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Desde Kherson, no meio da guerra, um padre fala da sua missão
Até ao último dia
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A invasão da Ucrânia começou em Fevereiro do ano passado. A ocupação da cidade de Kherson pelas tropas russas teve início apenas um mês mais tarde. Veio o frio, o Inverno. E veio também a reconquista pelos Ucranianos. E a guerra continuou. E em Kherson continua também o Padre Ignatius Moskalyuk. Ele é um símbolo da Igreja. De uma Igreja que não abandona ninguém nem mesmo no meio da guerra…

 

Não haverá ninguém no mundo que não tenha ouvido já falar em Kherson. Esta cidade, situada no sul da Ucrânia e que é banhada pelo rio Dnieper, tem sido palco de ferozes combates praticamente desde o início da invasão das tropas russas, em Fevereiro de 2022. Kherson foi ocupada pelos Russos logo em Março, e foi libertada pelos Ucranianos nove meses depois. Durante semanas choveram mísseis e obuses. No início de Julho, uma barragem situada na região foi destruída, alagando campos e casas. No meio desta violência e destruição, o Padre Ignatius Moskalyuk, reitor do mosteiro basiliano de São Volodymyr, continua no seu posto, continua a sua missão, juntamente com o Irmão Pius, de serviço às populações que todos os dias enfrentam o medo e a morte. “Desde que a guerra começou, tenho consciência de que cada dia pode ser o último. Quando me deito não sei se viverei para ver o próximo nascer do sol e assim sucessivamente.” Ficar e ajudar passou a ser todo um programa para estes dois homens de Deus apanhados pelo maior conflito armado na Europa desde a II Guerra Mundial. Ele próprio explica por que tomou a decisão de ficar. “Depois de nove meses de ocupação, eu precisava de descanso físico e espiritual. Quando disse ao povo de Kherson que ia para a Ucrânia Ocidental para recuperar um pouco, lembro-me de como os fiéis me olhavam nos olhos e me perguntavam: ‘Voltarás para nós, Padre?’ Eu via os seus rostos e as lágrimas nos seus olhos e respondia-lhes: ‘Sim! Não vos deixarei. Ficarei convosco até ao fim, se for essa a vontade de Deus Nosso Senhor. Enquanto for essa a Sua vontade, ficarei convosco’.”

 

Confiar ainda mais em Deus

Partir, deixar estas populações, abandonar os mais frágeis, os idosos, os doentes, não seria nunca uma opção. A presença destes dois homens de Deus no meio de uma cidade que vive o inferno da guerra é um sinal também da importância insubstituível da Igreja onde há conflitos, nos lugares do mundo onde, às vezes, não há mais nenhuma mão amiga do que a dos sacerdotes, das irmãs, dos consagrados. “Quando o nosso mosteiro auxilia as populações, distribuindo ajuda e prestando atenção às pessoas, elas sentem que as amamos, que as respeitamos e que são importantes para nós”, diz o padre. E esta presença já começou a dar frutos.  “Agora, um grande número de pessoas vem ao nosso mosteiro e pede-nos os sacramentos do baptismo, do matrimónio ou da penitência; todos os dias, 25 ou mesmo 30 pessoas vêm à Santa Missa e recebem a Sagrada Comunhão; entre elas, crianças, jovens... Isto alegra o nosso coração.” Apesar dos tempos muito duros que se estão a viver, o Padre Ignatius acredita que a fé das pessoas se tornou mais forte. Até com ele isso aconteceu. “Durante a ocupação e a guerra, aprendi a confiar ainda mais em Deus. Eu também costumava confiar nele, mas essa confiança talvez não fosse tão forte como é agora. Agora agradeço a Deus por cada novo dia e por me permitir viver para Ele e para o povo; agradeço a Deus por poder sacrificar a minha vida dia após dia. O maior milagre destes tempos é o facto de ter saúde e de Deus me ter protegido de todos os males. É também um milagre que o nosso mosteiro e a nossa igreja tenham sido preservados e que tenhamos um lugar para rezar, que a nossa igreja não esteja vazia, mas que as pessoas venham até ela. E agradeço a Deus por nos ter dado São José como nosso patrono, em cujas mãos coloco o nosso mosteiro e a nossa cidade. Agradeço a Deus e a São José por olharem por nós.”


Um obrigado especial à Fundação AIS

Durante todo este tempo de guerra, felizmente, o mosteiro não foi atingido. Por lá, tudo funciona com a normalidade possível num país e numa região em guerra. Mas as necessidades são imensas. “As pessoas precisam de comer, precisam de produtos de higiene, fraldas, detergente em pó... porque a comida ainda está acessível de uma forma ou de outra, mas falta tudo o resto em Kherson. No entanto, dou graças a Deus por tudo. Algumas coisas são fornecidas por voluntários: alguém doa alguma coisa e nós conseguimos distribuir um pouco. Por isso, agradeço a todos aqueles que têm um coração generoso e nos ajudam sempre. E agradeço a Deus porque Ele permite que as nossas mãos sejam as Suas mãos e porque Ele nos envia às pessoas que mais precisam. Por isso, agradeço a Deus.” E no meio de todos estes agradecimentos há ainda um lugar especial para a Fundação AIS. “Gostaria de agradecer especialmente à Fundação AIS por nos ter possibilitado comprar um carro. Um carro é indispensável na nossa acção pastoral, sobretudo nesta situação difícil.”

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