Lisboa |
Ordenações Presbiterais, nos Jerónimos
Uma Igreja que se renova
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Três novos padres para o Patriarcado de Lisboa. Neste Domingo, dia 2 de julho, às 16h00, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, vai presidir à celebração das Ordenações Presbiterais, que vai ter lugar na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos. Os diáconos Hélio Soares, Miguel Teixeira Duarte e Nuno Vicente, todos alunos do 6.º ano do Seminário Maior de Cristo-Rei dos Olivais, vão ser ordenados padre no ano em que o Patriarcado recebe a JMJ Lisboa 2023.

 

“Conquistar pessoas para Jesus”

Hélio Soares, 25 anos

Queria ser astrofísico e trabalhar no ramo da Física, mas o chamamento de Deus falou mais alto. O diácono Hélio Soares, de 25 anos, é natural de Luanda, em Angola, e chegou a Portugal com 6 anos. Toda a catequese foi feita na paróquia de Monte Abraão. “Foi um percurso relativamente normal. A minha mãe inscreveu-me na catequese logo quando chegámos a Portugal e muitos dos meus colegas da escola eram também os meus colegas da catequese. Isso foi muito agradável e fui ganhando gosto por andar na catequese”, conta este jovem ordinando, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Nesta paróquia da Vigararia da Amadora, a partir do 7.º volume da catequese “todos os grupos se juntam”, formando um só. “Éramos cerca de 50! Muitos eram amigos de infância, e fomos fazendo caminho em conjunto, crescendo em amizade e na descoberta de Jesus”, frisa.

Antes ainda, em 2010, quando Hélio tinha 12 anos, o Pré-Seminário de Lisboa visitou a sua paróquia. “No fim, surge o convite para ir fazer caminho com eles. Um amigo andava lá, mas não estive para aí virado”, diz. Três anos mais tarde, a paróquia de Monte Abraão recebe seminaristas em ano pastoral. “Inquietou-me muito. Estava no 10.º ano, a projetar o curso na faculdade. Queria ser astrofísico e trabalhar no ramo da Física, e aqueles rapazes diante de mim também tinham sonhos e deixaram as suas vidas por Cristo. Eles desafiaram-me para uma realidade mais abrangente da vida, para um olhar mais unitário sobre a vida, do chamamento de Jesus”, recorda, não esquecendo a pertença aos Jovens Sem Fronteiras, da família Espiritana. “A inquietação vocacional, pelo menos para a vida missionária, foi ficando muito presente”, considera.

Nessa altura, falou “muito” com o pároco, o padre Abel, que o acompanhava “mais diretamente” e “sempre com o coração de pastor”, a “ajudar a discernir a vocação”, e com o padre Miguel Ribeiro, espiritano, “que é o último padre ordenado de Monte Abraão”. No primeiro ano da faculdade, em 2015, foi a um encontro do Pré-Seminário, onde encontrou “alguns” dos seus amigos, e passou a ser acompanhado pelo padre Filipe Santos. “Fui descobrindo que a Física era ótima, mas que Jesus tinha planos para mim”, observa. “Foi crescendo no meu coração não só a inquietação, mas o próprio discernimento e tomada de decisão para entrar para o seminário”, acrescenta, lembrando que, “em casa, foi muito difícil”. “Foi assim um choque para os meus pais”, assume.

A entrada no seminário foi a 5 de setembro de 2016, esteve um ano em Caparide e seis nos Olivais. “Uma imagem que me tem vindo ao coração, nestes últimos tempos, é a de um foguetão. No seminário vamos com muito ímpeto – e de facto um foguetão quando está a levantar voo faz muito barulho e faz tremer a terra à volta e no fim fica só o essencial, fica só uma cápsula. Foi muito isso que o seminário fez: foi trazendo ao de cima o melhor de nós, trazendo o essencial e pondo-nos a pensar no essencial”, explica Hélio, que, para o ministério, tem a expectativa de “querer ser um padre à imagem de Jesus”. “Quero ser um guia na vida de tantos que estão à beira do caminho, auxiliá-los e conquistar pessoas para Jesus”, deseja.

 

Ser ordenado padre no ano da JMJ Lisboa 2023

“No ano em que entrei no seminário, fui às Jornadas de Cracóvia, em 2016, e lembro-me das palavras do Papa Francisco. Poder ser ordenado em ano de JMJ em Lisboa tem um significado ainda maior no sentido de confirmar a fé e a vocação na juventude, que são aqueles em quem Deus põe um carinho especial. O Papa Francisco tem trazido muito a juventude no seu coração, chamando-os a sonhar um mundo novo, para gente nova. É essa a minha expectativa para a Jornada, que seja uma altura de renovação da própria Igreja, de renovação da própria juventude, que nos ponham novamente a sonhar e em marcha na realização desse sonho missionário de chegar a todos.”

 

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“Poder levar Jesus aos outros”

Miguel Teixeira Duarte, 27 anos

Em pequeno, quis ser tratador de golfinhos, depois fez dois anos de Economia, mas agora quer “ser o padre que Jesus e a Igreja querem e precisam”. O diácono Miguel Teixeira Duarte, de 27 anos, é o sétimo de oito irmãos e cresceu numa família tradicional cristã, que vive em Paço d’Arcos. Fez a catequese nos Salesianos do Estoril, escola que frequentou dos quatro anos de idade até ao 9.º ano, e depois mudou para o Colégio de São Tomás, onde fez o liceu, tendo sido crismado na Igreja da Encarnação, na cidade de Lisboa. A paróquia de referência é Oeiras, onde em pequeno ia à Missa e onde foi acólito “durante muitos anos”. “A família acabou por ser bastante marcante, porque trouxe a fé e as coisas da fé para o dia-a-dia”, reconhece Miguel, ao Jornal VOZ DA VERDADE, destacando igualmente a importância dos Campos de Férias Católicos “com os Jesuítas”, os Gambozinos e o Camtil, quando tinha entre os 13 e os 16 anos. “Acabaram por me marcar imenso a nível de formação cristã”, diz, garantindo que “nunca” teve “a ideia de ser padre”. “Fui convidado para ir para o Pré-Seminário, no 8.º ano, e fui com o meu primo Zé. Até fui a mais alguns encontros, mas ocupava muito os fins-de-semana que eram muito intensos em família, porque íamos para a casa de uns avós ao sábado e para a casa dos outros avós ao Domingo. O Pré-Seminário tirava-me essa vida com meus primos”, recorda.

As primeiras inquietações vocacionais surgiram na Universidade Católica, onde esteve dois anos a tirar Gestão e Economia, entre 2014 e 2016. “Fiz a Missão País e foi muito importante porque aí experimentei o encontro com Jesus como uma coisa pessoal. Eu posso falar-Lhe e falar-Lhe pessoalmente. Isso transformou a minha vivência dos sacramentos”, garante, lembrando que começou então a fazer “a experiência de direção espiritual” e também “de Missa diária” na UCP. “Com o crescimento na oração, a figura do sacerdote fez nascer em mim uma vontade de levar mais Jesus aos outros, tanto pelo lado razoável da nossa fé, como pelo lado de relação pessoal com Jesus. Isso começou-me a atrair muito”, assegura.

Em 2016, toma a decisão de entrar no seminário. “Os meus pais não reagiram muito bem, porque gostavam que eu tivesse tomado esta decisão com eles. O curso estava a correr bem, estava a fazer estágio numa consultora, mas o segundo ano de faculdade foi muito confuso para mim, porque tanto queria ser padre, como queria namorar, casar e ter filhos. Na altura, falei com o padre Mário, de São Nicolau, que me pôs imensas questões e me ajudou a discernir bem”, recorda Miguel Teixeira Duarte. “A minha vontade de entrar no seminário era tão grande e dou graças a Deus por ter entrado. Quando contei aos meus irmãos, foi uma reação muito feliz e muito entusiasta e isso acabou por contagiar os meus pais, tal como o caminho de seminário e o verem que eu estava bem e feliz”, acrescenta.

Os sete anos de seminário foram “um tempo muito bom”, de “muito crescimento”, de “cruzamento com muitas outras realidades”. “Uma coisa que me marcou muito nestes anos foi o saber que Deus me acompanha”, garante Miguel, que tem a expectativa, após a ordenação sacerdotal, de “poder levar Jesus aos outros”. “Vou tentar ser o padre que Jesus e a Igreja querem e precisam. Poder oferecer Jesus aos outros principalmente nos sacramentos, nos sacramentos da confissão e da Eucaristia que me marcaram na altura da faculdade”, ambiciona o futuro padre.

 

Ser ordenado padre no ano da JMJ Lisboa 2023

“Fui à JMJ de Madrid, em 2011, que foi a minha única Jornada e foi importante para mim. Este ano e este verão vão ser importantes para a Igreja em Lisboa, e sinto que vai haver um pós-verão 2023 de mudança na nossa diocese. Ser ordenado no ano da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa é um bocadinho ser ordenado para o aberto, confiante em Jesus. É para o que Ele quiser e não para as minhas ideias.”

 

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“Falar de Deus aos homens e dos homens a Deus”

Nuno Vicente, 39 anos

Aos 28 anos, Nuno Vicente atingiu o topo da carreira, em Farmácia. Onze anos depois, com 39 anos, deixou tudo e vai ser ordenado sacerdote. Nuno nasceu numa “família católica não praticante”, com uma irmã mais nova cinco anos, e sempre viveu com os pais até ir para o seminário. “Não fui batizado em bebé, devido a circunstâncias familiares, e não fui à catequese, embora fosse privando com algum ambiente de fé, na reverência a Deus e nas orações”, resume o diácono Nuno Vicente, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Tinha amigos que iam à catequese e faziam parte do grupo de acólitos e diz que se sentia “seduzido e atraído” por “esse mundo”. Com a entrada na faculdade, aproximou-se mais da Igreja, sobretudo através do voluntariado nas festas da terra. Farmacêutico de formação, trabalhou nove anos numa farmácia em Montelavar, a dez minutos da sua terra, São João das Lampas. “Durante o curso, fui-me aproximando mais do ambiente paroquial, do próprio pároco da altura, o padre Nuno Miguéis, e fui construindo um grupo de amigos mais próximo da paróquia”, diz. Começou a ir à Missa “de vez em quando”, mas com a saída do pároco “houve um tempo” em que não teve ligação à paróquia. Com a chegada do padre Alberto Oliveira, tinha Nuno 28 anos, regressou o “envolvimento” e o desejo de ser batizado. “O meu pároco nem queria acreditar que não era batizado!”, partilha. Na vigília pascal de 2013, Nuno recebe os sacramentos da iniciação cristã e, a partir daí, começa a ter “uma presença sacramentalmente ativa na paróquia”, a ser leitor e a integrar vários grupos paroquiais. No ano seguinte, vai com o pároco à Madeira, para o batizado de uns amigos, e as pessoas na ilha pensam que ele era padre. Algo que o “inquietou”. Quando regressa, vai a Fátima, sozinho. “Na Missa na Capelinha, o padre começa a homilia dizendo: ‘Porque é que Deus chamou o Nuno, o João…’ e mais um ou dois – eram os padres novos de Braga que estavam a celebrar naquele dia. Confesso que ainda vim pior”, conta, lembrando que “profissionalmente estava muito bem, humanamente e economicamente também”. “Estava na vida perfeita”, considera. Em setembro de 2014, o pároco aconselha-o “a rezar” a vocação. “Eu não queria, mas a ideia não saía do meu coração”, assume. Em novembro de 2015, “tudo volta novamente ao de cima” e em fevereiro participa no retiro de Quaresma do Pré-Seminário. “O padre Filipe Santos propôs-me direção espiritual, fui a mais um encontro e a 18 de maio ele faz-me a proposta para entrar no seminário”. “Foi muito difícil aos meus pais compreenderem. Foi um choque e durante uns dias viveram em negação”, recorda. O tempo de seminário foi um “partir à descoberta, o deixar tudo para trás”. “Entrei com 32 anos, quando aparentemente já somos homens feitos. Mas não, foi um percurso total de descoberta, de dar muitas graças a Deus pelo que fui vivendo, pelo que fui ultrapassando, transformando. Foram sete anos também para conhecer o que é verdadeiramente a Igreja, o que é a vida de oração, a vivência sacramental”, considera Nuno, garantindo “não ter” um ‘programa’ para o ministério: “A grande linha orientadora é falar de Deus aos homens e falar dos homens a Deus. Ser esta construção de pontes entre os homens e Deus, numa sociedade que está em mudança e transformação. Sermos rosto de Cristo neste mundo é fundamental”.

 

Ser ordenado padre no ano da JMJ Lisboa 2023

“Nunca participei numa Jornada Mundial da Juventude, pelo que a de Lisboa vai ser a minha primeira! Estou numa grande expectativa e com curiosidade sobre o que é viver a JMJ. Guardei muito uma imagem na JMJ do Rio de Janeiro, em 2013, porque tinha sido batizado há pouco tempo e coincidiu com o início do pontificado do Papa Francisco, com aquele banho de multidão na praia de Copacabana. É um sinal para o mundo, e esta aglomeração de massas, a deslocação de peregrinos que vêm do outro canto do mundo até o nosso país, para estar com o Papa e com outros jovens, é sinal de que Cristo está vivo no meio de nós.”

 

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Missas Novas

 

Padre Hélio Soares

8 de julho, 16h00

Monte Abraão

 

Padre Miguel Teixeira Duarte

15 de julho, 17h00

Igreja Matriz de Oeiras

 

Padre Nuno Vicente

9 de julho, 16h00

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