Artigos |
apagar
Das aves: rapinas, de mau agoiro, canoras. Das aves do céu (e lírios do campo)

Aves de rapina: o ano começou mal. Os dados referentes a Janeiro de 2010 demonstram que o despesismo continua e que parte do enorme esforço que está a ser exigido aos portugueses foi consumido com uma despesa que não se contém. 

Cada vez mais é preciso denunciar todo e qualquer abuso. Não pode cortar-se no essencial para manter o acessório. Há que prestar muita atenção ao resto do ano, porque há departamentos a adiar despesa para parecer bem no retrato do primeiro trimestre.

Aves de mau agoiro: aqueles que ameaçam crises que efectivamente não querem para ganhar notoriedade que não merecem. Precisamos de frieza e sentido de estado. O exemplo é o de São Francisco: onde houver ódio, onde houver medo, onde houver desconfiança, que eu saiba ser um sinal contrário.

Aves canoras: os Deolinda lançaram, nos seus concertos, uma música que tem dado que falar. É sobre a falta de opções da geração que está agora a começar. Pegou como um rastilho numa geração que se vê adiada: adiada na sua vida profissional e familiar. Impossível ficar indiferente: a reacção tem sido impressionante. Galgou os espectáculos para a plateia, daí para o You Tube, para a comunicação social, para o Facebook, daí para a rua. Marca-se pontos pela falta de opções e pelo facto de tantos não se sentirem representados nas forças políticas existentes. Algumas destas forças tentarão capitalizar a seu favor este descontentamento, este vazio de representação. Cair no erro de não participar deixará este descontentamento isolado, à mercê de quem estende a mão. Há erros que se pagam caro. Não temos de ter medo que nos confundam. A sede de justiça é-nos própria.

Aves do céu: Em toda esta austeridade, medo, insegurança temos de ser aqueles que têm outras razões para a nossa esperança, outra forma de estar, outra maneira de ser. Não andemos preocupados com o que havemos de comer ou de vestir. Olhemos as aves do céu, os lírios do campo. Saibamos distinguir o essencial do acessório. Que essa preocupação não nos afaste do essencial. Concentremo-nos, com confiança: a cada dia o seu trabalho.