Lisboa |
Missa no 75.º aniversário de D. Manuel Clemente
“Cristo primeiro e o resto depois”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, celebrou o 75.º aniversário natalício a 16 de julho e, no dia seguinte, os padres da diocese reuniram-se para dar graças a Deus, numa Eucaristia em Óbidos. “As coisas de Cristo fazem-se a partir de Cristo e só a partir de Cristo”, destacou o aniversariante aos “irmãos sacerdotes”, a quem “agradeceu muito” todo o trabalho pastoral.

 

“Agradeço muito ao Conselho Presbiteral esta oportunidade que temos de nos ver, comigo ainda em funções, e de toda a maneira agradecermos a Deus tudo quanto fizemos em conjunto, antes, durante e depois da minha presença na diocese como Patriarca. Tudo isto vem de Deus, o que é bom. É Ele a sua fonte e por isso volta para Deus, em ação de graças. Quero reiterar-vos a minha imensa gratidão pelo vosso trabalho, que eu tanto admiro, nessas várias frentes da vida apostólica, animando o povo de Deus e agora neste esforço conjunto para darmos não só à nossa diocese, mas às dioceses de Portugal e até ao mundo, sobretudo à sua juventude, uma oportunidade única como será a já iminente Jornada Mundial da Juventude”. Foi com estas palavras de agradecimento que D. Manuel Clemente iniciou a Missa, no dia 17 de julho, que assinalava os seus 75 anos de idade, cumpridos na véspera.

Na “tão bonita” igreja do Santuário do Senhor da Pedra, em Óbidos, “no coração do Oeste”, como frisou, e falando particularmente “aos meus caríssimos irmãos sacerdotes”, o Cardeal-Patriarca desafiou a “amar tudo e todos a partir de Cristo”. “Este é o fundamento daquilo que vier a seguir e o motivo da nossa conversão, a vida inteira. Aquilo que nós fazemos no nosso dia-a-dia, assim chamado pastoral, não é outra coisa senão evidenciar esta verdade: que Cristo é tudo e tudo a partir de Cristo. Porque também é Cristo que nos conduz ao Pai e é Cristo que nos remete aos outros, a partir de Cristo. Amar os outros, sim senhor, os familiares, os amigos todos, até os próprios inimigos como Ele nos ensina a amar, certamente, mas a partir d’Ele”, sublinhou, reforçando que este é “o trabalho de uma vida inteira”.

 

“A partir de Cristo”

Na presença de centenas de padres, que encheram o santuário “que nos leva até ao princípio do nosso Patriarcado – é do tempo do nosso primeiro Patriarca, D. Tomás de Almeida”, como sublinhou o atual Patriarca, D. Manuel Clemente deixou um convite a “seguir e prosseguir”. “Seguir em frente, mesmo que haja deserto, mesmo que haja opressões passadas, mesmo que encontremos opressões passadas ou futuras, seguir e prosseguir”, salientou, acentuando que “o ponto cristão” é que “as coisas de Cristo fazem-se a partir de Cristo e só a partir de Cristo”. “E vão muito além daquilo que seja a nossa previsão, as nossas boas intenções – porque não é propriamente o Céu que está cheio de boas intenções. Esta é a nossa vida, mas também é a nossa certeza. E uma certeza que nós vamos ganhando com o tempo e com a experiência”, acrescentou.

Na sua homilia, o Cardeal-Patriarca testemunhou que “partir de Deus” é “uma outra lógica” e, assim, “as coisas de Deus acontecem”. “Prosseguir com Cristo e a partir de Deus, e as coisas acontecem a partir de Deus. De uma maneira espantosa! É aqui, é agora, é na nossa vida: Cristo primeiro e o resto depois. Quero-vos agradecer muito e muitíssimo ter visto isto muitas, muitas, vezes, assim forma e figura nas vossas próprias vidas sacerdotais. Graças a Deus!”, terminou o aniversariante D. Manuel Clemente, que escutou, no final da celebração, mais de um minuto de aplausos, em tom de agradecimento, por parte dos muitos sacerdotes que não quiseram deixar de marcar presença e mostrar a sua comunhão ao Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

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“Muito obrigado pela vossa presença aqui, nesta celebração tão verdadeira. Somos um presbitério e o presbitério é assim: um corpo unido em Jesus Cristo para o serviço do seu povo. Muito obrigado por tantas e tantas provas e manifestações da vossa estima, da vossa amizade e sobretudo o estímulo que constantemente me dais a mim, ao senhor D. Joaquim e aos meus colegas bispos, para que a evangelização seja no mundo aquilo que deve ser: uma afirmação constante da primazia de Cristo e das coisas a partir de Cristo. Muito obrigado, muito obrigado sempre!”

D. Manuel Clemente, no final da Missa

 

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“Mostrou a vitalidade e o lugar da Igreja na sociedade contemporânea”

O pároco de Óbidos, em nome dos sacerdotes presentes, destacou o papel de D. Manuel Clemente como homem da cultura e da Igreja. “São sete décadas e meia marcadas pelo percurso académico, como historiador e professor, brilhante e reconhecido muito além dos limites da pertença eclesial. A cultura portuguesa e o significado e o sentido de ser português foram analisados por Vossa Eminência de forma excecional e são os próprios homens e mulheres da cultura que o reconhecem. Mostrou a vitalidade e o lugar da Igreja na sociedade contemporânea. Com Vossa Eminência a Igreja mostrou o seu lugar neste mundo e como a fé tem uma palavra a dizer hoje, palavra que mostra um horizonte novo e diferente, porque um horizonte de Deus e para Deus”, salientou o padre Ricardo Figueiredo, num discurso no final do almoço convívio, na Albergaria Josefa d’Óbidos, na festa dos 75 anos do Cardeal-Patriarca.

O sacerdote considerou ainda que este aniversário é marcado pela identificação de D. Manuel Clemente “com Cristo Bom Pastor”, e acentuou a palavra “comunhão”. “Foi esse caminho que Vossa Eminência fez connosco, sendo Pai e Pastor para os seus padres, procurando ser próximo e atento às nossas lutas e dificuldades, ajudando-nos a tudo ver de forma sobrenatural”, frisou o padre Ricardo Figueiredo, destacando como o pontificado do Cardeal-Patriarca ajudou “a viver apressadamente com a urgência da missão, mas não ansiosamente”. “Guardamo-lo no coração, mas não o queremos fechado. A Igreja e todos nós contamos muito consigo. Contamos que nos continue a iluminar com o seu olhar que compagina tradição e inovação, doutrina e prática, contemplação e missão. Parabéns, Senhor Patriarca, Deus guarde Vossa Eminência”, terminou o pároco de Óbidos.

 

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‘Geração 2023’ será “uma nova geração para a sociedade portuguesa”

O Cardeal-Patriarca garante que “nunca” se arrependeu de ter apresentado a candidatura de Lisboa à Jornada Mundial da Juventude e diz acreditar que o encontro com o Papa Francisco, de 1 a 6 de agosto próximo, será uma ocasião de aproximação da Igreja aos jovens e à sociedade. “Creio que sim, sobretudo de uma presença muito cativante e motivadora como é sempre a presença juvenil”, deseja D. Manuel Clemente, numa entrevista à Agência Ecclesia, por ocasião dos seus 75 anos. O Cardeal-Patriarca garante ter “a certeza” de que “esta experiência militante fica e será uma nova geração para a sociedade portuguesa”. “Este é um momento mais forte, mas esta experiência de militância, de tantos milhares de jovens, certamente vai criar uma geração, a ‘Geração 2023’, e isso vai-se notar nas décadas seguintes. Não tenho dúvida nenhuma”, afirmou.

Como “marcos” do seu pontificado de dez anos, D. Manuel Clemente destacou a celebração dos 300 anos da qualificação patriarcal da Diocese de Lisboa e o Sínodo Diocesano. “Creio que, na vida da Igreja, sobretudo assim no conjunto, tem de haver, de tempos a tempos, marcos, para utilizar o termo, que reúnam, congreguem, e também animem, reanimem isso mesmo que, depois, se faz no dia a dia”, explicou, considerando que “se cresceu” em termos de consciência da aplicação das propostas. “Refazer estas pertenças, estas vizinhanças, é um enorme desafio para a sociedade em geral, e se a Igreja puder contribuir também, com esta sua revitalização comunitária, certamente intercomunitária, hoje não será de outra forma, para que a sociedade se reencontre, será um bom contributo, outra vez”, sublinhou.

Sobre as expectativas para a Assembleia do Sínodo dos Bispos, em Roma, no mês de outubro, D. Manuel Clemente acredita que “alguma coisa resultará”. “Mas devo dizer que resultará se nós, antes, durante e depois, não só como Igreja, mas também como sociedade, nos reencontrarmos também. Porque não há sinodalidade sem nos encontrarmos. Sínodo significa um caminho que se faz em conjunto, mas qual conjunto? Estarmos ali um mês a falar, os que lá estiverem, ou encontrar-se, eventualmente, onde estivermos? Não dá, a prioridade pastoral da Igreja do nosso tempo é refazer a sua dimensão comunitária”, alerta.

Nesta entrevista, D. Manuel Clemente lembra que “a Diocese de Lisboa está num estado em que precisa, digamos assim, de ser recomposta na sua equipa episcopal” e que este processo “está absolutamente nas mãos do Santo Padre”. Questionado se depois da JMJ, o início do ano pastoral seria ocasião dessa reconfiguração episcopal, considera que “sim”. “Acho que ficava bem ‘ano novo, vida nova’, também em termos pastorais. Por isso, era uma boa altura de recomeçar, também sem demorar muito. O rescaldo da Jornada será, certamente, muito grande, em termos de envolvimento das pessoas, de projetos, de sonhos, mas é preciso que haja um centro que faça isso mesmo, que centralize tudo e o leve por diante, em colaboração com o clero e com os fiéis que militam na nossa diocese e que, graças a Deus, são muitos. É preciso que haja uma orientação, não se pode ficar um ano à espera daquilo que tem de começar imediatamente”, sublinha, revelando ainda que o seu pedido de renúncia foi feito “depois do falecimento do senhor D. Daniel [Henriques]”, o Bispo Auxiliar de Lisboa que faleceu em novembro do ano passado.

 

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Fotografias da celebração dos 75 anos de D. Manuel Clemente


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