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DOMINGO XXIII DO TEMPO COMUM Ano A

“Se te escutar,

terás ganho o teu irmão.”

Mt 18, 15



Tropeçaram as minhas mãos num livro de ficção-científica de Ursula H. Le Guin, que reli com gosto, intitulado “O dia do perdão”. O título original é mais explícito: “Quatro vias para o perdão”. E há releituras que têm sabor a novidade. São quatro contos interligados que mostram a necessária comunicação entre o perdão e o amor, a fundamental necessidade de libertarmo-nos de toda a opressão. Mas esse é um processo de mudança que não é fácil, como diz Havzhiva: “Não é possível mudar nada de fora para dentro. Ficando de parte, olhando do alto, dando a vista de olhos, vemos o padrão. O que está errado, o que falta. Queremos consertar as coisas. Mas não podemos pôr-lhes remendos. Temos de estar do lado de dentro, tecendo-as. Temos de fazer parte do tecer.”

É curioso como a palavra “perdão” custa tanto a dizer. Raramente se ouve falar “perdão da dívida dos países mais pobres”. Talvez já não haja “dívida”?! O mais comum é pedir desculpa”. E há uma diferença entre estas duas expressões: o perdão acentua a dádiva, a gratuidade do amor que é dado, a desculpa pede uma libertação da culpa, um “deixa de me culpar”. E todos nós aprendemos de pequeninos a dizer: “foi ele que começou, eu não tive culpa nenhuma!” Quantas vezes não somos todos solidários num mal, que não se resolverá enquanto não começarmos a mudar por dentro?

Impressiona-me a delicadeza com que Jesus trata das ofensas entre os irmãos. O seu amor por nós não é porque somos perfeitos, mas sim porque somos capazes de crescer. Diante do erro e do pecado não se deve “tapar o sol com a peneira” nem “pôr a boca no trombone” (e infelizmente somos tão especialistas numa e noutra atitudes!). É preciso a coragem humilde de fazer encontro, de dialogar no segredo, de aprender com as falhas. E tratar o outro como eu próprio gostaria de ser tratado! Procurando a verdade, que implica responsabilidade, mas com o amor que sempre devemos uns aos outros. E mesmo quando o outro não quer, nunca desistir de o vir a acolher, como Jesus sempre fez aos pagãos e publicanos!

Quanto temos a aprender nos caminhos para o perdão! As nossas comunidades são imperfeitas, não porque uns sejam justos e outros pecadores, mas porque em todos há luz e trevas. Ninguém é só luz e ninguém é só trevas. Quando excluímos alguém, excluímos uma parte de nós próprios! Por isso é tão necessário o trabalho de tecer a tapeçaria da vida com os fios distintos e belos de todos. Procurando o apoio naquilo que é essencial. Como dizia outro personagem do livro de Le Guin, Teyeo, numa oração: Permite que me apoie com firmeza na única coisa nobre!” E a única coisa nobre é o amor. S. Paulo chama-lhe caridade. É com ela que tecemos a vida!

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