturas da Igreja. O secretariado teve de lidar com todas estas coisas, além de não saber se teria grande capacidade de sobrevivência”, salienta esta responsável.

Este foi também o período em que Maria Luísa esteve “mais desligada da catequese”. Não só pelo trabalho no SNEC, mas também porque nesta época adoptou “mais dois filhos, entre as crianças refugiadas que tinham vindo de Angola”.

 

Catecismos, Odivelas e catequese familiar

Em 1981, Maria Luísa Paiva Boléo volta a dar aulas de Moral, primeiro no Lourel, Sintra, e depois em Caneças, onde ficou até se reformar, em 2006. Em finais da década de 80, início dos anos 90, Maria Luísa esteve ligada à elaboração dos então novos catecismos. “Fiz parte de uma das cinco equipas que foram criadas. O nosso Patriarca, senhor D. José Policarpo, na altura Bispo Auxiliar de Lisboa, era presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e durante dois anos lançou o trabalho de aprovação do programa de catequese e da elaboração dos catecismos decorrentes desse programa. Foi um trabalho muito bem organizado, muito bem coordenado pela irmã que estava na altura à frente do secretariado e que permitiu que em dois anos, de Outubro de 1991 a Outubro de 1993, tivéssemos publicados os dez catecismos, que se mantiveram até agora, uma vez que o último a ‘desaparecer’, desapareceu este ano”, recorda.

Nos dias de hoje, Maria Luísa Paiva Boléo dá catequese no Instituto de Odivelas, onde está desde 1996. “Pertenço à paróquia de Caneças, que tem a catequese aos sábados, dia em que há diversas actividades diocesanas e portanto não consigo assumir um grupo na paróquia, pelo que, actualmente, a catequese que dou, como catequista, é no Instituto de Odivelas. Dou catequese ao 10º ano, na preparação das raparigas para o Crisma”.

Maria Luísa integra também o Departamento da Catequese do Patriarcado de Lisboa e, indirectamente, está ainda ligada ao Secretariado Nacional da Educação Cristã. Apesar de ter saído de SNEC em 1981, Maria Luísa continuou a sua colaboração, em especial na elaboração de catecismos, de cursos para formação de catequistas e, ultimamente, tem colaborado ao nível da catequese familiar. “A catequese familiar é um projecto lançado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã, que está no segundo ano. Trabalho com o padre Vasco Gonçalves, da Diocese de Viana do Castelo: ele tem feito a parte para os animadores paroquiais, que trabalham com os pais, e eu faço a parte que é para os pais trabalharem com os filhos”.

 

A importância da catequese

Para Maria Luísa Paiva Boléo, “a catequese é entendida dentro de um quadro maior de toda a evangelização da Igreja, como sendo o ajudar a caminhada de fé”. Contudo, alerta, “não deveria ser um primeiro anúncio”. “Hoje temos a ambiguidade de encontrar crianças em todas as situações. Para muitas crianças que se inscrevem na catequese, a catequese é de facto um primeiro anúncio. E isso é algo que pode acontecer em qualquer idade, ao longo do percurso de dez anos! Já não há uma homogeneidade no grupo de catequese, o que levanta problemas e dificuldades”. Maria Luísa recorda que “quando começou a aparecer a realidade de diversas crianças por baptizar a inscreverem-se na catequese, a Igreja fez uma grande reflexão sobre isso”. Para esta responsável, “a catequese hoje em dia é um misto de evangelização, de primeiro anúncio, e de acompanhamento de uma caminhada de fé em crescimento”.

Questionada sobre a importância da catequese na formação humana, em especial das crianças, Maria Luísa destaca: “A catequese é algo de primordial na Igreja, e não sei se muitas vezes é entendido como tal. Muitas pessoas questionam: ‘Para que serve a catequese, se depois temos poucas pessoas nas igrejas?’. Este é um fenómeno que é difícil de analisar, mas é evidente que os catequistas, por muito que façam, não conseguem suprir aquilo que a família deixou de dar. As crianças, quando entram para a catequese, se não as levarem à Eucaristia também não podem ir sozinhas. Há paróquias que optam por levar as crianças à Missa antes ou depois da catequese. Tem vantagens, mas não resolve tudo, porque se as crianças ficarem entregues a si próprias durante a celebração não sei se lhes servirá para alguma coisa. De qualquer forma, a participação das crianças na Eucaristia, partindo do princípio que há um certo acompanhamento, vai familiarizando-as com a celebração”.

Um dos possíveis caminhos futuros para a catequese, no entender de Maria Luísa, é a catequese familiar. “O que é animador no tal projecto de catequese familiar, a nível nacional, é que estas famílias continuam a ir catequese com os filhos, em família, mesmo em época de férias escolares e da catequese. Isto mostra um empenhamento completamente diferente, porque se envolveu os pais! Essa é que é a grande falha das catequeses: não envolver mais os pais na educação cristã dos filhos, porque se a criança não tiver enquadramento familiar é muito difícil que participe na Eucaristia”.

Há mais de 50 anos que Maria Luísa Paiva Boléo dedica a sua vida à catequese. “Penso que o que é dado na catequese às crianças as marca profundamente. Acredito que vale a pena!”, observa.

 

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Mais de 50 anos ao serviço da catequese

Durante as recentes Jornadas Nacionais de Catequistas, o Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu à Eucaristia, numa celebração onde foi homenageada Maria Luísa Paiva Boléo, pelos 50 anos ao serviço da catequese em Portugal. “Há 56 anos que dou catequese; há 51 anos que entrei para o Secretariado Diocesano da Catequese, embora não tenha estado lá ininterruptamente; pelo que a única coisa que este ano faço 50 anos é como catequista formadora”, destaca Maria Luísa, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Nesta homenagem do Secretariado Nacional da Educação Cristã, D. José Policarpo entregou a Maria Luísa Paiva Boléo uma cruz de ouro, em reconhecimento pela dedicação à catequese. “Ninguém me tinha dito nada, pelo que fiquei completamente admirada com a homenagem!”, assegura.

  

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Renovação dos catecismos

Foi um processo que se iniciou em 2005, com a publicação do novo catecismo do 9º ano, e que terminou apenas este ano, com a edição do livro para o 6º volume da catequese. Em sete anos, a Conferência Episcopal Portuguesa renovou todos os manuais da catequese, num processo de renovação que Maria Luísa Paiva Boléo saúda. “A grande diferença dos catecismos situa-se na maneira de encarar a experiência humana, como uma experiência real, onde Deus nos fala, onde Deus nos interpela directamente. A catequese é mais do que simplesmente anunciar a Palavra. Temos que a enraizar totalmente na nossa vida e essa parte penso que não está absolutamente adquirida, porque muitas vezes a experiência humana e a Palavra anunciada surgem como camadas sobrepostas, que não têm ligação directa. Mas devo dizer, porque também trabalhei em catecismos, que isto é muito difícil de fazer na realidade. Houve um esforço de renovação nestes novos catecismos, o aspecto gráfico foi totalmente alterado, mas o resto apenas o tempo irá dizer”.

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