Por uma Igreja sinodal |
Relatório de Síntese
1. A sinodalidade: experiência e compreensão
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Foi publicada a versão portuguesa do Relatório de Síntese da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu, no Vaticano, de 4 a 29 de outubro de 2023, que tem como título ‘Uma Igreja sinodal em missão’ e está dividida em três Partes.

 

1.1. O número 1. da Parte I - “O Rosto Sinodal da Igreja” está estruturado, como aliás todos os outros, em três perspetivas: Convergências, Questões a aprofundar e Propostas.

Nas Convergências salienta-se a qualidade da experiência sinodal vivida na Assembleia, desde logo pela metodologia adotada – o “diálogo no Espírito” –, que se expressou, fisicamente, na disposição em pequenos grupos à volta de mesas redondas [c)]. Esta experiência fortaleceu a convicção de que, não obstante as dificuldades existentes e as aprendizagens necessárias, “a perspetiva sinodal representa o futuro da Igreja” [i); cf. b)], ao conjugar a busca de comunhão eclesial com a participação dos crentes, em ordem à missão comum de evangelização.

Nesse sentido deseja-se que a Igreja seja cada vez mais experimentada como “casa e família de Deus”, como comunidade de irmãos e irmãs que procuram caminhar em conjunto, rezando, refletindo e decidindo, tornando-se assim “uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática e mais relacional” [b)]. “A sinodalidade – lê-se no Relatório – pode ser entendida como os cristãos a caminhar com Cristo, em direção ao Reino, juntamente com toda a humanidade; orientada para a missão, ela engloba os momentos de reunir-se em assembleia aos diferentes níveis da vida eclesial, a escuta recíproca, o diálogo, o discernimento comunitário, a criação de consensos como expressão de tornar presente Cristo vivo no Espírito e a assunção de uma decisão numa corresponsabilidade diferenciada” [h)].

1.2. Esta valoração da sinodalidade não ilude as dificuldades existentes. O Relatório reconhece que, apesar de enraizada numa Tradição secular, a dimensão sinodal da Igreja é sentida por muitos como algo desconhecido. Mais ainda, os caminhos da sinodalidade suscitam em alguns “confusão e preocupações”, em particular o receio de que a fé apostólica e o ensino da Igreja sejam alterados, de que se coloque em risco a natureza hierárquica da Igreja através de formas de deliberação por maiorias [f) e g)]. É indispensável discernir sobre o que, na receção do Concílio, é inalienável na identidade cristã e eclesial: “Alguns receiam ver-se obrigados a mudar; outros receiam que não mude nada e que haja pouca coragem para mover-se ao ritmo da Tradição viva. Algumas perplexidades e oposições escondem também o medo de perder o poder e os privilégios que dele derivam” [g)].

1.3. Há, pois, Questões a aprofundar quanto aos diversos modos e âmbitos em que a sinodalidade se concretiza, sem ignorar também as diferenças existentes nesta matéria entre as tradições do Oriente cristão e a tradição latina [k)]. Usada sem critério, o termo “sinodalidade” pode servir para tudo (como, aliás, sucede com as palavras “comunhão”, “colegialidade”, “serviço”, etc.). Por isso, o Relatório aponta para a necessidade de “esclarecer o significado de sinodalidade aos vários níveis, desde o uso pastoral ao teológico e canónico, afastando o risco de que soe demasiado vago ou genérico, ou que pareça uma moda passageira” [j)]. De que modo se exerce uma “autoridade partilhada” – ultrapassando estilos monárquicos de governo, mas no respeito pelo lugar específico do ministério ordenado –, como captar o verdadeiro sentido da fé dos crentes, que processos e estruturas se devem privilegiar para o discernimento comunitário, etc., estas são algumas das questões a clarificar. E cada cristão tem de se questionar também sobre o próprio posicionamento à luz do Evangelho, da Tradição da Igreja, do imperativo de renovação eclesial face às interpelações do mundo. Mas não pode haver medo de uma maior corresponsabilidade dos batizados, em ordem a uma Igreja sinodal e missionária.

1.4. A consciência do indispensável aprofundamento a fazer é suportada no Relatório por uma convicção básica: as questões da vida interna eclesial no caminho de renovação da Igreja não são um fim em si mesmo, antes têm de ser vistas no horizonte da missão e sua credibilidade. Neste enquadramento situa-se a necessidade de “fazer emergir as múltiplas expressões da vida sinodal nos contextos culturais em que as pessoas estão habituadas a caminhar juntas como comunidade”. Cresce, assim, a esperança de que uma prática sinodal na vida da Igreja possa ser sinal profético a interpelar a humanidade face “a um individualismo que se verga sobre si mesmo, a um populismo que divide e a uma globalização que homogeneíza e aplana. Não resolve estes problemas, mas fornece um modo alternativo de ser e de agir, cheio de esperança […], que deve ser ulteriormente explorado e iluminado” [l)].

1.5. O número 1. do Relatório culmina com a apresentação de Propostas, lembrando o que, nesta fase intermédia, é pedido a todos: cristãos, comunidades, agentes pastorais, pessoas sensíveis ao futuro da Igreja e da humanidade. Assim:

a) É “prioritário o alargamento do número das pessoas envolvidas nos caminhos sinodais”, superando obstáculos à participação, desconfianças e receios [m)]. É aqui decisivo “um envolvimento mais ativo de diáconos, presbíteros e bispos no processo sinodal” [n)]. As resistências – de modo ativo ou pela indiferença – têm de ser questionadas nas suas causas. 

b) Pede-se uma atenção particular em ordem a que “a cultura sinodal se torne mais intergeracional” (o). Os jovens têm de encontrar espaços de acolhimento que lhes permitam, abertamente e por diversos meios, exprimir a sua visão sobre o presente e o futuro da Igreja.

c) Há que promover um aprofundamento teológico da noção e da prática da sinodalidade, clarificando, ao mesmo tempo, as suas “implicações canónicas”. Juntamente com a instituição de uma comissão intercontinental de teólogos e canonistas, sugere-se que se estude a possibilidade de rever a atual legislação jurídico-canónica nesta matéria. É uma proposta importante: o que não se determina com clareza corre o risco de cair no limbo das coisas irrelevantes ou na pura arbitrariedade de quem tem o poder de decidir.

texto por José Eduardo Borges de Pinho; foto por Ricardo Perna
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