Lisboa |
Ordenações Diaconais, nos Jerónimos
“Próximos dos que não sentem ou já não pressentem Deus nas suas vidas”
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O Patriarca de Lisboa desafiou os cinco novos diáconos da diocese (dois com vista ao sacerdócio e três na situação de permanente) a fazerem-se “próximos” dos que estão afastados de Deus. “Atualmente, são uma imensidão”, salientou D. Rui Valério, que pela primeira vez presidiu às Ordenações Diaconais do Patriarcado.

 

“Desde já vos exorto a fazerdes-vos próximos daqueles e daquelas que não sentem ou já não pressentem Deus nas suas vidas. Atualmente, são uma imensidão. Particularmente entre os jovens, mas também entre os pobres ou entre os que descreem da Sua ação redentora no mundo. Assistir passivamente à privação de Deus da vida dos pobres, ficar na praia a ver mulheres e homens distanciarem-se d’Ele, perderem o sentido da Sua presença nas suas vidas, não só é uma traição a Cristo e ao seu Evangelho, mas é ser cúmplice do mais atroz esvaziamento do ser humano, que é ficar privado da bênção de um horizonte de esperança que só a comunhão com o Pai pode dar”, alertou o novo Patriarca de Lisboa, na homilia das Ordenações Diaconais, que decorreram na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, na tarde de dia 3 de dezembro, Domingo I do Advento.

D. Rui Valério referiu mesmo que a ausência de Deus “priva de qualquer esperança”. “Procurai compreender que a ausência do Senhor não produz no ser humano apenas um sentimento de solidão, também o priva de qualquer esperança e mergulha multidões de pessoas numa noite existencial onde tudo parece absurdo e nada aparenta fazer sentido”, salientou.

 

Três etapas

Foram ordenados diáconos, com ânimo de ascender ao presbiterado, Lourenço Abecasis de Carvalho, proveniente da paróquia de Santa Joana Princesa, e Pedro Miguel de Oliveira Araújo, proposto pela paróquia de Alverca do Ribatejo, ambos alunos do Seminário Maior de Cristo Rei, nos Olivais. Na situação de permanente, foram ordenados no primeiro grau da Ordem Joaquim Manuel Mendes Batista, batizado na paróquia de Erada, Diocese da Guarda, e proposto pela paróquia da Ajuda (cidade), Jorge Miguel Candeias do Carmo, batizado em Porto Salvo e proposto também por esta paróquia da Vigararia de Oeiras, e Luís Manuel de Almeida Ribeiro Costa, batizado na paróquia de Sobreira Formosa, Diocese de Portalegre-Castelo Branco, e que foi proposto ao diaconado pela paróquia de Monte Abraão. Aos cinco novos diáconos do Patriarcado de Lisboa, D. Rui Valério propôs, “a partir do que a própria Palavra nos propõe”, uma reflexão “em três etapas”.

“Primeiro, captai em profundidade os efeitos devastadores que a não presença de Deus na vida das pessoas e das comunidades provoca”, começou por enumerar o Patriarca, lembrando depois palavras do profeta Isaías relativas a “quem perde as referências a Deus”. “Isaías protesta contra o endurecimento do coração, o pecado de rebeldia, próprio de quem não aceita nada que tenha origem no outro, mas apenas aquilo que decorre do próprio eu; e profere uma frase que é todo um programa: sem a presença do Senhor, diz, “caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento”. É uma referência à dramática situação de escravidão que vive quem perde as referências a Deus e se deixa subjugar pelo domínio de forças e poderes tantas vezes contrários aos interesses genuínos do ser humano”, sublinhou D. Rui Valério.

 

Súplica e vigilância

Na presença do Patriarca Emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente, do Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Joaquim Mendes, e ainda do Bispo Emérito do Funchal, D. Teodoro de Faria, além de padres, diáconos permanentes, religiosos e leigos da diocese, o Patriarca de Lisboa destacou, como segunda etapa, que “a reação do ser humano face à ausência de Deus é apresentada em dois registos”: “o primeiro é a súplica” e “a segunda atitude é a vigilância”.

Sobre a súplica, D. Rui Valério garantiu que “a nossa vida só recebe configuração e forma através de Cristo, Sabedoria do Pai”. “Como no princípio fomos plasmados do barro da terra pelo divino Criador, também hoje, a vitória de cada um sobre o caos é obra do divino Oleiro. Só Ele é o único que molda a tua vida e o teu ser! Só Ele dá beleza e forma ao teu pensar e ao teu agir!”, assegurou.

Sobre a vigilância, o Patriarca destacou que “vigiar” é “a atitude de quem está ao serviço de um regresso, ao serviço da aproximação de Deus a todos e a cada ser humano”. “A vigilância é constituída pela confiança mútua com Aquele que vem, e pela abertura ao seu acolhimento no encontro com Ele, e no serviço por amor. Caras irmãs e irmãos, particularmente vós, caros Lourenço, Pedro, Joaquim, Jorge e Luís, sede vigilantes da proximidade de Deus: uni cada pessoa a Ele, que é o Senhor da vida, e tornai-vos peritos no acolhimento ao Senhor que vem em cada irmão, com a certeza de que Ele continua a procurar-nos, em todos os tempos e lugares, independentemente da nossa distração na escuridão da noite”, convidou.

 

Proximidade

Por último, a “terceira etapa” consiste em “reafirmar o valor reparador da vinda e proximidade do Senhor Deus”. Neste sentido, D. Rui Valério lembrou a importância da oração. “Caros irmãos, diáconos, o vosso diaconado ao serviço do anúncio e dos irmãos é o rosto da vossa vigilância. Com a vossa pregação fomentais a decisão de mostrar que Deus é Aquele Pastor que vem à procura dos homens e pede para ser acolhido e hospedado na vida de cada um. Mas isso implica criar espaços interiores para a oração, libertar o coração para que Ele entre e possa efetivamente ser e permanecer”, aconselhou.

D. Rui Valério terminou a homilia das suas primeiras Ordenações enquanto Patriarca de Lisboa reafirmando a missão de criar “proximidade” a Deus. “Mostrai aos homens de hoje que a pergunta decisiva não é «onde está Deus?», mas sim «onde é que Ele tem lugar? Onde é que é acolhido? Onde é que é esperado?» Com a vossa missão concreta, não estais apenas a responder às mais prementes emergências sociais, mas a realizar proximidade, não só humana, mas do próprio Deus. Ele, de facto, afirmou que “o que fizerdes a um destes mais pequeninos, a mim o fareis.” “Vigiai” é um pedido que nos recorda que a vida não tem só a dimensão terrena, mas está projetada para um «além», como uma pequena planta que germina da terra e se abre para o céu. Vigiar é um presente que se faz futuro”, terminou.

  

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“Neste primeiro Domingo do Tempo do Advento, em que testemunhamos a consagração diaconal do Lourenço Carvalho, do Pedro Miguel Araújo, do Joaquim Batista, do Jorge Carmo e do Luís Manuel Costa, a Palavra escutada oferece-se como luz que vos há de iluminar no desenvolvimento da vossa diaconia para o serviço do Povo de Deus.”

D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa

 

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Novos diáconos com ânimo de ascender ao presbiterado

Diácono Pedro Miguel de Oliveira Araújo

Nasceu no dia 29 de janeiro de 1999 e pertence à paróquia de São Pedro de Alverca do Ribatejo, onde foi batizado. De 2020 a 2022, fez o seu estágio pastoral na paróquia da Ramada e, atualmente, encontra-se nas paróquias de Santo Antão do Tojal, São Julião do Tojal e Fanhões.

 

Diácono Lourenço Abecasis de Carvalho

Terceiro de quatro irmãos, nasceu no dia 24 de novembro de 1998, foi batizado na paróquia de Santos-o-Velho e estudou no Colégio de São Tomás e pertence à paróquia de Santa Joana, Princesa, em Lisboa. De 2020 a 2022, fez o seu estágio pastoral na paróquia do Monte Abraão e, atualmente, encontra-se na paróquia da Ramada.

 

Ordenações Diaconais 2023

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