Família |
Ajuda de Berço
“Filho, eis a tua Mãe!”
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No mês de Maio, mês de Maria, mãe de Jesus e nossa Mãe, quisemos dar um olhar diferente sobre a Maternidade e sobre o ‘Sim’ de Maria.

 

“Filho, eis a tua Mãe!” – diz Jesus a João, com Maria aos pés da cruz. E a partir desse momento, temos Mãe. Para sempre! E experimentamos essa Maternidade ao longo da vida. Eu experimento. Sobretudo como mãe. Tive quatro filhos e com cada um deles me socorri do modelo da Mãe do Céu. Porque a tarefa é tão desafiante e exigente. E eu me senti e me sinto por vezes tão frágil e pequena perante esta responsabilidade tão grande.

Na gravidez da nossa terceira filha apanhámos um susto nas primeiras semanas de gestação. Não sabendo que estava grávida, fiz uma tomografia de controlo de um problema pulmonar. A médica que então me seguia queria que eu abortasse, pois podia estar a gerar “um monstro sem pernas, sem braços, sem cérebro, etc.”, como ela o descreveu. Perante a minha recusa, não reagiu bem. No dia seguinte, eu e o meu marido fomos a Fátima entregar o nosso bebé nas mãos de Nossa Senhora. Confesso que o entreguei no meio de lágrimas, mas com muita confiança de que estávamos no sítio certo e que Ela nos ampararia no Seu regaço de Mãe e nos daria a força e a coragem para tudo o que viesse. E assim foi.

Por vezes penso que fui poupada a tanta coisa que poderia ter acontecido. Só Deus conhece a nossa capacidade de resistência.

A nossa filha nasceu esplêndida, saudável. E a mão de Nossa Senhora está sempre a segurá-la e a livrá-la de desastres, pois foi a criança que mais quedas deu, perigosíssimas, sem consequências…

Um dia uma amiga nossa teve um grande desastre de carro com os filhos. Ela não teve nada, mas as crianças ficaram internadas no hospital. Quando os visitei, ela foi-me contando os casos que ia observando por ali. E mostrou-me alguns. Um bebé lindo num carrinho no meio do corredor dos quartos. Era cego, surdo e mudo. Foi abandonado no hospital e estava ali no meio do corredor durante o dia para que as enfermeiras e o pessoal, ao passar por ele, no meio da azáfama do atendimento aos doentes, pudessem dar-lhe festinhas, beijinhos. Outra criança com três anos andava por ali, tinha sido abandonada no hospital e ainda ali continuava à procura da atenção dos adultos.

Fiquei absolutamente consternada com tudo isto. Só pensava que tinha de fazer alguma coisa, que era preciso resposta para estes casos. Estávamos na altura do 1º referendo do aborto. Eu, o meu marido e algumas pessoas amigas, com a preocupação de encontrar uma resposta concreta ao problema do aborto, dando uma alternativa para as mães que não queriam ou não podiam ficar com os seus bebés, e para casos como os que descrevi em cima, fundámos a Ajuda de Berço. Um centro de acolhimento para bebés e crianças em situação de abandono e/ou de risco.

Ainda estávamos nos primeiros passos deste projeto quando fui desafiada a acolher uma criança de dois anos e meio com surdez profunda e atraso cognitivo. Ficava connosco aos fins de semana e nas férias. Eu tinha 3 filhas pequenas. Nem sei como me meti nesta “embrulhada”, pois tinha de cuidar desta menina que mal andava, mal comia e mal comunicava. A minha filha mais nova só tinha dois anos e ficou cheia de ciúmes! Mas lá conseguimos. Esteve connosco 5 anos e nesse tempo que dividia connosco e com a instituição que a acolhia, desenvolveu-se muito, aprendendo a comer de tudo, a andar melhor, a comunicar por gestos, a brincar. Mas sobretudo sentiu o que é uma família, o que é o afeto na família. No final destes cinco anos, tive o meu quarto filho, um rapaz.

A experiência da maternidade é, para mim, o que mais me faz entender o incomensurável amor de Deus por nós. Incondicional. Ama-nos apesar das nossas fraquezas, infidelidades, limitações, etc. Assim foi com os nossos pais connosco e assim é com os nossos filhos. Amamo-los sempre. Intuímo-los.

Há uma cena no filme “A Paixão” do Mel Gibson em que Nossa Senhora está a limpar o sangue de Jesus no chão, depois da flagelação. Jesus está no piso por baixo. A Mãe está a limpar e às tantas pára, encosta o ouvido ao chão porque O sente. E Jesus olha para cima e sente-A. Sabe que está ali a Mãe. Ela sabe que está ali o Filho. Aquela comunicação quase telepática é uma das cenas mais especiais entre Nossa Senhora e Jesus neste filme (e há tantas outras maravilhosas!) porque representa bem a ligação umbilical entre mães e filhos.

Esta Mãe que Jesus nos oferece e que estende esta empatia, este cordão a todos os filhos do mundo. Ama-nos tão infinitamente e ensina-nos a estender este amor aos filhos que não são do sangue. São do coração. E assim testemunho todos os dias que isto é possível. O amor, o afeto, não se esgota, é infinito. Não há uma porção, abunda. E estas crianças precisam dele.

Actualmente, na Ajuda de Berço acolhemos crianças de várias idades, algumas com problemas sérios de saúde, com patologias várias. Vivem connosco o tempo necessário para que as suas famílias se consigam organizar, reestruturar, para as receber. Algumas não têm família para voltar, mas terão outra de adopção.

Estas crianças chegam até nós muitas vezes tão fragilizadas, assustadas, revoltadas, inseguras. Até porque uma instituição não é o seu “ninho”. Mas o trabalho que temos pela frente, o grande desafio é que aqui encontrem o “ninho”, o colo, o “porto de abrigo” que necessitam para se acalmarem e confiarem. Até que se defina o seu futuro, o seu projeto de vida.

Mas é preciso amá-las. Muito. Incondicionalmente. Como a Mãe nos ama. E como, com o Seu exemplo, podemos fazer. Se quisermos. Todos os dias, repito, o testemunho: tantas “mães” a atender e a cuidar destes “filhos” que não são seus. E que se preocupam, mesmo quando vão para casa, para as suas famílias, ainda pensam nestes. Um dia telefona-me uma colaboradora já a chegar a sua casa e diz-me: – “O Manel também gostava de um pijama de super-herói igual ao do Pedro. Consegue-me arranjar para amanhã?”. Foi para casa, mas na sua cabeça a matutar no que deixou para trás, ou seja, no seu coração. Era um pijama, mas podia ser outra coisa mais séria. Não esqueceu, não desligou, porque o amor não desliga.

Nós, que estamos ao leme deste barco, desta casa de acolhimento, queremos que ele vá sempre para bom porto. Que os que leva cheguem seguros, confiantes. Que quem cuida, cuide bem. Acolha bem. Ame bem. Porque estes “filhos” não nos saem do pensamento, como os nossos próprios filhos. As noites que são passadas a rever os assuntos, os problemas, sem se conseguir “pregar olho”.

Podem ser já adultos, independentes, mas estamos sempre a acompanhá-los, mesmo aos pés da cruz. Como Maria. “Mulher, eis o Teu filho!”

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