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Neste Natal, a Fundação AIS lembra os Cristãos do Médio Oriente e Terra Santa
“O Líbano está a desaparecer…”
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Foi uma terra de promessas, de vida fulgurante. Hoje, aos poucos, o Líbano está a transformar-se num país fantasma, onde a vida é quase impossível, onde o dinheiro deixou de ter valor, onde falta quase tudo em todas as casas, a começar, tantas vezes, pelo pão. Quem pode, parte. Agora, com a guerra entre o Hamas e Israel, o medo ainda é maior… Os que ficam são os mais pobres ou os que ainda sonham com um Líbano renascido. Como a Irmã Hounda…

 

Hounda Tannoury ainda não se resignou à ideia de que não há futuro para o Líbano. Mas tudo parece dizer o contrário. Dir-se-ia que as pessoas já desistiram de lutar por um país que parece estar a sucumbir de dia para dia inexoravelmente. Tem sido assim desde há bastante tempo, mas esta situação de crise económica agravou-se e muito nos últimos quatro anos. A moeda desvalorizou-se ao ponto de os bancos fecharem portas, o desemprego passou a ser algo normal e afecta cada vez mais famílias, e a outrora robusta classe média engrossa agora a fila dos pobres, dos que, tantas vezes, têm de recorrer a instituições de solidariedade, à própria Igreja para conseguirem ter um pouco de pão na mesa. Falta tudo no Líbano. Os combustíveis, a electricidade, os medicamentos… Até a esperança. E agora, com a guerra mesmo ao lado, entre o Hamas e Israel, todos têm medo de que o conflito galgue fronteiras e atinja também o Líbano. O país está a esvair-se e nada parece conseguir inverter este rumo suicida. A Igreja está a viver também tempos particularmente duros. A área do ensino é um exemplo trágico do que está a acontecer.

 

Os dilemas da Irmã Hounda

Cerca de três centenas de escolas do Líbano são geridas pela Igreja Católica. Isto significa uma responsabilidade directa pela educação de milhares de crianças e jovens, mas também pelos salários de milhares de professores. Como o Estado está sem recursos, todos os subsídios que normalmente eram atribuídos ao ensino deixaram de ser pagos. Mas a Igreja não quer fechar escolas, não quer enviar os alunos para casa, não quer despedir os professores. É um dilema que tira o sono à Irmã Hounda Tannoury, directora de uma escola em Jabboule. “O Líbano está a atravessar uma crise económica sem precedentes. As escolas estão a ficar sem fundos, com dificuldades em pagar aos professores”, explica a irmã a uma equipa de reportagem da Fundação AIS. Tannoury refere que esta é uma questão mesmo difícil. Se alguma escola fechar portas, isso significa, por exemplo, que centenas de crianças correm o sério risco de passar fome. As palavras são duras, mas a realidade é cruel. “Muitos dos nossos pais não têm dinheiro sequer para comprar pão para os seus filhos. É muito humilhante”, confessa-nos a responsável pela escola de Jabboule.

 

Viagem sem regresso

A região onde se situa esta escola é essencialmente agrícola, mas tudo parece estar parado por ali. Falta água, falta electricidade, falta já, tantas vezes, às próprias pessoas a energia vital para se enfrentar o destino. Parece que os Libaneses estão a desistir. Cada vez é maior o número dos que fazem as malas à procura de um país onde possam viver com dignidade, onde possam ver crescer os filhos sem a angústia de não terem nada para lhes dar de comer, ou onde possam cuidar dos mais velhos, dos idosos e dos doentes, sem sobressaltos. Muitos arriscam tudo numa viagem que poderá não ter regresso. Mas o Líbano é essencial para a presença dos Cristãos no Médio Oriente. Se a comunidade cristã partir ficará um vazio que dificilmente será preenchido. Tudo isto atormenta também a irmã, que faz o que pode e o que não pode para contrariar os sinais de tempestade que se acumulam nos céus libaneses. “É triste ver que as pessoas estão a pensar em abandonar esta terra. Nestas regiões, os Cristãos são cerca de 10%, e nós encorajamo-los muito a ficar, porque eles são um símbolo do Cristianismo. Gostamos de ter um país, mas estamos a perdê-lo. Está a desaparecer. O Líbano está a desaparecer…”

 

Alimentar os sonhos

A Irmã Hounda Tannoury sabe que ter uma escola é como gerir um tesouro. Um tesouro feito também dos sonhos dos alunos, rapazes e raparigas que percebem já que alguma coisa está a correr mal no seu próprio país, mas que, mesmo assim, ainda acreditam no futuro. É importante alimentar os sonhos. São eles que vitaminam a vida, que fazem superar as dificuldades, que dão energia para os tempos duros. A Irmã Hounda acredita que a sua escola vai aguentar, que nunca terá de fechar as portas, que vai correr tudo bem. Até porque ela sabe que tem por ali jovens muito promissores. Um deles é Joseph. “Esta escola fez-me amar mais Jesus Cristo. Agradeço sempre a Deus por me ter dado esta oportunidade. Agradeço sempre a Deus pelos meus pais, pelos meus amigos. Ele deu-me esta escola maravilhosa e eu tenho muitos planos. O meu objectivo é ser médico.” É por jovens como Joseph que a Irmã Hounda nos pede ajuda. Ela precisa de manter a sua escola de portas abertas. A Igreja precisa de manter todas as suas escolas a funcionar, os seus hospitais a funcionar, para que a comunidade cristã possa continuar a viver no Líbano. A Igreja procura ajudar os que ainda não desistiram deste país essencial para a presença do Cristianismo no Médio Oriente… 

 

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A Fundação AIS está fortemente empenhada no apoio à Igreja da Terra Santa e no Médio Oriente, nesta altura tão difícil e dramática da sua história. Em causa está a permanência da própria comunidade cristã. Ajude, neste Natal, jovens como Joseph, ou irmãs como Hounda Tannoury, que lutam pela sobrevivência das escolas católicas no Líbano.

Eles são Cristãos nas terras da Bíblia. É preciso ajudá-los a sobreviver, é preciso ajudá-los a ficar.

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