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Crise
A diabolização dos políticos e as políticas do diabo
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“Em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão” – assim reza o aforismo que bem se ajusta à situação dos portugueses. Se a sabedoria aponta os sintomas, também aponta o tratamento: deixar de ralhar tanto, olhar para a realidade, escolher a melhor saída e avançar.

 

Diabolização da política

Diabolizar a política é a primeira manifestação da falta de sabedoria, mostrando que não se sabe lidar com a realidade e se avançou sem marcar rumo, apenas barafustando. A política, como ciência, mas também como arte (a capacidade de gerir a “polis”, a cidade, espaço de cidadania) é uma nobre profissão, indispensável ao viver em comum e daí profundamente exigente para quem a ela se dedica. Mas também todo o cidadão tem o seu lugar na “polis-cidade” e a sua palavra a dizer; fugir da política é fazer política da forma mais negativa e irresponsável porque é transferir a autoridade para quem tiver maior poder, o que não se identifica com legitimidade. Diz a exortação apostólica Christifideles Laici que “as acusações que muitas vezes são dirigidas aos homens do governo, do parlamento, da classe dominante ou partido político, bem como a opinião muito difusa de que a política é um lugar de necessário perigo moral, não justificam minimamente nem o ceticismo nem o absentismo dos cristãos pela coisa pública” (n. 42). Já a carta apostólica Octogesima Adveniens refere que “a dignidade do compromisso político decorre do facto de fazer parte do plano de Deus salvar o mundo, de corresponder às aspirações fundamentais do homem (n. 24) e de ser forma privilegiada de viver a caridade (n. 46). Diabolizar significa na sua raiz transformar em algo de nefasto o que na realidade não era.

 

Políticas do diabo

Diabolizar os políticos é um erro, como errado é também não ver, ou não querer ver, ou pior ainda, impedir de ver, os embustes que certas maneiras de atuar dos políticos comportam. Quando a dignidade, o respeito, os direitos da pessoa não têm a primazia na arte de fazer política; quando as agendas partidárias subordinam o bem comum; quando o interesse particular se sobrepõe ao interesse coletivo, então estamos perante o diabo (o enganador – na sua raiz grega), isto é perante a transformação de algo bom em algo nefasto.
Abanados pelas constantes e cada vez mais gravosas medidas de austeridade, somos obrigados a fazer a pergunta: estamos no caminho certo? Sem a resposta cabal que ninguém tem (nem os políticos – temos que lhes reconhecer esse direito de serem aceites como limitados e o dever de exigir-lhes a humildade para o reconhecerem) o cidadão tem de estar vigilante quando tem indícios suficientes para admitir que ladrões rondem a sua casa. E tem de exigir a quem de direito que vá esclarecendo as motivações que o levaram a medidas tão perturbadoras.

 

Sinais de alerta

Ninguém pode dizer que o que se passa não lhe diz respeito. Obviamente há graus diferentes de responsabilidade. Mas muitos são os sinais a exigirem atenção: Será aceitável este retrocesso na qualidade de vida quando tantas pessoas começam a não ter meios para satisfazer necessidades básicas? Quando a degradação do ensino e a fuga de cérebros para o estrangeiro fazem deste um país sem futuro? Quando a incapacidade para satisfazer compromissos assumidos e que nada têm a ver com um mero desvario consumista como no referente a habitação, energia, água, provoca desespero e desesperança? Será que a prioridade não está a ser dada a quem mais tem, levando a pensar que o peso da crise está a ser transferido para os mais fracos? Onde é que está o diabo, esse elemento enganador que torna esta vida num inferno, aquilo que nem Deus quer nem o homem deseja? Jesus falou de “vida em abundância” para todos. Por isso ficamos indignados com o que nos tira a esperança: secretismos onde deve só existir transparência, grupos de pressão como tentáculos dos poderosos impondo o seu domínio, medidas desenhadas por mafias de ilustres manipuladores dos interesses financeiros; organizações democráticas mas apenas defendendo o poder corporativo que representam; vendedores de promessas das quais resulta apenas uma mão-cheia de nada. O diabo (o engano, a mentira) está aí.

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