Por uma Igreja sinodal |
Sínodo
Para uma Igreja sinodal
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O Instrumentum laboris para a Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade é um instrumento que merece ser analisado e aprofundado. Anteriormente, apresentámos a metodologia proposta por aquele documento para a caminhada sinodal, presentemente vamos perscrutar o que significa ser Igreja que vive em dinâmica sinodal.

 

O primeiro ponto importante visa entender que a caminhada sinodal é uma oportunidade de aprofundamento do que significa ser Igreja. Di-lo com estas palavras o IL, recolhendo o testemunho de quem participou nas assembleias sinodais: «Para quem participa, o processo sinodal oferece uma oportunidade de encontro na fé que faz crescer o vínculo com o Senhor, a fraternidade entre as pessoas e o amor pela Igreja, não apenas ao nível individual, mas envolvendo e dinamizando toda a comunidade» (n.º 17). Como o Papa Francisco recorda, a Igreja que não confessa Cristo ou que perde a relação com Deus, torna-se uma ONG piedosa, mas deixa de ser a Igreja do Senhor. Por isso, a caminhada sinodal tem de estar ao serviço de um encontro cada vez mais vivo e autêntico com Deus, com o Cristo e o Seu Evangelho, para uma transformação radical, a que chamamos conversão. Esta redescoberta da identidade da própria Igreja a partir da experiência que o Espírito Santo suscita na comunidade cristã conduz àqueles que são os dois pontos que o IL elabora: por um lado, os traços de uma Igreja sinodal e, por outro lado, os passos a serem dados para uma Igreja sinodal fundada na manifestação do Espírito de Deus.

 

Quais são os traços de uma Igreja sinodal? O primeiro é a dignidade batismal de que participam todos os membros da Igreja. Com esta característica, somos convidados a recordar a doutrina do II Concílio do Vaticano, que traduz as intuições dos evangelhos e das cartas de Paulo, de forma particular. Diz o IL: «o Batismo cria uma verdadeira corresponsabilidade entre todos os membros da Igreja, que se manifesta na participação de todos, com os carismas de cada um, na missão da Igreja e na edificação da comunidade eclesial. Uma Igreja sinodal não pode ser entendida senão no horizonte da comunhão, que é sempre também uma missão de proclamar e encarnar o Evangelho em todas as dimensões da existência humana» (n.º 20). Numa Igreja verdadeiramente sinodal, cada um assume a sua vivência em Igreja, em todos os aspetos da vida humana. A Igreja não são só aqueles que exercem o ministério sagrado, mas todos, pelo batismo, pertencem à Igreja e são seus membros vivos. Esta consciência tem consequências para a vida eclesial: renovação das estruturas, atitude de escuta, humildade e penitência, procura do diálogo, torna-se uma casa aberta para todos, aprende a lidar com as tensões e feridas, entre outras. Tudo isto, funda uma verdadeira espiritualidade sinodal, em que a inquietação pela incompletude «não é um problema a ser resolvido, mas sim um dom a ser cultivado» (n.º 29), em que as questões que surgem são «uma tarefa para toda a comunidade, cuja vida relacional e sacramental é frequentemente a resposta imediata mais eficaz» (n.º 30), em que a voz da Igreja assume uma missão pelo mundo «no compromisso e na esperança de nos tornarmos uma Igreja cada vez mais capaz de tomar decisões proféticas que sejam fruto da orientação do Espírito» (n.º 31).

O processo sinodal tem deixado muito claro que o protagonista deste caminho é o Espírito Santo. Importa, por isso, escutar o que o Espírito diz à Igreja e, para isso, tem-se insistido sobre a necessidade de cultivar o método do diálogo espiritual. Segundo o IL, «o diálogo no Espírito foi “descoberto” como proporcionando a atmosfera que torna possível o partilhar das experiências de vida e o espaço para o discernimento numa Igreja sinodal» (n.º 34). Deste modo, «essa prática espiritual nos permite passar do “eu” para o “nós”: ela não perde de vista ou apaga a dimensão pessoal do “eu”, mas a reconhece e a insere na dimensão comunitária» (n.º 35). Assim, vemos como o construtor da comunidade eclesial, no seu todo, e o impulsionador da caminhada sinodal é sempre o Espírito Santo. Sem Ele, podíamos ter boas motivações e intenções, mas não construiríamos uma verdadeira Igreja. Seria sempre uma Torre de Babel religiosa, mas não a Igreja de Cristo. Como o IL propõe, o diálogo espiritual procede por três etapas fundamentais, intermediadas por momentos de oração e silêncio (n.º 37-39). A fecundidade deste método torna urgente uma formação séria para a sua aplicação nos diversos âmbitos da vida da Igreja. «A formação para o diálogo no Espírito é a formação para ser uma Igreja sinodal» (n.º 42).

 

A caminhada sinodal deve levar à tomada de decisões firmes no rumo da vida da Igreja. Ser Igreja verdadeiramente de Cristo, no mundo atual, é uma missão premente para todos os membros do Povo de Deus. Corre-se sempre o risco de cada um se querer ouvir sempre e só a si próprio. A caminhada sinodal vem indicar a necessidade de cada batizado, pelo facto de o ser, ter de assumir a missão de ser discípulo missionário e, também em função da vida batismal que radica o coração de cada um no Mistério Pascal de Jesus Cristo, assumir o Espírito Santo como protagonista da vida pessoal e da vida comunitária.

texto pelo Pe. Ricardo Figueiredo; foto por JMJ Lisboa 2023
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